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optimismo em tempo de quarentena

Optimismo em tempos de Quarentena

Acordo antes do despertador. Já não existe a aflição permanente de ter adormecido. Olho para o telemóvel: 94 mensagens por ler, três conversas. Não preciso abrir para saber do que se trata: Coronavírus e as terríveis consequências nas nossas vidas, na nossa saúde, na nossa economia, na nossa sociedade, na nossa saúde mental, na nossa capacidade de resposta enquanto seres humanos. As desgraças que não terminam, os números que só aumentam, aqui, em Espanha, em Itália, no Reino Unido. A China que não quis divulgar desde o início a pandemia que se previa e, por isso, hoje estamos cara a cara com a calamidade. O Governo fala todos os dias, os jornalistas saem todos os dias, questionam todos os dias sobre as medidas de contenção, as medidas de apoio para a economia não se afundar, questionam sobre possíveis soluções, sobre a utilidade das máscaras, sobre o Sistema Nacional de Saúde, sobre a curva, sobre os cruzeiros que chegam a Lisboa, sobre os lares de idosos. 

Abro a persiana e o sol ilumina timidamente o meu quarto, como se soubesse que também ele está preso em si mesmo e no seu lugar, sem poder entrar onde bem lhe apetece, como se ele mesmo estivesse de quarentena. 

Plim, plim, plim. Mais 50 mensagens, duas conversas. Há mais vídeos para ver, mais remédios caseiros, mais recomendações, mais testemunhos, mais fake news, mais notícias terríveis que chegam dos outros países. De quem é a culpa? Onde está a solução? A polícia anda na rua, mas anda também dentro das casas, à distância de uma fotografia da janela a denunciar as pessoas que andam na rua – sabe-se lá por que razão.

Faço o pequeno almoço sem pressa. Tempo não me falta. Ouço as máquinas a trabalhar no aterro aqui ao lado: carregam pedras, areias, terra, descarregam pedras, areia e terra. Uma e outra vez. Ouço a retroescavadora a entranhar as lâminas na terra, o motor a puxar, o sinal sonoro de marcha atrás do camião, as movimentações. A vida continua aqui ao lado. 

Plim. 15 mensagens por ler, duas conversas. Fotografias de pratos confeccionados. Receitas de bolos. Mais vídeos. Mais mensagens reencaminhadas de fake news. Quando é que isto para? Talvez à hora do lanche. Ufff!

Nunca decidi ser optimista. Não sei em que momento isso me aconteceu. Olho para o optimismo como um manto invisível, protector, que vou ajustando conforme as situações. Às vezes tiro-o, para descanso, a mim e a ele. Na maior parte das vezes não me apercebo que lá está, mas observo mais de perto e encontro-o incólume e intocável. 

Nas últimas semanas não sei se o tenho posto, se o guardei ou emprestei a alguém. É difícil perceber o que está realmente a acontecer a cada um de nós e à humanidade e isso preocupa-me. As notícias que se repetem diariamente dão-nos conta de novos casos confirmados, do aumento do número de mortos, dos infectados e dos que estão sob vigilância. Repetimos para nós mesmos as métricas: ficar em casa, manter distância, lavar bem as mãos. 

O que as notícias não dizem é o que é que se está a passar em cada um de nós, nos que saem de casa todos os dias para trabalhar, nos que lutam para salvar vidas, nos que continuam a estar do lado de lá da caixa registadora, nos que ficam em casa com filhos ou sozinhos. A nós portugueses, aos espanhóis, aos chineses, aos coreanos, a nós seres humanos. De onde retiramos a energia para continuar? Talvez cada um de nós também tenha um manto invisível que ainda não descobriu. Talvez sempre soubemos que ele lá está, mas escolhemos ignorá-lo. Talvez precisemos de um manto ainda maior, que cubra toda a gente, todos os seres vivos e o planeta. Talvez o optimismo nos salve de nós mesmos e do mundo. Talvez.

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