Eu ando numa fase muito fã de entretenimento francês.
Claro que isso tem relação com as aulas de francês que comecei, mas devo alertar que estou tendo grande prazer em descobrir esse universo.
Os filmes e séries têm seu drama, humor, mas as mensagens são sempre mais profundas, com um pouco de acidez também, e você sempre deve esperar algo inesperado, porque os diretores sempre surpreendem.
Recentemente, buscando opções de filme no catálogo da Netflix encontrei “A Família Bélier”, um drama francês com toques de humor ácido.
***RESUMO***
Numa pequena cidade do interior da França, Paula (Louane Emera, cantora francesa que foi finalista do programa The Voice) é a única integrante da família que não tem deficiência auditiva e de fala.
Ela ajuda seus pais e irmão com os negócios, sendo a tradutora oficial, voz e ouvidos, da família Bélier em seu contato com o mundo.
Mas Paula é uma adolescente cheia de aspirações, vontades e paixões, e seu talento para a música a obriga a cortar o cordão umbilical, a desbravar o desconhecido para além das fronteiras de onde sempre viveu.
Mas ao mesmo tempo em que Paula anseia por esta oportunidade, ela sofre por deixar a família e por não saber como eles ficarão sem ela. E então, o que fazer ? Esta aí o dilema.
***CRÍTICA COM SPOILER***
Paula tem uma grande voz e é este dom que abre uma grande oportunidade para ela estudar em Paris.
O professor de canto da escola descobre esse talento e é quem dá força para Paula fazer um teste numa rádio francesa, o ponto alto do filme!
A canção escolhida para este momento é “Je Vole” (em tradução livre “Eu Voo”). E durante a performance, em que Paula faz a tradução simultânea em libras para os pais que estão na plateia, ela diz:
Mes chers parents, je pars
(Meus queridos pais, eu vou embora)
Je vous aime mais je pars
(Eu os amo, mas eu vou embora)
Vous n’aurez plus d’enfant
Ce soir
(Vocês não terão mais filhos esta noite)
E o choro é de quem está em cena e de quem assiste. É doce, libertador e emocionante. A comunicação é fluida, independente de qualquer dificuldade que se imponha.
Se durante todo o tempo o filme tinha sido morno com alguns momentos de riso, a apresentação de Paula faz o coração bater forte e atingir o pico.
As atuações são na medida, a família Bélier é diferenciada não apenas pela questão da deficiência, mas pelo tamanho de amor que existe nela.
As locações foram bem escolhidas.
Não existe tanto drama, as questões refletidas são comuns.
E o que nos conquista é mesmo o momento da libertação, em que tudo é dito numa canção, porque, afinal, não é só Paula que estava presa e dependente, mas toda a família, que por comodismo, também não se preocupava em se relacionar com o mundo externo, pois tinham Paula.
Uma lição de vida.
Vale assistir e refletir.
Sim, uma lição de vida!
O cinema francês, especialmente as comédias, mesmo as menos boa ( não me lembro de ter visto uma má) , têm sempre uma lição de vida inerente, mesmo que seja apenas percebida nas entrelinhas.