Não é nova a ideia de que vivemos numa era da apatia, na qual não temos mais a ambição de um novo tipo de sociedade. Na verdade, é comum dizer-se que estamos perante pessoas que não se movem para nada ou que são ativistas de sofá. Com isto é frequente acreditarmos que já não vivemos mais os tempos em que a luta política era uma luta por diferentes modelos de sociedades. Algumas vezes opunham-se, noutras se complementavam e se erradicavam os erros da sociedade atual.
A esta ideia soma-se a de que as grandes ideologias caíram em desgraça juntamente com os blocos do muro de Berlim e, ainda mais, com a implosão da agonizante União Soviética. Com a queda do modelo de sociedade de estilo soviético caiu, também, o sonho de que era possível criar um país socialista. Foi o triunfo do liberalismo, dizem alguns, do modelo de sociedade ocidental e prova disso é a sobrevivência desse modelo. Mas o capitalismo também foi se reformando com o Estado-Providência, num sinal de que este modelo económico também não responde às necessidades da sociedade.
Afirmar que vivemos na era da apatia é dizer que vivemos num tempo de indiferença e desprezo pelas grandes causas. E, de certa forma, é verdade que vivemos numa era da apatia, no sentido em que ninguém imagina uma sociedade futura que substitua aquela em que vivemos. Não há uma grande mobilização da sociedade em torno de um projeto social. No entanto, as pessoas mobilizam-se em torno de causas, que não sendo menores, procuram reformar e não revolucionar.
Qualquer utopia que exista, independentemente do quadrante político-social, busca uma revolução, ou seja, uma transformação radical da sociedade em que se vive para uma que se imagina. Por outro lado, o reformismo procura corrigir as deformações que a sociedade tem, de modo a torná-la menos injusta.
A era da apatia, como gostam de apelidar, não significa que deixámos de nos mobilizar em torno de causas, sejam elas sociais ou ambientais, mas apenas que nos mobilizamos de formas diferentes. Esta sociedade em rede que nos interliga em comunidades virtuais, aliada a um contexto de individualismo promovido pelo modo de vida ocidental, estimula a uma participação em causas pontuais, em função da projeção que os media atribuem, sendo logo esquecidas e trocadas por outras. Como que uma sequência de causas que vão estando na moda e logo são substituídas por outras, como se de uma peça de teatro, com a sucessão de cenas, se tratasse.
Veja-se o seguinte: queremos uma transição energética que promova uma sustentabilidade da atividade humana no planeta, mas não imaginamos uma sociedade inteiramente nova que viva em função da natureza e da sua proteção. Queremos menos desigualdade económica e social, mas não imaginamos uma sociedade que não funcione em torno dos princípios capitalistas. Reformar é a essência destes exemplos e de outros que se poderiam mostrar, pois, a ideia não é criar algo de novo, mas corrigir o que está errado. E isto revela a morte da utopia que, para os veteranos da antiga era, catalogam a geração atual num egoísmo apático, que não se move para nada.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico