“Ao mesmo tempo que o primeiro escritor concebia uma nova arte ao fazer marcas num pedaço de argila, aparecia tacitamente uma outra arte sem a qual as marcas não teriam nenhum sentido. O escritor era um fazedor de mensagens, criador de signos, mas esses signos e mensagens precisavam de um mago que os decifrasse, que reconhecesse seu significado, que lhes desse voz. Escrever exigia um leitor.”
– Alberto Manguel, in Uma História da Leitura
É possível que uma única história se repita vezes sem conta e ensine que a magia pode acontecer, qualquer que seja a verdade presente?
Foram as histórias tradicionais que construíram os autores de hoje. Foram as viagens ilusórias; que lidas ou ouvidas, contadas e recontadas, encurtadas ou acrescentadas; na grande maioria, na voz dos pais ou avós, passavam a moral, para além da magia, da cor ou alegria. Muitas vezes, sem eles próprios o saberem, criaram mentes forjadoras de novas histórias. Foi o passado de sonhos alheios que concebeu um futuro da fantasia actual. Noutras vezes, são as crianças que fantasiam e lhe dão alma.
Uma pequena introdução ao mundo do livro infantil e do tanto que tem para oferecer. Talvez não seja a melhor pessoa para falar de livros, de crianças, de ensino ou do amor pela leitura. Porque, na prática, isso é feito naturalmente.
Uma das formas mais importantes de contribuir para o ensino de uma criança e protegê-la de ideias mais extremas e erradas do mundo, é nutrindo o seu amor pela leitura. Como o podemos fazer?
“O amor pela leitura é algo que se aprende mas não se ensina. Da mesma forma que nada pode obrigar a apaixonar-nos, nada pode obrigar-nos a amar um livro. São coisas que ocorrem por razões desconhecidas e misteriosas, mas que estou convencido de para cada um de nós há um livro que nos espera. Em algum lugar da biblioteca há uma página que foi escrita para nós.”
– Alberto Manguel (*)
É nesse sentido que continuo a escrever. É com essa intenção que continuo a ler. Àqueles que chegarem as minhas palavras e vibrarem dentro, que façam uso das mesmas e libertem a voz que passa a ser a sua.
“Mas para mim o melhor modo de lutar contra o terrorismo e o extremismo é fazer uma coisa simples: educar a próxima geração.”
Malala, Assembleia Geral da ONU, Julho de 2013
Transporto para aqui e hoje, palavras sobre o meu primeiro conto infantil aquando a sua apresentação ao público, e que transparece a importância do amor pela leitura. Nas crianças e nos adultos.
Afonso e Roma às avessas é uma história que não se passa em Roma, como seria previsível, mas num local muito especial e próprio de cada criança. Roma é um simples anagrama que forma a palavra AMOR. É lá que vive o Afonso, que faz do dia-a-dia um mar de aventuras e emoções.
Quem escreve tem de ser um bom observador, estar atento, para ser mais completo naquilo que quer transmitir aos outros. E, foi por estar atenta a tudo o que as crianças fazem e dizem, que surgiu este livro. O personagem é o Afonso, que me deu o privilégio de o ver crescer. A ele, agradeço a inspiração. E, a todos os meus sobrinhos emprestados, filhos de amigos e familiares, que me lembram diariamente que a simplicidade está nos pequenos gestos.
Oliveira – Formosinho (2012) afirma que “não há acção educativa que possa ser mais adequada do que aquela que tenha a observação da criança como base para a planificação educativa. É que isso permite ao adulto programar e agir com base na tensão criativa entre uma perspetiva curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real dos interesses, necessidades, competência e possibilidades da criança (p. 59)“.
Já no relatório do plano de actividades 2022, para o PNL Ler 2027+ pode ler-se:
A leitura é uma das capacidades mais importantes do ser humano e uma das principais condições para aprender. Neste contexto, a escola e a família têm uma responsabilidade acrescida sobre a forma como, em conjunto, podem potenciar a aquisição da competência leitora e fazer de cada criança um leitor para a vida. O PNL2027 desenvolve ações para o desenvolvimento de competências de literacia emergente e familiar, através do programa Leitura em Família, com as suas mochilas para o transporte regular de livros entre o Jardim de Infância ou a escola e a casa de cada um; com o programa Ler+ dá Saúde, baseado no aconselhamento às famílias, pelos médicos e enfermeiros, da leitura diária com as crianças e, ainda, com o projeto Ler no Jardim, para a implementação do Programa de Literacia Emergente (PROL).
Fica o link, camuflado na imagem, para os interessados em aprofundar aquilo que tem sido feito no âmbito da promoção da leitura e da divulgação/criação de actividades que fomentem o seu alargamento a todos os cidadãos.
O Plano Nacional de Leitura é uma política pública cultural portuguesa de incentivo à leitura. Foi criado em 2006 em resolução de Conselho de Ministros e com o Alto Patrocínio da Presidência da República. O programa foi instituído como uma “resposta institucional à preocupação pelos níveis de literacia da população em geral e em particular dos jovens, significativamente inferiores à média europeia”.
Passados mais de 15 anos sob a sua criação, compreende-se a necessidade em manter este plano como forma de criar no pequeno educando um grande leitor, nutrindo nele o amor para a leitura e educando para uma consciência livre. O meu conto infantil Afonso e Roma às avessas não está incluído no PNL, mas a sua relevância na vida daqueles que são os personagens desta história a verdadeira magia feita em palavras.
“Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é solução.”
Malala, prémio Nobel 2014
Porque é importante a leitura e o amor pela leitura, quando somos crianças?
Porque uma história faz parar o tempo. Congela os personagens numa dimensão especial sem os limitar. Pelo contrário, dá-lhes volume, engrandece-os, oferecendo ao pequeno leitor uma parafernália de sonho, alegria e realidade fantástica. A partir daí, os leitores transformam a palavra em vibração e criam energia pura contada em Voz Alta!