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Somos todos… hipócritas

A primeira edição deste espaço de crónica não poderia passar ao lado do acontecimento que marcou o início do ano, a menina de 10 anos que foi usada como bomba suicida num mercado na Nigéria e que matou pelo menos 20 pessoas e feriu mais 18. Ah! Esperem! Esse não é o tema que marcou o início do ano. Afinal, foi o massacre, no dia 9, na mesma Nigéria, na cidade de Baga, onde mais de 2000 pessoas foram assassinadas pelo grupo Boko Haran, que invadiu a localidade e em que a República do Níger e o Chade, vizinhos, recusaram ajudar a travar a carnificina. Pelo que parece, também não, pois não foi em nenhuma destas situações que vimos desfilar chefes de Estado, nem sequer o toque emotivo de Angela Merkel, de olhos fechados, de cabeça encostada ao ombro de François Hollande.

O velho mundo Europeu vive tempos conturbados e difíceis, não porque um jornal é atacado e 12 pessoas são fria e barbaramente mortas por radicalistas islâmicos, activando todos os alertas anti-terroristas, mas sim porque tornámo-nos num continente egoísta e que esqueceu grande parte da sua história, de muitos dos seus próprios pecados. A acção do grupo radicalista islâmico é totalmente desumana e condenável, sem dúvida, não porque é um atentado contra a liberdade de expressão, mas sim porque o é contra vidas humanas.

Sejamos muito honestos, François Hollande é uma figura fraca na política europeia, a desaparecer, assim como o seu país, do espectro de poder do velho continente, nomeadamente com uma Marine Le Pen a ganhar espaço e importância no espectro político francês. Há dois dias, qual grande líder, reforçou o envio de porta-aviões para o Iraque, no sentido de combater o Estado Islâmico, com manchetes nos jornais, e eu pergunto: não teriam sido mais úteis na Nigéria?

A solidariedade com as vítimas do atentado em Paris, vivida nos últimos dias, que levou a manifestações por diversas cidades na Europa, a empunhar inúmeros “Je suis Charlie”, é digna e bela de se ver. Contudo, não continuaremos todos a ser verdadeiramente hipócritas e egoístas, olhando apenas o nosso próprio umbigo e esquecendo que pelo mundo milhares de pessoas morrem todos os dias, não só por massacres, mas também por coisas tão mais simples que a própria Europa poderia auxiliar a resolver?

Em menos de um ano, o filme é o mesmo. Recordemo-nos da história do Ébola, no ano que passou. Enquanto em África morriam milhares de pessoas, a comunicação social pouco trouxe cá para fora, mas, quando atingiu o mundo ocidental, já o alvoroço de notícias se instalou, já se elevou a pandemia, já se viu o pânico instalado.

A Europa lembra-me tantas vezes aquelas histórias de uma nobreza pobre que apenas ostenta vestidos e títulos, mas que imbuída no seu status, se contacta com a sujidade do povo, rapidamente entra em histerismo. Pouco tem para comer, vive de favores, mas ainda assim acha-se superior.

O ataque ao Charlie Hebdou é uma cobardia que não se justifica de forma alguma, que entristece pelas vidas perdidas, mas que nos mostra também que está na hora de nos aproximarmos mais do Islamismo, compreendendo-o e integrando-o na nossa sociedade. O medo apaga-se com a compreensão, respeito e amor, não com mais medo e raiva. A liberdade de expressão é essencial para o desenvolvimento das sociedades e, nesse aspecto, somos privilegiados. Contudo, não olhemos só para um mundo islâmico, mas vejamos também que aqui mesmo ao lado, ainda dentro das fronteiras do Cáucaso, existem pessoas que não têm essa mesma liberdade.

A Europa não é o baluarte da superioridade e evolução moral, como tantas vezes quer demonstrar. Talvez, hoje, mais do que em outros tempos, a Europa precisa de ser humilde e reconhecer as lições que o passado nos trouxe.

Gostaria de ver, em vez da frase que tanto circulou pelas redes sociais e esteve colocada em toda a comunicação social, uma bem mais simples “Eu sou Humano”.

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