A Arte como modeladora do ânimo e da essência do Indivíduo

Ao longo da minha vida tenho tido a oportunidade de frequentar diversos lugares e assistir a vários espectáculos ao vivo, bem como fenómenos bucólicos naturais. Já vi com os meus próprios olhos a Aurora Boreal da Suécia e o nascer do Sol no Salar de Uyuni na Bolívia. Visitei as obras de Gaudi em Barcelona, apreciei a tremenda arquitectura italiana e a Cidade Antiga de Dubrovnik na Croácia. Por vezes dou por mim a pensar porque é que escolhi esses sítios em específico para visitar. Chego à conclusão de que o potencial artístico do lugar é uma das variáveis que tem mais peso na minha escolha. Também tenho tendência a escolher sítios em que a Natureza me consiga exibir a sua virtude e esplendor. Tanto que já experienciei um êxtase arrebatador através de espectáculos de Arte Natural e Orgânica, como nos primeiros dois países que referi.

Para além da estética e arquitectura serem determinantes na escolha da viagem, existe outro tipo de Arte que também a influencia: a Sétima. Gosto de visitar locais onde aconteceram cenas de filmes/séries que aprecio. Pode parecer absurdo e até um devaneio, mas quando percorro esse mesmo meio físico é como se sentisse toda a artemosfera e a envolvência do filme, enquanto imagino um plano circundante dá câmara a filmar-me do topo. Bem sei que a vida não é nenhum filme da Disney ou de Hollywood, tão pouco acredito em finais felizes, apesar de uma parte de mim projectar certos aspectos do quotidiano como se fosse cinema, apenas efeitos de melhorar a minha animosidade. Assim, é uma maneira de afastar o niilismo cru e cruel a que acho que a vida está implicitamente ligada. Nem tudo tem de ser branco ou preto. A vida é uma mistura das duas cores e a sua soma dá uma espécie de acinzentado.

Com isto, simplesmente tento ser protagonista na minha vida e não um anónimo figurante, pelo menos naquilo que consigo controlar (ou ter a ilusão de controlo) e aproveitar, sempre com alguma fantasia incutida. Se ser criança é viver nesse mesmo mundo da fantasia e da brincadeira, muita das vezes ser adulto também passa por aí. Além disso, adoro essa possibilidade de criar magia, nem que seja dentro da minha imaginação e âmago. Acabo por ”fazer o filme”, e julgo que não há nada errado nisso.

A última arte que quero destacar na contrução do recheio da cidade e consequentemente do seu ambiente e identidade é a Arte de Rua. Acho que é absolutamente essencial na sua catarse e na dos que neles coexistem. Se se percorrer as ruas de Dubrovnik ou a ponte Carlos em Praga e.g. num dia em que esteja um artista musical a actuar, denota-se que se cria um magnetismo maior na área ao qual a frequência sonora emitida chega. Num plano mais lato, tudo o que existe pode ser visto como frequência e energia: as notas musicais distinguem-se pelas diferentes frequências e timbres. As cores distinguem-se pela parte do espectro electromagnético que conseguem reflectir. Desse ponto de vista matemático, é natural que diferentes frequências nos transmitam sensações diferentes. Um violinista proporcionará maior melancolia ao espaço do que um acordeonista. Claro que tudo depende da experiência do observador. A Arte possui esse poder de gerar tanto discordância (conceito de ser boa ou má é subjectiva) como momentos de pura comunhão entre desconhecidos.

Um bom espectáculo de rua (quer musical quer performativo) consegue ser o epicentro onde vários transeuntes se juntam e desfrutam. E isso dá mais cor ao espaço, adiciona a tal magia. O quotidiano pode-se metamorfosear em quotidiarte. Tanto que o simples facto de se visualizar um aglomerado de pessoas aguça a curiosidade de quem passa. Principalmente se forem portugueses e consequentemente, adeptos de uma boa fila. ”O que é que estarão a dar ali?”

De qualquer forma, há que respeitar a seguinte regra: se um artista de rua te faz parar, tens que o respeitar e contribuir para que ele continua a exercer a sua arte. É o gesto mínimo. No fim do espectáculo, aposto que se o abordares, ele mostrar-se-á uma pessoa acessível e empática.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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