Pois é, queridos leitores, desta vez vamos falar de pessoas. Pessoas, pessoínhas, entre outros. Tenho uma amiga que não gosta de pessoas, ou melhor, não gosta de muitas pessoas no mesmo sítio e, ao fim de 4 anos em Lisboa, começo a perceber o ponto de vista dela.
Vamos por partes e identificar os grupos de pessoas.
Pessoas nos transportes
Ai, minha gente, o quanto me enervo aqui. Eu sei que ninguém gosta de se levantar cedo e muito menos para ir trabalhar, mas, eh pá… tenham dó. Quando está alguém a sair do metro, deixem primeiro sair e depois é que entram! O mundo não está para acabar nem estamos numa série da “Guerra dos Mundos”, onde lutamos pela sobrevivência para apanhar o metro. Não é por me atropelarem que vos vou deixar entrar, pelo contrário. É da maneira que vos barro a entrada, caros amigos. Eu de manhã já estou irritada o suficiente, com sono, a ressacar da minha cama que ficou abandonada a sussurrar-me para ficar, quanto mais chegar ao metro e ter que levar com este cenário. Respirem malta, respirem. Há sempre metro de 5 em 5 minutos.
Contudo, a coisa não fica por aqui. Depois dentro deste grupo, enquadra-se um subgrupo: gente com problemas de audição. Malta, ninguém precisa de ouvir às 8h da manhã que a vizinha lhe foi pedir ovos há uma semana e que não os devolveu, ou que a cunhada é uma linguaruda, que estava a discutir com o pobre do marido, porque ele deixou uma caneca do café no lava-loiças. Malta, é de manhã, não precisam de berrar alto ao telefone, tenham dó de quem vai ainda meio a dormir até ao trabalho, não os acordem assim. Depois há aquelas pessoas em que o telefone está a tocar há mais de 50 minutos, mas os donos estão em “Namek” e não se apercebem que é o telemóvel deles.
Ainda por cima com musicas tipo o “Renascer dos mortos” e com o som do telefone ao mais alto nível. Uma vez estava eu no autocarro, a morrer por chegar a casa, quando oiço, atrás de mim, uma voz: “Tu achas isto normal? Ela foi dizer ao meu marido que eu estava com o fulano X e que fui eu que organizei o jantar só para o ver. Vou-lhe partir a boca toda, quando chegar a casa, hoje não, mas amanhã sem falta”. Maltinha, ninguém precisa de saber que é uma vizinha irritante com muitos “amigos” espalhados pelo bairro. É de salientar que o povo português trabalha tanto, que até tem dia marcado para andar à porrada.
Ah! Não esquecer aquelas senhoras idosas que fazem tricot no comboio, que, simplesmente, adoro. Se lhe derem dois dedos de conversa já têm companhia para a viagem toda. Uma vez conheci uma senhora no autocarro que me descreveu a casa ao pormenor. Se quisesse assaltar a senhora, já tinha a planta toda da casinha.
Desta categoria, poderia dizer imensa coisa, de imensa coisa que vi, mas vamos ficar por aqui e passar ao grupo seguinte. Não quero ser crucificada na Internet.
Pessoas no Hipermercado
Ai, mãe, por onde começar.
Vamos começar por aquelas pessoas que levam as pobres criaturas aos supermercados só para terem prioridade. Vemos logo as que fazem de propósito e as que não têm mesmo onde deixar os filhos, senão terem de os arrastar para o mundo encantado dos brinquedos do Continente. As pessoas que vão com as crianças porque não têm opção, por norma não se queixam de não lhes darem prioridade, elas querem apenas despachar aquilo antes que os diabretes destruam o hipermercado todo. As que fazes que propósito não. Reclamam logo: “Então? Não há prioridade para quem tem crianças ao colo?” Têm a criança ao colo, porque o carrinho do bebé transformou-se no carrinho das compras. Sabem que a moeda que colocam no carrinho das compras volta de novo para vocês, certo? Eu juro que aqui muitas vezes só me apetece ser mal-educada. Não, amigos, não é ser paciente e falar com moderação, é ser mal-educada mesmo.
