The Jessica Chastain Show

É de ver Jessica Howard, mais conhecida com o sobrenome Chastain,  e todo o seu percurso no teatro, televisão e cinema norte-americanos e trautear a música que Vinícius de Moraes e Tom Jobim lançaram ao mundo na década de 60 – Garota de Ipanema. Não, Jessica não se passeava pelo calçadão, nem tão pouco é brasileira, mas merecerá que se lhe dirijam os versos ‘‘olha que coisa mais linda, mais cheia de graça’’.

Caminha discretamente pelos holofotes de Hollywood, esta ruiva da California. ‘‘Nos últimos anos, devo ter sido reconhecida por umas quatro pessoas’’, disse, em 2011.  Como complemento a toda a sua reserva surge a total compenetração no trabalho – em apenas quatro anos esteve em onze filmes, em todos eles com papéis de destaque. Porém, nada a faz levitar por um momento que seja – ‘‘nunca quis, nem quero ser, uma estrela de cinema. Quero ser uma actriz! Não bebo, nunca fui a uma rave e sempre que faltava às aulas era para ler Shakespeare’’.

Nasceu Howard e tornou-se Chastain, a Jessica que nasceu em Sacramento e que viu o New York Times intitular o Festival de Cinema de 2011, o ‘‘Festival de Cinema Jessica Chastain.’’ De criança apaixonada pela dança, em particular pelo ballet, Jessica depressa se virou para o teatro, aquando da sua entrada no liceu. Em colectividades amadoras, na sua adolescência, começou a interpretar a sua melhor leitura das horas vagas, Shakespeare, com destaque, claro, para Romeu e Julieta.

Encorajada, na altura, a concorrer à Juilliard School, Jessica cativou prontamente figuras importantes da representação e do audiovisual nos Estados Unidos. Robin Williams, por exemplo, ao vê-la em cena, ficou deslumbrado, a ponto de lhe oferecer a tão desejada bolsa para os seus estudos, na prestigiada escola de representação. Porém, Robin não foi o único a perceber o potencial da jovem actriz. O produtor John Wells – de Os homens do Presidente – recrutou-a e catapultou-a para o conhecimento geral, através da sua inclusão em séries como Lei e Ordem, Serviço de Urgência, ou Veronica Mars.

As séries substituíam, assim, os poemas e as composições da adolescência, na ocupação do tempo de Jessica Chastain, que escasseava à medida que mais e mais olhos se colavam às prestações da actriz. Não é de estranhar que, em 2008, se estreie no cinema, ainda que timidamente, com Jolene. Dois anos depois, começa a gravar películas que vieram a tornar-se êxitos de bilheteira. Terrence Malick, realizador conhecido por A Barreira Invisível – e por, em quatro décadas, ter feito apenas cinco filmes –, apercebeu-se do seu talento e quis que a ruiva fosse, ao lado de Brad Pitt, protagonista do seu The Tree of Life. Orgulhosa, Jessica disse que Terrence foi ‘‘o mais querido, inteligente, simpático e generoso  homem que alguma vez poderia ter conhecido’’.

Para o aclamado The Help, em que interpretou Celia Foote, uma rica sulista a tentar ser boa dona de casa, o papel parecia estar-lhe destinado. Tate Taylor, director do filme, soube, desde logo, que a pessoa para dar vida a Celia seria a mais complicada de encontrar: ‘‘vi imensas actrizes a tentarem fazer alguma coisa pela Celia, mas nunca era o suficiente. A Jessica apareceu, fez o papel, e arrasou. Chorei, literalmente. Estávamos todos extasiados. Ela, quando acabou, agradeceu e saiu’’.

Sai, igualmente, em The Debt, com a garantia, mais uma, da sua versatilidade. Com o papel de uma espia judia em busca de um torturador nazi, no pós-guerra, mostra o seu alemão em parte das falas e destaca-se ao lado de Sam Worthington, na causa que os uniu no filme. Com Take Shelter, Chastain interpreta uma esposa assustada com as visões apocalípticas do marido. Pode falar-se ainda em Coriolanus, aonde represente uma mulher companheira de um general impiedoso, ou no The Killing Fields, em que surge no papel de agente policial.

Al Pacino diz, de Chastain, que está ali um ‘‘talento celestial’’.  Convidou-a, naturalmente, para uma adaptação cinematográfica de Salomé, de Oscar Wilde Wilde Salome, depois de ter brilhado no teatro com esta mesma adaptação. Os planos, esses, são muitos e quase parecem reproduzir-se, num futuro próximo. As revistas da especialidade, apontam para a figura da ruiva mais popular, actualmente, dos Estados Unidos e, como que com incredulidade, lançam um ‘‘She’s everywhere!’’. Na verdade, Jessica Chastain está envolvida na próxima grande produção da premiada Kathryn Bigelow, num dos apontados ‘‘filmes de 2013’’ – Zero Dark Thirty. Terrence Malick, novamente ele, famoso pelos seus interregnos, parece ter ganho nova vida, desde que conheceu Chastain. Virá aí novo filme, nova colaboração e possíveis ingredientes para um novo sucesso estar criado.

Jessica Chastain, a própria, sem papéis, ou representações, de 1,63m e de 30, ou 35 anos – não revela a idade e a imprensa divide-se nas duas opções – continua a viver pacatamente o seu maior desempenho – a sua vida. Dedicada a causas, vegetariana irredutível, Jessica prefere assistir às nomeações e aos prémios como se estes não fossem para si. Timidamente, teima em reconhecer o êxito real, preferindo, humildemente, regozijar-se pelo trabalho que tem vindo a desenvolver. A prática de ioga, o jogging matinal e o seu carro, já com mais de dez anos, esses, são hábitos certos, a manter, independentemente das carpetes vermelhas que se lhe possam estender.

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