+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

Será a verdade ciência?

Se a verdade é tão importante para nós, porque é que inventamos tantas histórias?

A palavra verdade vem «do lat[im] verĭtāte-, “a verdade, o verdadeiro; a realidade; a verdade em pronúncia — as regras”» [cf. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, Livros Horizonte]. Significa «conformidade entre o pensamento ou a sua expressão e o objecto de pensamento; qualidade do que é verdadeiro; realidade; exactidão; rigor; precisão; representação fiel; boa-fé; sinceridade; coisa certa; axioma; premissa evidente; máxima» [cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora].

– in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

“Sem a arte a vida é um tédio”, ouvi outro dia. E, é verdade. As histórias sempre fizeram parte do imaginário da Humanidade e, mais, sempre fizeram parte da História das nossas estórias. Era assim que os nossos antepassados comunicavam. Através da arte, das pinturas nas cavernas, narrando o seu quotidiano para as gerações vindouras.

Com o passar do tempo a palavra assumiu o poder e, sempre que é entoada gera emoção. A verdade é mais agressiva que a mentira, por isso, magoa. Também por isso, se é mais tolerante com a inverdade, banalizando-a e assumindo-a como falha menor. Quiçá, até, facilmente nos tornemos salvadores da mentira, protegendo-a da verdade, dura e crua, agreste e arrogante.

Inventam-se muitas histórias, é um facto. Quem sabe se o dito anterior também o é? Fingindo e fugindo da verdade, ainda ontem terminei uma história de entretém.

Será que há respostas a tantos porquês que se levantam neste artigo? Ou, será que as perguntas apenas o são para fingir uma verdade ilusão?

Porque é que muitas vezes ignoramos o que supomos ser a verdade, para nos tranquilizarmos?

Coração que não sabe, coração que não sente.

Esta seria a resposta à questão. Mas, será que nos tranquilizamos ou apenas adormecemos a verdade, camuflando-a nos confins do saber e sentir, como uma dormência que, de quando em vez, irá surgir?

Muitas divagações neste texto, porque divago são também as perguntas.

Ninguém sabe nada sobre a verdade. E, a verdade nada sabe sobre si mesma. É assim este pensar exagerado e abstracto sobre esta verdade. Será ciência?

Talvez um lugar artificial, vertiginosamente iludido, criado para escapar às verdades do mundo real.

Uma narrativa inventada, porque a verdade é uma perspectiva apenas e mesmo real, nem sempre se pode assumir verdadeira.

Ao longo dos séculos, sempre existiram homens e mulheres, capazes de observar o mundo à margem daquilo que ele próprio é; sentido para além do que é mostrado, vivido para além do que é visto por outros. E, verifica-se que este óbvio julgamento da espécie se perpetua em todo o lugar, porque a capacidade de uns é absorvida pela ignorância de outros. É esta a verdade, uma verdade estupidificada pelo olhar do artista, que atrai e distrai, do real mundo que nos assombra e perturba.

O homem é esse animal louco cuja loucura inventou a razão.

Castoriadis

Porque é que brincamos com jogos baseados em regras inventadas?

Porque é que gostamos de nos entreter com produtos criados pela imaginação de artistas?

“Para compreender o problema da complexidade, é preciso saber primeiro que há um paradigma de simplicidade. A palavra paradigma é empregue frequentemente. Na nossa concepção, um paradigma é constituído por um certo tipo de relação lógica extremamente forte entre noções mestras, noções chave e princípios chave. (…) Assim, o paradigma da simplicidade é um paradigma que põe ordem no universo e expulsa dele a desordem.”

Da mesma forma, “que cada ser tem uma multiplicidade de identidades, uma multiplicidade de personalidades nele próprio, um mundo de fantasmas e de sonhos que acompanham a sua vida, (…) tudo indica que não é simplesmente a sociedade que é complexa, mas cada átomo do mundo humano.”

“Mas é preciso compreender que há algo mais do que a singularidade ou que a diferença de indivíduo para indivíduo, o facto de cada indivíduo ser um sujeito.

Ser sujeito não quer dizer ser consciente;(…) é colocar-se no centro do seu próprio mundo, é ocupar o lugar do “eu”. A noção de autonomia humana é complexa, uma vez que depende de condições culturais e sociais. …é preciso regressar à literatura, a esses romances que nos mostram a que ponto podemos ser autónomos e possuídos.”

*Edgar Morin, Introdução ao Pensamento Complexo

Por isso, talvez, a verdade seja ciência. Esta que se funda, em simultâneo, no consenso e no conflito.

A ciência é a aventura da inteligência humana que trouxe descobertas e enriquecimentos surpreendentes, aos quais a reflexão por si só era incapaz de aceder.”*

“O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.” – Dizia Pessoa sobre si mesmo, ou um produto criado pela imaginação de um artista?

Eu, acrescentaria: fingimos tanto e tão bem, que abominamos as regras que mantém uma sociedade democratizada, e nos perdemos, em outras, que nos entretém, porque a vida é dura como pedra!

O que é que a “verdade” pode significar para uma espécie de fingidores tão prolíficos?

“Precisamos de um paradigma prudente para uma vida decente.” Boaventura de Souza Santos

Sei lá. Apetece responder! Será que a verdade é o que temos em mente quando a mente humana cria algo como a inteligência artificial?

Ou, será que estamos tão iludidos no que à mente se ocupa que, fingimos ser, apenas para deixar de ser?

Share this article
Shareable URL
Prev Post

WHAM! – Documentário Netflix

Next Post

De turista a refugiado

Comments 2
  1. Como José Saramago, eu diria que é preciso sair da ilha para ver a ilha.

    Parabéns; excelente reflexão!

    1. Obrigada, Hugo!
      Por me(nos) acompanhares neste RS.
      De facto, é preciso sair da ilha para ver a ilha.
      Gratidão!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next