A grande falácia da PACC, os sindicatos e a destruição do ensino público – Parte 1

A inocência e a ingenuidade dos portugueses nesta questão estão a destruir o ensino dito público, por todos os intervenientes e muitos dos não-intervenientes acreditarem piamente que a prova de avaliação de conhecimentos irá de alguma forma separar os bons dos maus professores e deixar os maus de fora. Esta grandessíssima mentira, em que todos fomos incumbidos a acreditar, está a destruir o ensino público em Portugal.

A primeira mentira que aqui coloco em primeiro lugar estabeleceu-se por decreto-lei – que os professores com menos de 5 anos de serviço, por serem inexperientes e por não terem os conhecimentos apropriados ao bom ensino, deveriam obrigatoriamente ser testados e, caso “chumbassem”, serem excluídos do concurso para 2015/2016. Primeiro ponto: 5 anos de serviço são 1825 dias de serviço prestado, mas há professores com 15, ou 20 anos no ensino que não somaram estes dias. Estranho. Não tanto, pois foi aí que há 20 anos começou a ser fabricada a grande mentira. Porquê? Porque ilegalmente, ano após ano, há 20 anos, o Ministério da Educação contrata, ou sub-contrata professores, não lhes permitindo trabalhar as 22 horas em horário completo, fazendo, por isso, uma equivalência do número de horas dadas por ano lectivo aos tais 1825 dias. No entanto, um contratado, ou sub-contratado quase nunca tem 22 horas semanais de aulas para dar, uma vez que esses horários são escassos nos concursos externos. Logo, os professores com 15, ou mais anos de experiência têm de fazer uma prova que nada prova, pois não somaram em 15 anos de trabalho efectivo os tais 1825 dias. Estes professores já deveriam pertencer aos quadros, em vez disso construiu-se de uma forma maquiavélica um teste para excluir estes professores dos concursos externos, quando há 15, ou mais anos que dão efectivamente aulas.

Segunda grande mentira: esta prova selecciona os bons professores, deixando os maus de fora. Não é verdade e venho prová-lo. Ora, vejamos uma pergunta, um pequenino exemplo, para que se possa verificar, através da prova, que nada prova. Vamos imaginar que um professor de História, Português, Espanhol, Inglês, Francês, Alemão, Geografia, de Ciências da Natureza, ou de qualquer área que não Matemática foi fazer esta prova. Dizia o Enunciado: “Um indivíduo entra numa loja para comprar um computador. Quando vai pagar, o funcionário explica-lhe que o preço marcado não inclui um imposto de 19%, nem um desconto de 10%. O funcionário, que trabalha há pouco tempo na loja, tem algumas dúvidas sobre a aplicação das percentagens. Qual das opções que se seguem apresenta um raciocínio correto sobre a aplicação daquelas duas percentagens?

  • Se aplicar em primeiro lugar a taxa de 19% relativa ao imposto, prejudico a loja, pois o desconto vai ser maior e o cliente paga menos.
  • Se calcular em primeiro lugar o desconto de 10%, favoreço a loja, uma vez que o desconto vai ser menor e o cliente paga mais.
  • O cliente paga o mesmo qualquer que seja a percentagem que eu aplicar em primeiro lugar, os 19% do imposto ou o desconto de 10%.
  • Como tenho de acrescentar uma taxa de 19% ao preço do computador e depois retirar 10%, posso acrescentar apenas uma taxa de 9%.”

Independentemente da resposta correcta. Há várias questões na PACC que em nada avaliam a capacidade pedagógica de um professor.

Primeira evidência estudada há séculos: o bom professor é por norma um bom contador de histórias, que consegue envolver e prender os seus alunos de forma a que aprendam interessadamente.

Segunda evidência: a Pedagogia é a componente comum a todos os professores, repito, a todos de qualquer área sem excepção. Ora, a Pedagogia só se põe em prática em sala de aula e é o que define a sua aplicação. A Pedagogia tem noções tão vastas que um professor para a estudar demora um ano lectivo a que se dá o nome genérico de Pedagógicas, antigamente este era um curso de pós-graduação cursado, após a licenciatura de 4 anos. Ou seja, um professor formava-se 4 anos cientificamente e demorava mais um ano a ter formação de como passar todo esse conhecimento científico de modo pedagógico.

