Quanto vale a tua casa?

Até hoje vivi em pelo menos 16 casas diferentes. Excluo desta lista as casas de férias, os hotéis e passagens pontuais por outras habitações. Viver significa: dormir, cuidados de higiene, refeições e momentos de lazer. Destas 16, muitas delas não fui eu que as escolhi, mas participei no processo de selecção de algumas.

Para a selecção de uma casa, para mim, o importante é a luminosidade e a existência de janelas com vista fluída, de preferência com luz solar direta, o estado de conservação, a pressão da água nas canalizações, o estacionamento, o tipo de ruídos ambientais nas proximidades, os serviços e comércio na envolvente, os acessos rodoviários e a disponibilidade de transportes públicos e se viável, ter o rio ou o mar ao alcance de uma pequena caminhada.

Estes critérios importantes para mim, também são relevantes na quantificação do valor por m2 de um imóvel ou de um potencial terreno para construção. Acrescido de outros, assim como a oferta disponível e a procura existente. E assim surge a especulação imobiliária.

A especulação imobiliária consiste numa transação para criar (acrescentar) valor ao imóvel, seja pelo potencial de construção que representa ou pelas características que já detém e que se encaixam em determinado perfil que se pode direcionar, quer em habitação ou outro fim. Faz-se especulação imobiliária quando se anunciam as características de um imóvel no seu anúncio particular e, muito antes disso, quando se adquirem ou possuem terrenos que são loteados e preparados para determinado fim de construção. Um bem imobiliário é como qualquer bem, alvo de especulação, ou seja de ser passível de criar valor, quando potenciamos os aspectos positivos e transformamos os aspetos negativos em possíveis positivos, de modo a aumentar o seu valor.

Aumentando o valor de determinado bem, afileira-se o filão que poderá aceder ao mesmo, seleccionando o cliente ideal para a transação.

Volta e meia noticia-se a dificuldade de encontrar alojamento perto das universidades e logo surgem placards de obra com residências para estudantes, da expulsão dos mais idosos dos locais mais emblemáticos e surgem residências para idosos, das habitações para famílias e aparece mais um loteamento à saída da cidade, da existência de mercado para alojamento de luxo e surge mais um edifício, ou resort ou aldeamento XPTO.

Se em termos organizacional estas opções são uma solução para gestão da  implantação no solo urbano, implicam também a criação de novos “guetos” (perdoem-me os meus ligados ao mercado imobiliário), em que a estereotomia dos edifícios se confunde com a estereotipia das vivências que fazemos, em que somos obrigados, por questões financeiras e limite de escolha, a ficar onde estão os similares a nós (financeiramente, socialmente ou familiarmente). E isso não será bom!

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