Era uma vez uma pequena menina que descobriu que era para ter nascido rapaz, tanto que os seus pais, convencidos de que iriam ter um menino, demoraram uma semana a dar-lhe um nome – a ilustre Diana Frances Spencer. Com apenas 9 anos de idade, esta mesma menina declarou, cheia de coragem, que só iria casar uma única vez e apenas por amor, não se divorciando nunca, já que os seus pais, outrora apaixonados, já não se encontravam nesse estado de enamoramento.
Era uma vez, noutro tempo, uma jovem Diana que se apaixonou e que se casou com um príncipe, ficando tão contente que o mundo parou para se maravilhar e se apaixonar por uma Diana apaixonada. O brilho do seu sorriso ofuscou a realeza por inteiro e tornou-se numa das mulheres mais famosas no planeta. Porém, ela aprendeu que, apesar de se ter tornado numa princesa e de ter dado um herdeiro ao seu marido, nunca poderia tornar-se na rainha do coração do seu amado. Quando faleceu, dias depois do 36º aniversário do seu baptizado, o mundo, ainda apaixonado, parou durante um longo período para chorar a sua partida. Como afirmou a rainha Elizabeth II, um dia antes do velório de Diana: “Ninguém que tenha conhecido Diana irá conseguir esquece-la. Milhões de pessoas que nunca a conheceram, mas que sentiam que a conheciam, irão lembrar-se sempre dela.”
Não parece haver fim para o nosso fascínio sobre a personalidade que foi Diana Spencer. Na sua cerimónia fúnebre, mais de um milhão de pessoas acompanhou o percurso do seu corpo, enquanto que outras 2000 choraram a sua partida na Abadia de Westminster. Milhões de britânicos ficaram junto às estradas para se despedirem, à medida que o corpo viajava de Londres para Althorp, onde se encontra a casa ancestral da sua família. Durante mais de uma semana, a Grã-Bretanha parecia estar paralisada com a dor que esta perda lhe causou. Diana era a princesa do mundo, um título que mais nenhum monarca poderia reclamar para si, tanto que a maioria dos governantes do mundo expressaram o seu luto de uma forma muito pessoal. “Hoje somos uma nação em estado de choque, num luto profundamente penoso para todos nós. A vida de Diana era normalmente arrebatada pela tragédia, mas, mesmo assim, ela conseguiu tocar a vida de muitas outras pessoas na Grã-Bretanha e por todo o mundo, com a sua alegria e o seu sorriso reconfortante. Ela foi a Princesa do Povo e é dessa forma que ela irá manter-se nos nossos corações e nas nossas memórias para sempre”, declarou Tony Blair, primeiro-ministro britânico aquando do acidente, visivelmente emocionado.
Por detrás do brilho das suas tiaras, da sua roupa meticulosamente escolhida e da aparência que o seu impecável comportamento criava, Diana foi a personificação da anti-realeza e, à medida que se foi descobrindo enquanto pessoa, começou a apreciar cada vez mais o seu papel de agitadora real. “Eu não sigo nenhum livro de regras, sigo sim o meu coração e não a minha mente”, afirmou uma vez a Princesa de Gales. Não era arrogante e conseguia criar sem esforço uma ligação com os seus súbditos, através da sua postura informal e da sua capacidade de criar conversação com facilidade. A sua beleza era singular, sendo a sua principal característica, os seus grandes olhos azuis, a principal fonte de expressão dos seus sentimentos. Como refere o seu pai, o que a tornava carismática era o facto de “ter uma face afável, em que é impossível de não confiar.”
Por estas e outras razões, o entusiasmo do público pela princesa Diana transformou-se numa inapropriada relação amorosa. Ela sabia exactamente como usar as câmaras fotográficas dos jornalistas e dos paparazzi para transmitir os seus vários estados de espírito – namoradeira, infeliz, taciturna, brincalhona e frustrada. A sua face era famosamente caleidoscópica, cheia de vida e em constante mutação. Era esta energia inebriante que a tornava numa verdadeira maravilha de seguir e,tal como os fotógrafos reais afirmam, de fotografar. Algumas das suas fotografias mais famosas são com ela a passear, ou sentada ao lado do seu “príncipe”, com ar de quem quer fugir por debaixo da mesa. Noutras mostram uma jovem mãe, com a cabeça para trás, a rir-se e a aconchegar os seus filhos junto a si.
Diana de Gales, contrariamente a muitas celebridades do seu tempo, permitiu criar no mundo inteiro um conjunto de memórias colectivas – o seu casamento, o seu divórcio e o seu funeral. Com a sua morte, o mundo ficou a pensar numa forma de colocar a sua memória em descanso. Que mais há a dizer sobre uma pessoa, cuja vida foi alvo de especulação sem fim?
A Princesa do Povo iria ficar contente por saber que, apesar da importância da sua existência estar a diminuir, a sua influência no mundo ainda continua viva. Os príncipes William e Harry são alvos da mesma adoração de que a sua mãe também foi. Adoração essa que se espera que seja tingida por uma noção de respeito, que nasceu da tragédia e da distância que o tempo permite ter.