Os “Um Corpo Estranho” nasceram de um duo de amigos que não se importou de sair da sua zona de conforto musical. João e Pedro quiseram arriscar novas sonoridades e agradar não só ao público, mas, sobretudo, a eles mesmos. Mantendo a sua humildade de “miúdos”, procuram crescer como pessoas e como músicos, à medida que compõe cada canção. Com muito ainda por mostrar, falaram-nos de projectos passados e planos futuros, onde se inclui o novo álbum “De Não ter Tempo”.
Deduzindo que são amigos há bastante tempo, como surgiu a ideia de investirem num projecto apenas com dois elementos?
João Mota: A ideia para este projecto começou no Pedro. Ele tinha alguns temas guardados na gaveta e ligou-me para o ajudar a dar-lhes vida.
Pedro Franco: Ao fim de alguns anos a tocar em vários projectos e com algumas pessoas chegamos à conclusão que estabelecer uma química não acontece assim tão facilmente. Inicialmente tinha decidido fazer um projecto a solo mas rapidamente percebi que isso poderia vir a ser penoso e limitado. Eu e o João falamos a mesma linguagem e já nos conhecemos há tempo suficiente para sabermos o que esperar um do outro. Somos bons amigos e é essa a honestidade que tentamos passar.
Como é o trabalho de um projecto com tão poucos elementos?
PF – A grande vantagem é que as decisões são rapidamente validadas porque somos só duas pessoas. Também me agrada muito o facto de nos podermos desbloquear um ao outro no processo criativo. Se estiver às voltas com um tema sem sucesso, envio para o João e normalmente quando o recebo de volta vem com uma abordagem totalmente diferente da qual eu tinha imaginado inicialmente. Isso dá-me um novo fôlego para seguir em frente. Normalmente esses temas são os que melhor identificam este projecto porque são temas híbridos… Nascem da nossa cumplicidade.
JM – Ensaiar e tocar neste formato também é muito mais simples. Conseguimo-nos adaptar mais facilmente e tocar em mais sítios que noutro formato seria mais dificil. Quando é necessário um concerto mais musculado temos a nossa banda, a “Corpus Ensamble” que é formada por músicos que conhecemos de longa data com quem temos também uma grande amizade e cumplicidade.
Falem-nos de cada um de vocês e de quem são como pessoas e músicos.
JM – Penso que somos pessoas simples, com uma vida simples que gostamos extrapolar nas nossa músicas… Acho que ainda somos os mesmos miúdos que lá atrás se atreviam a sonhar cada vez que pegavam numa guitarra.
PF – O João é um pinga amor…
Já tiveram projectos anteriores a este? Juntos, ou separados?
PF – Sim, juntos e separados. Coisas de adolescentes sem grande expressão que serviram para ir sedimentado o nosso percurso e ir maturando o nosso gosto pela música até chegarmos ao Corpo Estranho.
JM – O Pedro ensinou-me inclusive a tocar guitarra. Mas eu era muito mau aluno… É um processo de aprendizagem… Por tentativa e erro vamos chegando onde queremos e percebendo qual a nossa sonoridade e identidade.
Há quanto tempo os Um Corpo Estranho existem? Porquê este nome para um projecto?
JM – Começámos o projecto em 2009 mas só lançámos o 1º EP em 2012. Decidimos brincar e experimentar as canções até elas ganharam uma maturidade que nos agradasse.
PF – Como andávamos à procura da nossa voz e levámos algum tempo até estarmos confortáveis com o que andávamos a fazer escolhemos este nome “Um Corpo Estranho” porque a sonoridade inicialmente era estranha para nós. Estávamos fora da nossa zona de conforto e este corpo de canções que apareceram no 1º EP e no nosso disco de estreia levaram algum tempo a revelar-se para nós. Agora o Corpo já não é assim tão estranho… Tornámo-nos bons amigos.
Ainda sobre o funcionamento do conjunto, de onde vos surgem as ideias para as letras? A música surge ao longo da letra, ou é construída ainda antes das letras?
JM – No nosso caso não existe uma fórmula para fazermos as canções. Às vezes é a letra que determina a sonoridade da música outras vezes a canção pede uma letra especifica.
PF – Concordo com o João. Não temos regras… Se quisermos generalizar eu faço as canções e o João escreve as letras, mas não é um compartimento estanque. O João também compõe alguns temas e eu sugiro algumas letras.
Vocês não têm um estilo propriamente definido, como se enquadram no meio musical?
PF – Sinceramente não pensamos muito nisso. Tentamos fazer boas canções e sermos honestos com elas…
JM – Fazemos música que nos agrada… Felizmente agrada também a outros.
Quem ou que grupos é que vos influenciam/inspiram mais?
PF – As bandas que normalmente nos influenciam mais são aquelas que nos passam uma ideia de verdade e honestidade. Isso é transversal para qualquer tipo de música… se sentirmos que é sincero serve automaticamente como fonte de inspiração.
JM – A convivência diária também é um excelente ponto de partida para nos sentirmos inspirados… As tertúlias à mesa regadas com um bom copo de vinho, os amores, os desamores…
Falem-nos um pouco do “De não ter tempo”, como foi trabalhar para este álbum depois de “Auto-Coação”?
JM – Foi um processo de continuidade. Já tínhamos muitos dos temas do disco de estreia em gaveta quando lançámos o EP. Foi só deixá-los crescer e perceber qual o seu caminho.
PF – O facto de termos esperado algum tempo até lançarmos o primeiro EP permitiu-nos criar um corpo de trabalho de canções ao qual fomos acrescentando novos temas. É muito natural e continuo… Não é um processo fechado. Estamos sempre a compor. Quando decidimos avançar para um disco ou um EP novo escolhemos os temas que melhor funcionam juntos.
Que planos têm para o futuro?
PF – Vamos lançar em breve mais um EP com a banda sonora para um bailado chamado “A Velha Ampulheta”. Escrever música instrumental para bailados é uma coisa que nos dá muito gozo e que queremos continuar. Há dois anos lançámos também um EP com a banda sonora para uma peça baseada no universo da Paula Rego chamado “A Almofada da Paula” que também nos deu muito gozo participar.
JM – Estamos também a trabalhar no próximo disco. Estamos no processo de selecção dos temas e perceber qual a estética que queremos abordar.
Onde podemos ver-vos, ouvir-vos e conhecer-vos ainda melhor?
PF – Podem-nos acompanhar na nossa página oficial www.umcorpoestranho.com ou no nosso facebook www.facebook.com/umcorpoestranho.
JM – Vamos andar a tocar por aí. Sigam as nossas páginas e venham ver os nossos concertos. Enviem-nos mensagens, proponham ideias… Quem sabe se não vamos tocar na vossa sala de estar?
Se tivessem de escrever uma estrofe curta para convencerem os nossos leitores a seguirem-vos, como seria ela?
JM – Partilhamos um excerto de uma letra de um tema do nosso disco de estreia “De Não Ter Tempo”:
“Resta-nos sorrir
Ao inferno está para vir.
Se o diabo teima em existir aqui,
Seja assim.
E no fim, tudo está bem
Assim se possa contar.
Que ao menos sirva a alguém
Quando tudo acabar.”