Os Filhos da Droga de Christiane F.

Hoje vou-vos contar uma pequena história. Não a minha, mas a da Christiane F. Oh! Esperem! Vocês já a conhecem, ou pelo menos já ouviram falar dela.

*SÓ HÁ SPOILERS*

O livro “Os Filhos da Droga” de Christiane F. foi o segundo livro que li na minha vida, tinha eu os meus 13/14 anos. E foi um dos livros que mais me marcou. Foi uma das histórias mais difíceis de ler que me passou pelas mãos. Tive pesadelos e até sonhos. Na altura não havia influenciadores digitais, então, ou ouvíamos os pais (pessoas que ainda hoje raramente ouvimos), ouvíamos os amigos (considerados pelos pais, as más influências), víamos os filmes, ou líamos os livros. No meu caso, este livro influenciou-me muito. Como? Estão vocês a perguntar. Pois bem, quando eu estava nos primórdios da minha adolescência, a droga circulava “livremente” à porta das escolas e até mesmo dentro delas e graças a este livro nunca tive a curiosidade de experimentar.

Ler um livro já nos faz viajar pelo mundo do imaginário, mas quando vi o filme ainda pude visualizar melhor toda a história. Acho que nunca tinha visto um filme tão, mas tão fiel a um livro como este.

“Os Filhos da Droga” é uma biografia de Christiane Vera Felscherinow, mundialmente conhecida por Cristiane F., uma criança que para parecer “cool” deixa-se influenciar pelos “amigos” e começa a consumir álcool e tabaco, passa a experimentar drogas leves (haxixe, LSD, Valium, Mandrix), até que como já não tem “moca” suficiente, começa a usar heroína.

Como a heroína era mais cara e o dinheiro não abundava, o namorado de Christiane acaba nas ruas a prostituir-se.

“Só queria experimentar. Tenho autocontrole. É o que todos dizem.”

Não deve ser fácil para uma criança ver o namorado entregar-se à prostituição para poder ter dinheiro para pagar a droga para ambos.

Enjoada de ver o namorado naquela situação, Christiane integra também nesse mundo.

Há uma cena no livro que no filme foi reproduzida na integra. Acho que quem leu e depois viu o filme, sentiu falta desse impacto na série. É uma cena em que Christiane, vai comprar heroína à estação de Zoo, mas a ressaca pela falta da droga já é tão grande, que acaba por se tentar injetar em um dos cubículos da casa de banho da estação, mas como está tão debilitada, pede ajuda a um toxicodependente e só o ato dele a injetar é super chocante.

A vida familiar de Christiane não é das melhores, a mãe e a irmã sofriam de violência doméstica por parte do pai. Mesmo assim, quando a mãe decide que quer o divórcio, a irmã de Christiane opta por ficar com o pai.

Quando a mãe de Christiane descobre o vício da filha, faz de tudo para a ajudar, mas cada vez que ela fazia uma desintoxicação quando voltava à rua tinha recaídas e cada vez ficava mais adicta à droga, tanto ela como o namorado.

A mãe já não aguenta ver aquele sofrimento da filha, então leva-a para a casa da avó, com quem elas viviam antes de se mudarem para Berlim, quando Christiane tinha 6 anos.

Consegue-se ver livre das drogas pesadas, mas o álcool e o tabaco ficam para fazer companhia, isto no fim do livro.

Sabe-se que nos dias de hoje Christiane F. tem um filho e ela continua a luta contra as drogas. Um entra e sai de reabilitações. Graças ao consumo de drogas e de medicamentos que usava para substituir a droga, tem problemas circulatórios e tem hepatite C.

Se eu tivesse que atribuir um prémio a esta mulher, seria o da coragem. Além de ser preciso muita coragem para se livrar das drogas (coisa que ela tentou imensas vezes e sem sucesso), também é preciso muita coragem para dar a saber ao mundo a sua pior versão.

We Children from Bahnhof Zoo, a série adaptada do livro, chegou à HBO 43 anos após o lançamento do livro. Não é de todo a história real da nossa protagonista do livro, mas tem algumas partes e personagens do livro.

Vale a pena assistir.

“Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituta…”

http://https://www.youtube.com/watch?v=nVviiGKGJDI&ab_channel=LosChulosTeam

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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