Dado que este Ministro da Educação tem escondido esta componente realmente comum a todos os professores, depreende-se que o seu objectivo não é e nem nunca foi o de avaliar a componente comum, sendo sim o de despedir e de demonstrar o poder do sistema. Claramente, o seu objectivo em todas as suas medidas foi o de avaliar para excluir e não o de melhorar o sistema educativo. Retirei de fontes oficiais a definição de Pedagogia para que o leitor possa ver por si mesmo do que realmente se trata: “A Pedagogia é a ciência que tem por objecto de estudo a Educação, o processo de ensino e a aprendizagem. O sujeito é o ser humano enquanto educando.”

Grécia clássica pode ser considerada berço da Pedagogia, pois é na Grécia que nascem as primeiras ideias acerca da ação pedagógica, ponderações que vão influenciar, por muitos anos, a educação e cultura ocidentais e vincular a imagem do Pedagogo à formação das crianças. Na antiga Grécia, eram chamados de pedagogos os escravos que acompanhavam as crianças que iam para a escola. Como escravo, ele era submisso à criança, mas tinha que fazer valer sua autoridade quando necessária. Por esse motivo, esses escravos desenvolveram grande habilidade no trato com as crianças.

Nos séculos XVII e XVIII, inicia-se uma era de debates, no campo da educação, tendo como foco a importância de actualizar os processos pedagógicos e rever o próprio conceito de infância. Nomes importantes deste período são Comenius e Rousseau. No final do século XIX e princípios do século XX, os debates sobre educação e, principalmente, as novas pesquisas no campo da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem, com ênfase na criança, levarão a que um grande número de profissionais, de diversos campos, desenvolvam reflexões, pesquisas e experiências pedagógicas envolvendo métodos de ensino, as relações pedagógicas e as possibilidades e limites dos diferentes contextos educativos, dando corpo a vários movimentos, de entre eles o da Escola Nova e da Pedagogia Waldorf. No restante século XX, a Pedagogia vai-se institucionalizar como campo de conhecimento científico e profissional e a formação passará a ocorrer nas Universidades e em cursos superiores, um curso que cuida dos assuntos relacionados à Educação por excelência, portanto, se trata de uma Licenciatura. Actualmente, a Pedagogia tem como objetivo principal a melhoria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos. Como ciência social, a Pedagogia está interconectada com os aspectos da sociedade e também com as normas educacionais do país.

O Conceito de Pedagogia envolve também diferentes compreensões:

Arte de ensinar ou instruir;

Ciência – Teoria da acção educativa;

Prática – Conjunto de métodos e técnicas de ensino.

Para mais informações acerca da Pedagogia podes consultar um pequeno resumo donde não constam todas as teorias pedagógicas, mas que clarifica bastante bem a complexidade pedagógica no site Prof2000.pt. Posto isto, se alguém ainda tiver dúvidas de como a PACC não avalia a componente comum, coisíssima nenhuma, continua a ler a prova no site do Ministério da Eduação e atesta por ti mesmo.

Terceira grande mentira: o Ministro diz que esta prova tem como objectivo melhorar a qualidade do ensino. Todos os professores sabem que a Educação é de todos e para todos e é dela que depende o futuro de um país. O que se está a construir já há uns tempos e que culminou na PACC é um ensino cada vez mais injusto, que não mede a qualidade verdadeira nem dos seus alunos e nem dos seus profissionais. Que deseja um ensino de elites e que pretende descaracterizar e destruir a escola pública. Para este efeito poderás também ver este vídeo no Youtube, que te explica bem sobre esta situação.

O conjunto de ilusões ministeriais não termina por aqui e ainda faltam analisar alguns pontos, de que irei falar numa segunda parte deste meu artigo de opinião.

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