A trama centra-se nas tradições ancestrais e no conflito que estas geram com a sociedade global onde se vive. Tudo o que aconteceu deixou de ser interessante e o moderno é sempre mais apelativo. Os jovens já não querem saber de como se fazia, mas somente de como está feito. Nada os encanta a não ser a realidade.
Para início, deparamo-nos com uma tragédia: uma mãe e um filho que morrem num parto. Era o primogénito e a sua irmã gémea não tem o mesmo valor nem importância que o varão. Por esse mesmo motivo será rejeitada pelo avô e criada como uma vulgar rapariga e não descendente do maior legado da tribo.
Os Whangara vivem, há mais de mil anos, numa bela e modesta vila na costa leste da ilha. Conta a ancestral lenda que um semi-deus, de nome Paikea, chegou ali montado numa baleia. A partir daí, todos os primogénitos de cada geração da linhagem ligada directamente a ele, tornam-se o líder da aldeia dos Whangara.
A menina Pai é a sobrevivente e o pai, atormentado e desfeito de dor, parte sem destino, deixando a criança aos cuidados do avô, Koro, o chefe da tribo. Entristecido pela quebra da tradição da linhagem, Koro cuida da neta com amor, mas mantém um certo distanciamento. A sua missão era preparar o seu sucessor e ele falhou, pois Pai não é homem.
Quando o Pai completa 11 anos, começa a tentar provar que talvez possa assumir o papel que seria do seu pai ou do seu irmão. Enquanto Koro ensina as tradições ancestrais aos meninos locais, Pai decide estudar por conta própria. É uma rapariga destemida e determinada. Escondida vai assistindo às aulas do avô e com uma ajuda do tio aprende danças, rituais e a lutar com a taiaha (bastão de guerra típico dos Maori).
Estas aprendizagens são vedadas às mulheres e ela está a cometer o maior dos sacrilégios querendo criar uma nova ordem para o povo milenar. O seu amor pelo avô é imenso e sente-se rejeitada por não ser quem ele queria. Contudo, não é esta limitação que a impede de continuar a aprender as práticas que, no futuro, lhe serão de extrema utilidade.
Um dia as baleias aparece na praia, pronta a morrer e, apesar dos esforços colectivos, os resultados não foram os melhores. O povo, desolado, está pronto para aceitar que foram castigados e que as baleias os estão a punir pela quebra do que era mesmo importante.
O Pai, então, torna-se a chefe e lidera as baleias no seu caminho. A cena é perfeita e sente-se a mágoa e o ardor que ela acaba por sentir. Tudo está salvo e a tradição altera-se, só que no sentido agnático, pois o Pai foi a primogénita e será a chefe da tribo. Só as baleias, os poderosos animais que deram vida àquela tribo, podem decidir e foram elas que a escolheram.
Estamos perante uma circunstância de papéis de género e de aceitação. Uma revolução faz-se quando alguém especial, imbuído de um espírito forte e direccionado, assume o comando e prova que a continuidade depende do que a maioria entender.
A fotografia é maravilhosa e as paisagens são delirantes. Tudo muito simples, sem grandes artifícios, mostrando ainda uma outra realidade, a das mulheres que deixam os homens pensarem que são eles que mandam.