Qual a comida que procura quando precisa de te sentir em casa? Já paraste para pensar no porquê? O que te traz de bom?
Capaz de já ter ouvido por aí o termo “Comfort food”. Na tradução literal, é como “comida de conforto” e nos remete a ideia daquela receita ou de um simples alimento, mas responsável em nos promover alegria e conforto, com um possível pingo de nostalgia.
Traz com o mastigar, a sensação do prazer, satisfazendo nosso emocional, acolhendo nossas memórias afetivas. Por ter relação muito individual, as variáveis do que podemos ter como preferida depende de cada pessoa. Para um grupo de brasileiros por exemplo, ter encontro com uma feijoada pode levar até uma saudosa lembrança de domingos com a família, união e tempero bom, lado a lado.
Às vezes, algo mais simples. Um sorvete (ou gelado) que comia na infância e volta a ser vendido pode significar a alegria de um atual adulto relembrando a “sua criança” do passado. E toda vez que acontece, as boas memórias se tornam companhia.
Ou um simples doce, que hoje pode nem ter o gosto de anos atrás (e quem nunca se perguntou: como eu gostava disso antes?! levante a mão). Pois, pois. Até seu paladar muda. Mas a memória que carregamos e o que aquele docinho traz na mente, faz a diferença e o afeto vem. E fica. Com ou sem, seja sabor igual ou diferente.
A ideia de recompensa faz com que esses pratos que intitulamos como o nosso de conforto, ajuda até no humor. Acalenta, acalma e literalmente, conforta. A ciência diz que comer algo que gostamos ativam os centros de prazer do cérebro, liberando neurotransmissores associados à sensação de prazer e recompensa, aliviando o estresse. E quem sou eu para contradizer? Mas nisso, nem muito teoria eu quero saber.
Já agora… o chocolate é um dos que me faz sentir isso na perfeição. E acredito que em muitos por aí, também. É difícil esbarrar com alguém que de chocolate não goste. Sabe mesmo bem!
Seja qual for o prato por ti eleito, ainda pode satisfazer desejos ou necessidades e estimular nossos sentidos com aromas, sabores ou texturas que agradam e nos remete aos bons pensamentos, fazendo com que a experiência gastronómica fique ainda mais prazerosa. Envolve cheiro, ambiente, o convívio e lembranças. Memórias!
Comida é sinónimo de afeto e identidade. É amor. É aconchego. Nos faz relembrar de alguém, seja pela comida, seja pelo modo de preparar, de servir, de presentear. O cheiro que aquele nos guia e nos leva onde gostamos ou gostávamos de estar!
Cozinhar ultrapassa o ato só se alimentar em busca de nutrientes. Tem comida e memória que alimenta é a alma. Envolve o socializar, o conviver. Aproxima ou reaproxima. Preparar algo gostoso para alguém comer é o mesmo que dizer: Te quero mesmo bem!
Minha memória em especial, que não me escapa, está em um ensopado de batatinhas ao cubo, cozinhadas junto com a massa tipo cotovelinho. E só! Mesmo assim. Sem proteína e com excesso de carboidratos (ou hidratos de carbono). O prazer que traz supera qualquer questão. Acalma. Só vejo boa função. E hoje, ainda o faço, quando bate aquela saudade do passado. A “culpa” de não ter um acompanhamento nutricionalmente equilibrado e ser esse o “prato principal” até surge na mente, mas não permanece nem mesmo um segundo. Calorias extras não eram – e não são – preocupação. O cheiro do molho de tomate, do refogado e temperos é persistente na mente. Me leva de volta à infância, da comida com sabor e bom olfato, feita especialmente para me agradar. Prato materno que protege. Um afago bom.
Volto assim, mesmo que rápido, à casa, a minha morada – sem endereço fixo. Moro mesmo dentro de mim. E lugar mais importante não há. São as lembranças boas que quero alimentar.
E em ti, qual foi a primeira memória gustativa que veio à mente? Vale reproduzir e resgatar esse paladar. Mãos na massa, literalmente!
Nota: Esse texto foi escrito com as normas do português do Brasil.