Vigilância digital: O preço da privacidade

Um vídeo que mostra como cozinhar um prato delicioso; uma publicação que nos promete 10 curiosidades sobre uma localidade que podemos nem conhecer muito bem. Depois, somos convidados a ver cinco das atrações imperdíveis em Londres, num fim de semana.  Quando vamos votar, não pode falhar a fotografia do boletim de voto (vá-se lá saber se sem a foto o voto possa não contar).

Em casa, podemos ordenar à Alexa que coloque um ambiente de luz e som propícios a um merecido descanso após um dia de trabalho. É através da app Mail que consulto quanto tenho de pagar ao fornecedor de eletricidade. Depois disso, faço login na minha conta de uma plataforma de jogos através dos dados do Facebook e coloco em prática a minha destreza em resolver problemas.

Onde quer que estejamos, há sempre um equipamento com acesso à Internet e que usa os nossos dados. Nos telemóveis que temos, se tivermos alguma das aplicações da Google[1], sabem o nosso nome, género, contatos, localização, agenda, o nosso padrão de navegação na Internet. Com o Facebook, os dados recolhidos são tais que é possível inferir a orientação política, religião, educação e histórico de navegação que permite criar um perfil com informação suficiente para se tornar num negócio lucrativo de venda dos nossos dados. Ao usarmos estas aplicações poderemos pensar que o fazemos gratuitamente. O preço, porém, ainda que não seja monetário, é pago com a nossa privacidade.

A verdade é que estamos rodeados de equipamentos que nos vigiam, para o bem e para o mal, e sem os quais se torna cada vez mais difícil viver. Dá para viver sem um smartphone, um smartwatch ou um computador? Sim, dá, mas seremos como os eremitas que renunciaram ao mundo.

Vivemos numa era onde a sociabilidade é cada vez mais mediada por computadores e na base de troca de dados recolhidos sem que nos apercebamos muito bem. Os impactos não se resumem apenas às ações dos algoritmos. Mesmo que não tenhamos nada a esconder e não nos importemos que diariamente, várias vezes por dia, recolham dados sobre nós, ainda assim, sacrificamos algo muito importante: a nossa privacidade.

Quando não mais nos importamos que em qualquer site onde entremos ou em qualquer aplicação que tenhamos instalada sejam recolhidos dados pessoais que de outro modo não partilharíamos, quando publicados informações detalhadas nas redes (na grande maioria das vezes com boas intenções), tudo isso aumenta o risco de sermos alvo de scammers ou que os dados que demos fornecemos sejam roubados por criminosos, como aconteceu com a Uber, que chegou a esconder esse facto.

Numa época onde a informação é essencial para o funcionamento da economia, quem é proprietário dos dados tem o poder. Ao não controlarmos que dados oferecemos e sem saber como serão usados, arriscamo-nos a dar o que não tem preço: a nossa segurança e privacidade.


[1] Para aprofundar consultar aqui e aqui.

Nota: este artigo foi escrito segundo o Novo Acordo Ortográfico.

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