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Pinceladas sobre as Presidenciais 2021

Temos de partir o quanto antes para podermos atingir a meta a tempo de não deixar esmorecer a esperança.

(Marcelo Rebelo de Sousa)

Propus-me fazer uma análise sintética a este último ato eleitoral, como tenho feito nos últimos anos para os jornais onde fui trabalhando e/ou colaborando. Vou tentar ser o mais objetivo possível, despido de ideologias e demagogias.

  • O vencedor único destas Presidenciais foi Marcelo Rebelo de Sousa. O quão me apraz ter sido um candidato e não o valor da abstenção em si. É certo que foi apenas por duas décimas percentuais de diferença entre ambos, mas o suficiente para garantir a vitória determinante e inequívoca. Não foi surpresa para ninguém, certamente, e uma vitória de todo o Portugal, efetivamente, independentemente em quem se votou ou para quem não votou. Ou não tivesse ganho totalmente e de forma inédita, em todos os 308 concelhos do país. Todos! Portanto, é o único vencedor! E o único que era mais expectável que assim fosse, na recondução do seu mandato.
  • Posto isto, base assente na primeira nota e que norteia as restantes, acho lamentável desviarmo-nos disto e ter-se dado foco excessivo para quem ocuparia o 2.º lugar, para intriguices germinadas nas politiquices, para leituras à Direita e à Esquerda – extremas ou não – de quem roubou mais votos a quem e não havendo assim, naturalmente, consenso entre os candidatos e os vários comentadores e opinantes nestas matérias. Não tenho dúvidas que Marcelo acabou por ser um aglutinador, de modo geral, tendo alcançado votos das diversas áreas, algumas tão distintas entre si. E isso é que há a reter.
  • Pois o único lugar elegível e que conta é o 1.º lugar, quem vai ocupar pela 20.ª vez a Presidência da República Portuguesa: mais nada! Vejo por aí muitos tiques de leitura de se querer colar estes resultados de 5 em 5 anos às máquinas partidárias e às eleições seguintes – sejam autárquicas ou legislativas –, quando o habitual tem sido haver candidatos individualmente livres a avançarem, não fazendo por vezes parte do coletivo militante dum partido que os desafia (salvo uma exceção ou outra). Mesmo que indiretamente ligado ou conivente com ele! Para quê essas associações e visões futuristas e catastróficas, quando depois muitos desses candidatos não voltam mais à esfera política, nem a concorrer a novas eleições nem a estarem nas direções/conselhos nacionais dos partidos. Veja-se o próprio Vitorino Silva, que veio pela 2.ª vez marcar ponto só nesta categoria, deixando-se depois de ouvir falar dele e do seu eventual serviço público nos anos de intervalo deste ciclo eleitoral. Quem diz o conhecido «Tino de Rans» – e destaquei-o por ter bisado agora consecutivamente neste tipo de eleições, diz também os restantes candidatos anteriores às Presidenciais, que já eram esporádicos. Pouco se vêm, atualmente, conectados com a política e sem os holofotes de outrora: Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto, Paulo de Morais, Edgar Silva, Cândido Ferreira, Jorge Sequeira, Fernando Nobre, Francisco Lopes, José Coelho, Defensor Moura, António Pereira, António Abreu, entre outros. Muitos dos Portugueses, porventura, já nem se lembram de alguns desses candidatos, do que defendiam nos seus programas (quando os há clara e publicamente) e o apoio do partido que tinham ou não, se é que tinham, etc.

