Não há dúvida de que a beleza está nos olhos de quem a vê. Por causa da sua grande relatividade, a beleza adopta diferentes formas e padrões ao longo das diversas culturas do mundo.
Com as suas diferentes etnias e infinitas práticas culturais, África, berço de tudo, tem territórios relativamente desconhecidos e inexplorados, como é o caso do Vale do Omo, na Etiópia, região onde habitam muitas tribos, entre elas, a tribo dos Mursi. Calcula-se que esta tribo seja formada por, aproximadamente, 9.000 pessoas. O dialeto falado é o Mursi, que pertence às línguas Nilo-saarianas. É um povo nómada, criador de gado e de religião animista. O símbolo de identidade étnica dele são os discos labiais, unicamente usados pelas mulheres.
Os discos labiais (ou “dhebi a tugoin”, em dialeto Mursi) são uma forma de modificação do corpo. Geralmente, são de madeira, ou de argila e são inseridos numa perfuração que, nos Mursi, está localizada no lábio inferior. O uso destes acessórios na maioria das vezes implica a remoção dos dois dentes inferiores da frente, ou, em alguns casos, dos quatro dentes inferiores da frente.
Quando as meninas têm entre 15 a 18 anos de idade, o seu lábio inferior é perfurado pela mãe e por outras mulheres da família. A perfuração inicial é feita com um corte que mede 1 a 2 centímetros e nele insere-se uma estaca de madeira. Quando a ferida cicatriza, a estaca é substituída por uma outra um pouco mais grossa e assim sucessivamente, até que se obtém um corte com diâmetro de aproximadamente 4 cm. Alcançado este tamanho, é inserido o primeiro disco labial. Durante este processo, tem-se muito cuidado com a dilatação do lábio, pois, se este romper com a distensão, a mulher não será considerada apta para casar. Como é à mulher quem cabe a decisão de quanto quer aumentar o disco labial, é possível encontrar mulheres cujo disco tem um diâmetro final de 8 cm e outras onde este alcança os 20 cm. Unicamente quando fica viúva, é que poderá deixar de usar o disco. Todas as mulheres fazem o seu próprio disco labial e é comum fazerem algumas ornamentações nele.
Há controvérsias sobre os porquês destas perfurações nos lábios, chegando a supor-se que o tamanho da placa de lábio está correlacionado com o tamanho do dote de casamento. Outra ideia comum é que esta prática tem origem numa desfiguração assimilada há muitos séculos pela tribo, para tornar os elementos femininos menos atraentes para os traficantes de escravos. Seja qual for o porquê, não há dúvidas de que os discos labiais possuem um alto valor para esta pequena sociedade africana e são um símbolo de feminilidade e de beleza. No entanto, estas mesmas placas podem ser encaradas pela nossa cultura como uma fonte de estigma e de opressão perante o sexo feminino, já que a modificação labial faz com que tenham dificuldades na fala e em realizar funções de necessidade básica, como comer e beber.
Apesar disso, para as mulheres desta tribo, estas alterações corporais são uma fonte de validação social e de auto-estima. Estes discos representam, para além de beleza, a transição para a vida adulta, simbolizando o começo de uma nova vida social e o começo da vida reprodutiva, que tão importante é para a tribo. Actualmente, sabe-se que as meninas Mursi podem decidir se querem seguir, ou não esta antiga tradição.
Existem, no mundo, outras culturas que também fazem uso do disco labial. É o caso dos homens das tribos Suya e Kayapó, no Brasil, das mulheres e dos homens da tribo Botocudo, também no Brasil, das mulheres Sara, no Chade (que deixaram de usar este acessório em 1920), os Makonde, na Tanzânia e em Moçambique, para além, claro, dos Inuit e de outros povos no norte do Canadá e no Alasca.
Muito interesante. Felicidades María!
Muito obrigada!! 🙂 🙂
Nossa, 20 centimetros!!!!!!!!!!
De verdade, eu acho que essas “pressões sociais” transmitidas dentro do entorno familiar como forma de tradições e tal, ainda uma forma de “machismo disimulado”. Não sei, sempre acho que às vezes achamos algo bonito, porque nos ensinaram que era bonito e que uma pessoa só seria seria socialmente aceitada se estivesse adaptada ao “gosto estético maioritário do meio”. Realmente, uma matéria muito ilustrativa,no entando, ao meu modo de ver “ainda” inquietante a escravidão aos “standars” estéticos …oriundos sejam, de onde sejam!!!
Obrigada pelo teu comentário Bobbie!
Com certeza, a escravidao aos standards estéticos (os que há no pelo mundo em geral, em todas as culturas, bem seja estas mulheres Mursi, as mulheres chinesas e os pés de lótus, as modelos magrelas das passarelas das Fashion Week, e tantos outros exemplos) é um pouco inquietante. Penso que acabam sendo padroes marcados pela sociedade em questao deixando um pouco de lado e até mesmo marginalizando o que o indivíduo acha “bonito”. Por isso mesmo, a beleza é algo muito relativo, é algo ensinado pela sociedade, pelas culturas e tradiçoes, algo que também segundo as épocas vai mudando e marcando “novas tendências”, tudo isto, só me faz pensar, que para o ser humano a beleza é muito importante ( isto desde sempre na história, tanto como hoje em día como faz séculos em civilizaçoes como gregos, egípcios, aztecas, etc.), sem dúvidas, acho que no geral, o ser humano é um ser vaidoso.
Rescatando esencias de culturas tan lejanas y desconocidas para tierras latinoaméricanas…tiene un valor especial
Gracias por compartir!!!
Mil gracias León!! un fuerte abrazo!!!