Impulsionada pela crise económica mundial, a situação actual de Portugal deixou a descoberto anos de má gestão política e de aplicação de fundos que nos conduziram a um endividamento brutal e a uma posição praticamente insustentável. O recurso à ajuda externa não se fez esperar e a receita da austeridade voltou a fazer parte da dieta obrigatória dos cidadãos portugueses.
Com poucas políticas de incentivo ao crescimento, os níveis de desemprego, em todas as faixas etárias, não param de aumentar, o que deixa no ar uma sensação de que em Portugal não há futuro. A emigração é o destino de muitos jovens licenciados que acabaram os estudos e não encontram emprego estável em lado nenhum, recusando-se a perpetuar a condição de eternos estagiários.
Desta forma, o país que outrora partiu em descoberta do mundo parece estar a ficar para trás. Quando a recuperação económica anunciada pelo Ministro das Finanças começar, o estado vai-se deparar com um cenário negro, desprovido de mão-de-obra especializada e sem recursos humanos para a retoma, caso as políticas implementadas até agora não mudem de rumo.
Em causa não está a obrigatoriedade de pagarmos o empréstimo concedido e a necessidade de reorganizar a forma como o estado português actua na economia. No entanto, a senda quase obsessiva na tónica da austeridade, sem medir bem a sua dose, pode levar o país para o fundo do poço.
Por outro lado, também a mentalidade do povo português tem de mudar. É a altura de assumir parte da culpa e reconhecer que as famílias portuguesas estão endividadas por acumularem créditos em cima de créditos. Se os sucessivos governos esbanjaram fundos comunitários e utilizaram indevidamente muito do dinheiro enviado, também algumas pessoas não souberam gerir da melhor forma os rendimentos. Muitos afirmam que as instituições bancárias aliciaram para que a situação chegasse a este ponto, mas a verdade é que ninguém é obrigado a contrair um crédito e a gastar aquilo que não tem, quanto mais a ter seis créditos (a actual média das famílias portuguesas). Se há alguma coisa positiva que todos podemos retirar desta crise é a necessidade de reeducação da gestão dos rendimentos. A poupança é um acto que tem de ser recuperado, pois esbanjar dinheiro por que se tem, ou porque se pode pedir emprestado, nunca foi uma política saudável (como estamos a perceber agora da pior forma).
Portanto, quando se fala na urgência de uma reforma na estrutura económica, esta refere-se a todos os cidadãos. O caminho escolhido pelo actual executivo ainda que rígido, em algumas áreas, é necessário (apesar de algumas medidas serem injustas e se constituírem como cortes abruptos e passiveis de colocar em risco a integridade e a dignidade da vida humana) para atingirmos a consolidação orçamental tanto no domínio público, como no privado.