Não tenho ilusões de que o mundo em que vivo é o melhor que já encontrámos. Pelo menos para uma pessoa como eu, que vive num país desenvolvido. Dizer que as coisas nunca foram tão más é uma completa falácia. Vejamos um único índice, o da esperança média de vida, para verificarmos como estamos distantes de uma idade média, por exemplo. Acesso à higiene, à educação, à saúde, a entretenimento, à cultura… Tenho a certeza que possuo mais objetos que o D. Afonso Henriques, que tenho mais roupas, que a minha cama é melhor.
Muito há por fazer no mundo, e há locais em que de certeza se vive pior hoje do que antes. A fome, a miséria, a falta de água, os desastres ecológicos, climáticos, a guerra… Mas hoje vamos falar da sociedade em que vivemos o nosso dia a dia.
Contudo, se recuarmos uns meros 20 ou 30 anos podemos verificar que tínhamos uma realidade com menos tecnologia, menos globalizada, sem ameaças de pandemias, de guerras, da IA… Estávamos apenas a cozinhar o mundo dos dias de hoje.
Tomando como exemplo a pandemia de COVID-19, é fácil verificar que a sua propagação se deveu à intensa circulação de pessoas pelo mundo. E não estou a demonizar as migrações, os refugiados, nada disso, porque esses não se deslocam com a rapidez que o COVID tomou. Mas sim a circulação de pessoas privilegiadas de avião. Tornou-se tão comum apanhar um avião para passar um fim-de-semana noutro país como antes se ia passar um fim-de-semana numa praia próxima. Ou ir de avião em negócios numa feira internacional como antes se ia numa feira agrícola noutra região do próprio país. O crescimento exponencial da pandemia deu-se depois da época do Carnaval, altura querida para visitar a Itália…
A ameaça da guerra é cada vez mais assustadora e está já ali no quintal da Europa (só quem não quer é que não compreende porque é que a guerra da Ucrânia tornou-se importante para os europeus). A cada nova guerra renasce o espetro da III Guerra Mundial. Na altura da guerra do Golfo lembro-me de ver na televisão quem guardasse gasolina em casa, com receio de escassez de combustíveis, pelo menos no COVID foi só papel higiénico. A guerra da Jugoslávia foi também muito próxima, mas numa época em que o mundo saía de uma divisão de blocos políticos, e não foi sentida como “nossa” para os restantes europeus. Na Ucrânia não é assim, lembra claramente as ameaças imperialistas nazis, e já não é só uma guerra pelo território, ou pelos combustíveis fósseis: é também uma guerra pela comida. E para ajudar, surge depois outra guerra, na Palestina, com a opinião pública incrédula com as atitudes israelitas que nenhum líder europeu consegue travar.
Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Orotgráfico
Para refletir. Foi conversa da tarde de ontem com amigos.
Que coincidência!
É um artigo pertinente que remete para a reflexão. De facto, nunca tivemos tanto como agora. As queixas são inúmeras, mas, normalmente, surgem de quem nunca passou fome. Parabéns, Olinda.
É mesmo! Obrigada pelas tuas palavras.
É um artigo pertinente que remete para a reflexão. De facto, nunca tivemos tanto como agora. As queixas são inúmeras, mas, normalmente, surgem de quem nunca passou fome. Muito bom, Olinda.
Andamos de barriga cheia!
Certo! Todos de barriga cheia , mas de coração e mente vazios. Nunca tivemos tanto?! Sociedade cada vez mais faminta do ter tudo à mão e de imediato; com decréscimo de valores; agarrados ao seu algoritmo. Lembro-me da minha infância ( que não foi assim há tanto tempo), e de como com pouco ao nível material, fui feliz a brincar na rua e a interagir com o próximo com respeito, educação e valores que já não temos hoje em dia, nesta sociedade consumista que tem tanto mas não sabe o valor de nada.
Só para lhe responder, não considero a minha infância “outro tempo, outra realidade”.