“Quando você gosta, é vintage, quando você não gosta, é velho”, Dona Clara, personagem principal do filme.
A história do filme, em geral, foi classificada por muitos como monótona, contraditória e cansativa (2h46 min). Efetivamente, “Aquarius” pode ter uma narrativa lenta e perder-se em minúcias desnecessárias, com o enredo a retratar a luta de Clara, uma jornalista reformada, vítima de cancro de mama e que mora de frente para o mar num prédio antigo, na praia da Boa Viagem, no Recife.
Um prédio cobiçado por uma construtora que recorre a todos os meios para que Clara venda o seu apartamento, assim como outros moradores do edifício já fizeram. Contudo, Clara resiste, não se deixa intimidar e vence a mensagem do “politicamente correto”, da defesa dos oprimidos contra os poderosos.
“Aquarius” não foi sequer o filme da candidatura brasileira aos Óscares em 2016, ainda que tenha sido nomeado para o Festival de Cannes.
A banda sonora foi elogiada. O filme traz-nos alguns dos melhores intérpretes da MPB, entre os quais estão Maria Bethânia, Chico Buarque, Roberto Carlos e Taiguara.
Ainda assim e dadas as circunstâncias políticas aquando da estreia do filme, “Aquarius” parece ser uma tentativa falhada de um filme de resistência política, demasiado enviesado para ser classificado como tal.
Aquarius, o prédio, é salvo da demolição por Dona Clara e “Aquarius”, o filme, é salvo pela brilhante interpretação de Sónia Braga. De facto, é impossível escrever sobre o filme sem pensar em Sónia Braga. O desempenho da atriz talvez seja a maior motivação para se ver este filme. O próprio diretor, Kleber Mendonça Filho, disse que houve uma combinação fantástica de várias coisas, a atriz esteve emocional, pessoal, política e sexualmente entregue durante o filme.
A estrela maior do cinema brasileiro nos anos 80 andava esquecida e o seu resgate é uma homenagem a tudo o que fez pelo cinema do seu país. Sónia Braga entrega-se a uma das maiores atuações da sua carreira, fruto de uma complexidade emocional e ética impressionantes. Transforma Dona Clara numa personagem fascinante que, além de possibilitar a explosão do talento da atriz, traz ao de cima um papel feminino muito intenso de uma mulher viúva, reformada e que não depende da ajuda de homens para seguir em frente. Dona Clara é a liberdade de dizer não.
Com a sua performance no filme, Sónia Braga venceu os prémios de atuação feminina em diversos festivais de cinema pelo mundo, entre eles, o Festival Biarritz Amérique Latine, em França, o Festival de Cinema de Lima, no Peru, e foi eleita a melhor atriz pelos críticos de San Diego, ultrapassando atrizes como Emma Stone, Annette Bening e Natalie Portman.