Se existe povo curioso, certamente é o português. Também sofro desse mal, não fosse eu formada na área da Comunicação. A curiosidade é natural e é bem-vinda pela nossa saúde mental. Porém, tal como o amor é muito próximo do ódio, a curiosidade é muito próxima da intromissão. Nos dias de hoje, o mais certo é a pessoa conhecida com que te cruzares na rua perguntar-te, depois de um “olá” e um sorriso desafiador, “trabalhas?” Eu, que não vivi outro tempo, só posso falar do meu. Presumo que antes fosse mais do género: “onde trabalhas?”. Claro, sem esquecer o velho clichê: “quando casas?”.
A intenção deste artigo não é radicar este hábito tão português de querer saber tudo sobre a vida dos outros. Longe disso. Faz parte do nosso ADN. São estas pequenas intromissões subtis que tornam os latinos num povo hospitaleiro. Porém, às vezes, é aconselhável, as pessoas conterem-se mais uns minutos. É que pelo menos não parecem tão óbvias e pior – intrometidas.
Dá a impressão que a crise trouxe consigo a selecção, perante a sociedade, dos que trabalham, por um lado, e dos que não trabalham, por outro. Por vezes, penso que seria mais fácil se tivéssemos escrito na testa “tenho emprego”, ou “estou desempregado”. Ao menos, pulava-se esta fase do diálogo e evitava-se ouvir expressões tão batidas como “isto está mal”, ou “não há trabalho”. Acredita, ouvir isto todos os dias, é cansativo.
As pessoas até nem perguntam por mal. Eu sei. No entanto, para quem está sem trabalho há algum tempo é uma questão dolorosa. Aliás, já estás à espera que te perguntem (mais uma vez): “trabalhas?”. É raro o dia em que isso não aconteça. Comparo a um martelo que está sempre a bater-te na nuca: “emprego, emprego, emprego, emprego”.
Para aquelas pessoas mais frágeis pode até ser um hábito perigoso. O último empurrão para o isolamento e consequente depressão. É uma realidade com que coabitam todos os dias e o facto de a sociedade, em geral, estar sempre a massacrar com perguntas não ajuda, muito pelo contrário. Não digo para as pessoas deixaram de perguntar, porque no fundo, na grande maioria das vezes, é sinal que se preocupam. Digo, sim, para terem mais cuidado com a forma como o fazem. Se ainda há uma semana o fizeram, para quê voltar a perguntar o mesmo?
Já observei situações como a de perguntarem sem antes dizerem um simples “olá”, ou um mero “tudo bem?” Como pessoa integrante da sociedade, penso que é bem mais educado preparar antes o terreno do que lançar de imediato a farpa. Com essa atitude, corre-se o risco de não receber do outro lado a resposta pretendida. Quem está no desemprego o que mais precisa é de motivação e de muita energia positiva. Um povo mais confiante é certamente um povo mais feliz. Pensa nisso.
Outra pergunta frequente que muitos portugueses adoram perguntar é “então ainda namoras com…?” ou “ainda estás junto com…?”. A coscuvilhice está-nos nas veias.