Depois, ainda dentro do grupo dos diabretes, existem aquelas pessoas em que os miúdos rebolam no chão, deitam tudo ao chão, choram como se lhe estivessem a arrear forte e feio e as mães só dizem: “Ai, Pedrinho, pare. Já me dói a cabeça. Já lhe compro o carrinho, tenha calma.“
Como? Dói-lhe a cabeça? Imagine quem anda ali já stressado por ir gastar dinheiro e ainda ter de ouvir aquele diabrete aos gritos. Já lhe compra o carro? Realmente a minha mãe era muito à frente para o tempo dela. Se eu fizesse a minha mãe passar por esta vergonha, dava-me uma malha e ainda me dizia “agora, sim, tens motivos para chorar, mas aí de ti que chores!” E eu só tinha de engolir e a seco.
Depois temos aquelas pessoas que metem 1€ no carrinho e ‘bora passear pelo Continente. Sem pressas, uma tarde inteira, a ver todos os corredores, a ver as promoções, a cheirar tudo, a ver os rótulos todos, a meterem-se à frente das pessoas que realmente estão às compras com o tempo contado, que empatam o caminho, vão a 5km/h e tudo isto para quê? Para depois chegarem ao final das compras e só levarem pão. Pão! Três horas só para comprar pão. Ah, e um pacote de pastilhas de mentol, porque estavam em promoção ao pé da caixa.
Depois há aquelas pessoas que levam a família toda, incluindo as pequenas criaturas, bem domesticadas, diga-se de passagem, cada um com uma tarefa. “Tu ficas encarregue do talho. Tu da charcutaria. Tu do pão e eu vou aos congelados. Bora! Encontramos-mos na caixa.” E vai cada um, em euforia, à sua vida, ver quem acaba a sua missão em primeiro. Isto, sim, é uma família organizada. Nem a família do Kevin McCallister é tão organizada, que todos os anos se esquece da criança sozinha em casa. Eu juro que adoro esta família nas compras.
Pessoas no Shopping
Agora, sim, vamos entrar num grupo sensível, ainda para mais na época em que nos encontramos. Ai, malta, o quanto detesto a Mariah Carey nesta altura do ano. Primeiro, porque a moça sem fazer nenhum, ganha sempre milhões e segundo, porque ainda nem dezembro começou e já estou farta da música de natal.
Começa dezembro e as pessoas começam a encher o centro comercial. Pudera, está bem mais quentinho, tem sofás e não se gasta eletricidade. Aqui, temos tantas pessoas com características tão diversas. Temos aqueles senhores idosos que a seguir ao almoço, em não está a dar nada de jeito na televisão e como está frio para irem para o jardim jogar às cartas, vão dormir a sesta para os sofazinhos confortáveis do centro comercial. Que maravilha! Musiquinha de natal de fundo, ar quentinho ligado e um sofá que se ajusta à nossa preguiça.
Depois temos aquelas pessoas que vão só marcar presença no shopping. Levam um saco de marca vazio e andam ali como se tivessem feito a maior compra da vida delas. Desarrumam as lojas, criticam que os artigos não são bonitos, que têm defeito, de que se calhar ficavam melhor com uma cor que não existe em loja, mas, não, gente, vocês estão apenas na mesma categoria que eu – “no Money, no funny”.
Por fim, temos ainda aquelas senhoras reformadas (sem nunca terem trabalhado, mas, como o marido é rico, aturá-lo durante anos conta como trabalho árduo), de 60 anos, com uma pele bem melhor que a minha, que vão ao cabeleireiro, vão à loja do Gato Preto, vão à Ana Souza buscar aquela peça do século passado ao preço de um rim e vão à Furla comprar uma malinha de fazer inveja às moças mais novas. É aqui que me sinto pobre.
E é isto malta, poderia dizer tanto, mas já não era um texto, mas, sim, um livro.