“Quando o vinho desce, as palavras sobem” (provérbio popular)

O álcool é uma substância psicoactiva lícita, cujo consumo tem vindo a aumentar nas várias camadas da população, sendo a maior parte das vezes bem aceite socialmente. Este hábito, quase tão antigo quanto a humanidade, tem um papel preponderante nalgumas religiões, no cinema e até na música. 

Beber álcool faz parte dos rituais de iniciação e aceitação de qualquer adolescente no seu grupo de amigos e está invariavelmente associado à noite, à diversão e a um escape. É também um dado adquirido para a maioria dos adultos. Todos nós já ouvimos, no meio daquele jantar de amigos ou no meio de uma festa, “Mas não bebes porquê?” ou “Só bebes isso?”, como se não beber ou beber menos álcool do que o vizinho nos tornasse menos atraentes ou divertidos aos olhos dos outros. 

Então, por que bebemos? Quantos de nós gostam verdadeiramente do sabor da cerveja ou de uma qualquer bebida espirituosa e ainda assim a consumimos, deixando o gosto de lado e fazendo parte daquela rodada com os amigos? 

Aí desse lado, no meio de relatórios e de um chefe rezingão, se calhar, não vê a hora de chegar a casa, tirar os sapatos, pôr a tocar a sua “playlist” favorita e abrir uma garrafa de vinho. O consumo de álcool tem uma componente associada ao bem-estar e ao relaxamento. Solta os nossos movimentos, as inibições e as palavras, pode ser um companheiro no meio da nossa solidão e pode ser uma forma de escapar a pensamentos e angústias. Ter um copo na mão é, muitas vezes, uma atitude inerente à aceitação social e pode tornar-nos mais desejáveis. Porém e dependendo do tipo de bebida alcoólica ou do estado de espírito, surgem efeitos contrários aos desejados: da euforia passamos à tristeza ou a uma ressaca tão amarga que juramos nunca mais tocar numa gota. 

Em casos extremos de dependência, o álcool funciona como destruidor de vidas e famílias e tem muito pouco de sedutor. Avaliar o nível de dependência é, habitualmente, tarefa difícil para os intervenientes. 

Como em tudo na vida, a medida depende de cada um. Há quem se sinta embriagado só com um copo de vinho e há quem tente beber até ficar num estado quase catatónico.  

Novos estudos sobre as substâncias psicoativas vêm mostrar que o álcool não tem tanto o efeito de nos fazer esquecer, como gostaríamos, mas sim de avivar aquelas memórias negativas que tentamos diluir. 

Uma garrafa de vinho funciona como uma arma poderosa: pode ser um acto de intimidade se partilhada com alguém ou pode ser um movimento solitário, num ritual que acompanha a nossa solidão e a torna mais suportável. E transmite-nos uma sensação de pertença… não será isso que acabamos todos por procurar num hábito ou num objecto? 

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