  • Muitos ainda não perceberam que as Presidenciais valem por si no que toca à sua imprevisibilidade de resultados. Como é possível ouvir-se que com eles quer dar-se alerta e cartão encarnado à governação do país (seja quem for que esteja ao seu leme), quando isto são Presidenciais e não Legislativas?! Este leque de candidatos e seus altos e baixos verificados comprovam essa referida imprevisão. Não tem que se estar sempre a reclamar e associar a carga partidária: essa tendência, muito comum de outrora, foi-se perdendo ao longo dos tempos nas Presidenciais. Vota-se mais na pessoa em si que se candidata, do que se conhece e aprecia nela ou não, do que se vota num partido. Esta “obstinação” tantas vezes hereditária, com raízes familiares, começa a não ter tanto peso, pelo menos nas Presidenciais – e mesmo já nas Autárquicas (veja-se quantos independentes conquistaram em 2017, por mérito próprio e não de partidos, o governo camarário!) –, ao contrário dumas Legislativas, por exemplo. Isto, a meu ver e olhando aos factos concretos. Essa imprevisibilidade, que faz sempre alterar sondagens (ainda agora aconteceu: algumas delas estarem acima ou abaixo entre a margem mínima e máxima que deram para os candidatos e para a abstenção), provém precisamente do descontentamento duma parte do povo nacional, mais afligido pela pobreza, desemprego, condições precárias e outros problemas sociais. Sejam em áreas mais rurais ou urbanas. E, ainda, por termos precisamente mais duas alas políticas no prisma nacional, pelas quais – em Presidenciais – nunca antes nenhum candidato se situava: a liberal e a da extrema-direita. Bem ou mal, temos um país mais alargado e reconfigurado, politicamente. A verdade é essa! Por vezes, quanto mais há para escolher, mais difícil pode ser a escolha (ou não!).
  • E volto ao candidato reeleito e nosso indiscutível presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, para realçar três características peculiares que me chamaram a atenção nele e que são de destacar, até pelo seu sentido de Estado, de coerência e convergência: antes, durante e depois da campanha. Primeiro, antes, no facto de – e soube-o por uma fonte segura em Belém – ter decidido fazer a campanha pelos seus próprios meios, sem a sua equipa presidencial, precisamente para “separar as águas”, distinguir poderes, e agindo singularmente por si em toda a sua agenda. Não é para qualquer um, mas alguns dos outros candidatos infelizmente não entenderam isso e – como não tinham mais nada para dizer nos debates – alegaram que não viram distinção entre o Marcelo presidente do Marcelo candidato. E ocupavam tempo de antena, paga pelos Portugueses, com isso (entre outras baboseiras). Segundo, durante a campanha, ao ter sido constantemente alvo de contínuas críticas – esse foi o mero propósito da campanha de alguns e, por vezes, elas foram ofensivas –, Marcelo soube estar. Soube defender-se serenamente. E soube ignorar, quando teve de ser, pois sabe que “podemos curar qualquer mal com dois remédios: o silêncio e o tempo” (A. Rubinstein). E terceiro, após a campanha e já na noite eleitoral, soube ser humilde e senhor da sua humildade, para esperar longamente que todos acabassem de discursar – com mais ou menos pompa de circunstância – para poder dirigir-se legitimamente ao país, sem a mesma pseudo-pompa. Ele que era e é o único vencedor e cuja pompa tinha todo o sentido de existir! Porém, optou pela maior das simplicidades, porque a situação corrente assim o exige. E começando de modo tão nobre, recordando o tempo tão rude e agreste que vivemos e os que dele foram principais vítimas. Tão aparentemente sozinho, mas efetivamente com todos – que são imensos! – os que o apoiam e estão com ele, de perto e à distância. Portanto, os resultados de Marcelo, mais uma vez e em 8% melhor do que há meia década, não deixam hesitações nem crises políticas no horizonte (vaticinada por uns quantos). Assim continue nessa sua determinação em querer fazer mais e melhor pela Nação.
  • Uma nota para a sempre histórica abstenção em Presidenciais, sobretudo quando se trata dum segundo mandato, que não é de agora, como tantos quiseram justificar com a pandemia, enfim. A única exceção foi a reeleição do general Ramalho Eanes, em 1980, registando-se “apenas” 15,61% de abstenção. Bons tempos, para a abstenção, nessa altura! A verdade é que muitos Portugueses não as levam tão a sério, como umas autárquicas ou legislativas, para decidir quem nos governa diretamente. Tomam-nas como secundárias, tentando reduzi-la na sua importância. Mesmo tendo instaurado Marcelo uma Presidência mais próxima e afetuosa, demarcando-se nessa esfera de anteriores Chefes de Estado nacionais. Esta abstenção já era elevada e ciclo após ciclo presidencial vai elevando-se mais: 37,84% em 1991 + 33,71% em 1996 + 50,29% em 2001 + 38,47% em 2006 + 53,48% em 2011 + 51,16% em 2016 + 60,5% em 2021.

