A imagem pública de António Costa tem vindo a deteriorar-se com a passagem do tempo. Parece que se limita apenas a gerir danos. Não há responsabilização, parece que os meandros da governação pouco interessa, a quem devia ser o seu guardião. Mal comparado, será um treinador que se farta de ganhar e acha que a equipa joga só por si sem precisar de alguém ao leme. A verdade é que mesmo os melhores ministros (que não será o caso de muitos) precisam de liderança, sentido de estado e propósito.
A definição do rumo é outro dos problemas, porque se o que está referido acima é grave, não haver uma resolução dos principais problemas dos portugueses é mortal, diria eu correndo o risco de ser demasiado tétrico. Mas a verdade, é que a governação do PS tem sido feita à vista e sem muito planeamento. Para dar alguns exemplos, politica de natalidade, politica de transportes, politicas de saúde, obras públicas, para além de politicas fiscais. São demasiados sectores estratégicos para o país que têm tido da parte do primeiro-ministro, um desprezo confrangedor. Todavia, não é algo que não tenha solução, mas é aqui que se vê que a vontade política é, sem dúvida, o maior bem que algum governo pode ter.
A vida dos cidadãos tem piorado com o evoluir da inflação, depois de uma pandemia, no meio de uma guerra e a pior coisa de todas um governo sem imaginação para reverter esta situação. O bom disto é que teremos um défice espetacular (alerta ironia) de 1,9%, uma decida de 1% em relação ao ano passado, com as condicionantes referidas acima. Em 2023 querem colocar a economia portuguesa com o menor défice da Zona Euro, segundo o Governador do Banco de Portugal. Ora eu acho esta série de medalhas desde 2021, absolutamente desnecessárias e atentatórias da vida de todos nós em nome de algo que tem sido superior ao interesse nacional, a vontade de ir para além da União Europeia, ou seja, se temos um limite de 3% no défice, porque não utiliza-lo para conseguir responder com mais força aos problemas das famílias que podem perder poder de compra em catadupa.
É bom alertar que os preços uma vez inflacionados não voltarão atrás e, portanto, aquilo que nos é vendido como uma inflação pontual e transitória, é na verdade um marco para esta década, que nos fará cavar, ainda mais, o fosso entre classes na sociedade portuguesa. As medidas propostas por este governo têm sido, sobretudo, curativos de emergência, para que as feridas não infetem. Infelizmente, não vejo nada de mais substancial. Isso não só é preocupante, no curto prazo, como no médio e longo prazo. É arrepiante pensar que o PS há tanto tempo no governo, não consegue ser mais rápido a reagir às circunstâncias que embora não sejam previsíveis, são analisáveis, discutíveis e resolúveis. Assim, é de supor, sem grande risco de errar, que os movimentos mais extremos à direita virão com mais força à medida que a miséria do país se aprofunde.
Fica aqui a minha reflexão, a miséria serve tanto ao BE como ao Chega, passando pelo centro da política portuguesa, a uns porque de assistência em assistência vamos ficando mais e mais agarrados ao estado e outros porque sem a miséria não há revolta, com força suficiente para simplificar as soluções para problemas, que muitas vezes, transversais a várias vertentes da vida em sociedade. Mais ainda, quando o Presidente da República atenta na estabilidade a qualquer custo, ou seja, esvaziando a esquerda e atirando para o o colo do Primeiro-ministro o grosso da votação com a “ameaça” do monstro da extrema-direita portuguesa. Aquilo que o português comum verá como a solução mais evidente se o PSD ficar amorfo como tem sido, com posições pontuais. Fica para mim evidente que isto é um ciclo imparável que se alimenta a si próprio e vive da nossa apatia característica. O que seria se fossem mais exigentes? Mais reivindicativos, mas com objetividade? Com mais pensamento criativo e crítico? Ficam as perguntas, as respostas? Talvez numa próxima.