O assunto não merece estar na ordem do dia. Educação, a palavra essencial, retirava tempos longos de desagrado, angústia, revolta. No nosso caso, homens, retirava ainda a sensação de inutilidade. Inúteis, sim, porque não podemos assumir o “sim, eu entendo” como verdade universal. A este nível, no panorama que enfrentamos, não é possível entender como o assédio maltrata as mulheres.
Com isto dispenso palavras para uma situação óbvia: existem homens vítimas de assédio diariamente, mas longe, muito longe, dos números, da frequência e da intensidade a que as mulheres estão sujeitas. De assobio para piropo, de apalpão para palavras grosseiras a menores de idade, assim vai a sociedade, a “nossa” noção da relação entre homem e mulher. Nada disto é novo, aliás, não passa de um acto consequente. O salto da clandestinidade para a ordem do dia é devido a mulheres corajosas e conscientes do seu lugar (e de todos) na sociedade. Estas mulheres e outros homens, do lado certo da barricada e conscientes que a situação assenta num dos últimos acessos de poder perante a mulher, demonstrados anteriormente através de deveres morais, sabem que esta é uma das últimas barreiras a ultrapassar. Nada mais directo ou claro, nem por isso mais fácil de executar.
O presente acaba por ser duro e necessitado de luta em diversos campos. Também, por isso, me preocupa o futuro. Não quero (penso, ninguém quer) futuros homens, em idades avançadas e de outras preocupações, com conversas impróprias para crianças. Não quero ler jovens indignadas pelo constante assédio em rotinas diárias. Não quero ouvir o “nosso futuro” assumir normalidade perante casos de violência doméstica. A educação, por estes e outros numerosos casos, é essencial. Não apenas nas escolas, onde seria bem interessante verificar o reforço e o redireccionamento de alguns programas pedagógicos com base nos direitos humanos e de género. Em casa, no calor de uma família, está presente outro alicerce indispensável para o futuro. Não é uma questão de respeito tradicional, mascarado de patriarcalismo e subserviência. Trata-se de um respeito humanista e do mais primário que podemos alcançar. Por mais primário que seja, parece uma tarefa hercúlea para uma sociedade ocidental.