Era noite de São Pantaleão. E, normalmente, nada de extraordinário acontece no São Pantaleão. Até são mais as expectativas do que as emoções realmente vividas. Por isso, não sei o que tinha esperado para aquele ano em particular, mas certamente que não esperava o jardim iluminado daquela maneira tão bonita, com pequenas lâmpadas coloridas a espreitar nas árvores. E tão-pouco contava com aquela neblina quase ao nível dos olhos, que dotou o espaço de uma magia que nunca mais voltei a encontrar.
Estava apaixonada, é certo, e isso certamente teve o seu efeito na forma como hoje recordo o cenário. Contudo, também é verdade que me lembro bem da algazarra feita por miúdos bêbedos e cheios de nicotina, a dez passos dali. Por si só, isto já deveria ter sido um indicador de que não estava na parte bonita do filme romântico. Ainda assim, teimosa, arrisquei a lançar aquela fala cinematográfica: “Onde é que achas que estamos daqui a um ano?” A resposta, que tardou um segundo eterno, tinha tudo para me tranquilizar, mas foi cortante: “No mesmo sítio, provavelmente.”
Por um lado, quis acreditar naquilo, uma vez que significava que nem tudo mudaria assim tanto. É que, daí a breves semanas, iríamos entrar no mundo universitário, separados por centenas de quilómetros. Por outro lado, ninguém sabia o que se seguiria e tive inveja daquela certeza concentrada numa só pessoa. Por outro, ainda, eu esperava uma resposta que denotasse evolução. Ia caminhar tanto para acabar no mesmo sítio?
Em 2020, lembrei-me desta história muitas vezes. Lembrei-me da certeza que não consegui absorver e desejei que todos voltássemos a ter certezas. E foi então que me lembrei que, no ano seguinte àquele São Pantaleão marcante, a festa nem sequer foi no mesmo sítio. Quanto a evoluir, pelo menos a paixão já se tinha transformado em amor.
2021 continua a tirar-nos as certezas e, inesperadamente, fez-me sentir que era tempo de abandonar este espaço. Desde 2016 e muitos caminhos depois, a curiosidade inicial por este projeto foi transformando-se em paixão, consolidou o amor pela partilha e, seguindo a ordem natural, agora é tempo de nos separarmos. Sempre com a esperança de nos reinventarmos para o próximo São Pantaleão. Chegue ele quando chegar.