  • Lamento que com essa análise à vista de todos e de há muitos anos pelas estatísticas publicadas pelo CNE, continue a assobiar-se para o lado e a adiar-se a resolução para combater incisivamente a abstenção, com aspetos teoricamente tão simples como ajustar a Constituição no sentido de haver votos eletrónicos e por correspondência. Será assim tão difícil, para além da notória falta de vontade política generalista? Já se teve mais que tempo e tempo a mais não faltará para se remediar estes lapsos sucessivos para as Autárquicas 2021, possivelmente dentro de oito a nove meses! Igualmente lamentável é não se ter solucionado a tempo os que ficariam infetados com covid muito em cima dos dois dias eleitorais (o antecipado e o principal), não tendo como votar, bem como – problema de há muito – com bastantes emigrantes nossos pela Diáspora que queriam, mas não puderam votar. Ora as poucas mesas de voto, lá fora acrescidas (de 121 para 150), obviamente não chegaram, tendo em conta que aumentou de 300 mil para 1,5 milhões o número de portugueses a viver no estrangeiro e olhando-se à distância de largos quilómetros que muitos têm de fazer para chegar ao Consulado ou Embaixada, a fim de votar!
  • A Democracia é e deve ser para todos, não só para alguns. Nem se deve alimentar das quezílias divisionárias dos dois grupos predominantes instalados na Sociedade: os que votam e os que não votam, os iludidos e os desiludidos com o Sistema. Por exemplo, tantos se têm debatido com os apoios claros e escuros nas Presidenciais pelo PS – partido no Governo –, mas vejamos a tradição deste em não ser sempre evidente o que fazer ou como fazer. Neste ano, deixando em aberto a ala socialista, o secretário-geral (e primeiro-Ministro), já tinha manifestado apoio ao candidato Marcelo (inversamente, o mesmo aconteceu em 1991, na reeleição de Mário Soares, com o apoio tácito do PPD-PSD, daí os seus 70,35%). E Ana Gomes, sabendo de antemão que não era a escolha óbvia e declarada do PS, avançou na mesma e, mesmo depois de perder, veio reclamar essa falta de apoio… Quando o PS apoiou Sampaio da Nóvoa nas Presidenciais 2016, teve também uma socialista para “baralhar” as contas (Maria de Belém Roseira); o mesmo sucedeu em 2006, em que apoiando Soares, não deixou de concorrer simultaneamente outro socialista: Manuel Alegre. Portanto, no ciclo presidencial, tem havido essa repartição interna neste partido, criando desconforto e afetando, naturalmente, os seus resultados no mesmo.
  • Outros se têm debatido com previsões futuras e apocalípticas, que pantomimam: não é tempo para isso, concentremo-nos em terminar de vez com esta pandemia sem mais mazelas e em esbater os prejuízos de maior que agudizam nos vários sectores (pilares do país), já de si em recursos e meios tão magricelas. Preocupados estão, afinal muitos, com a antecâmara do poder e/ou contrapoder, em fazer disto um trampolim ou tubo de ensaio para algo mais além/adiante, contando votos – se subiu ou desceu, se superou expectativas ou afundou – como se contam os trocos no bolso das calças…
  • Viva Portugal! Mesmo em todo este seu maranhado de convicções e mesclado de decisões, dos que governam (à sua maneira) e dos que são governados (mesmo sentindo fugir-lhes a esteira). Concentremo-nos em ser realmente Portugueses, porque todos o somos, queiramos ou não – bons ou maus –, sem nos desviarmos do essencial e sem estarmos a bombardear/falar constantemente do superficial, que se alimenta dessas falsas atenções e especulações… Depende de todos nós essa estabilidade que queremos e que alcançamos com esta vitória expressiva de Marcelo Rebelo de Sousa. E, por fim, como escrevia um amigo no seu Facebook sobre estas eleições: “quanto a mim, sobram imensos ensinamentos, muitíssimos sinais e enormes preocupações” para as crianças/jovens de hoje – somaria eu –, que são os atores e decisores do futuro. Viva Portugal e o presidente (re)eleito! Ambos são o que temos confiadamente, neste momento, de mais certo e por perto e democraticamente aberto.
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