Uma agradável surpresa foi a leitura de A Balada de Iza, nas férias de Verão de 2023.
A calma do Algarve em Setembro convida a outro ritmo e a leitura forma parte indelével dessa forma de viver o tempo aberto num leque de escolhas e de modorra.
Trouxe A Balada de Iza, comprado na Livros & Companhia, no centro da Marinha Grande (o concelho da Marinha Grande, com a sua única livraria generalista de rua, tem mais livrarias de rua que alguns concelhos da zona metropolitana de Lisboa!) com parte do dinheiro que o meu pai me havia oferecido pelo aniversário. É mais valioso atribuir um presente a alguém do que apenas dinheiro, que se perde indiferenciado na conta ou na carteira.
Sendo a minha estreia com Magda Szabó, não levava expectativas, o que resultou num ganho imenso: ir descobrindo a autora à medida que mergulhava nesta história sobre o Amor e como ele se afasta da nossa vida quando tentamos controlar tudo o que nos acontece, mesmo que em nome desse mesmo Amor.
Personagens riquíssimas numa época, também ela possuidora de uma carga histórica vibrante (a Hungria sob o jugo da ditadura soviética), a melancolia do passado e a sua importância para conhecermos o presente e encontrarmos o nosso lugar no mundo, o confronto entre o rural e o urbano, a medida do sucesso na vida e a procura desse lugar de comunhão que, mais do que para fugir à solidão, nos ajuda a fugir à solidão com que o sucesso se aparenta.
O pai de Iza morreu e ela leva a mãe consigo para Budapeste. Médica de sucesso, tem a vida organizada e tudo faz para, por Amor à mãe, a encaixar nessa mesma organização.
Antal, o ex-marido, também ele médico, ficou na terra natal, fiel à sua missão.
É a partir deste mote que tudo se desenrola. As palavras dizem pouco sobre o enredo, mas bom mesmo é ler esta história e saborear a maravilhosa escrita de Szabó, que se derrete como algodão doce numa feira deserta ao entardecer, triste, mas agradável (tão agradável!) ao mesmo tempo por podermos desfrutar daquele espaço para nós.
A decisão em levar este livro deveu-se à crítica, aos 40% de desconto e à editora – Cavalo de Ferro – de longe o melhor catálogo em Portugal e um oásis de coragem no difícil mundo editorial neste país. Tem outro sabor ler um livro comprado numa livraria de rua (palavra que tem!) e cada vez estou mais certo da decisão de comprar os livros somente nestes estabelecimentos, mesmo que para tal tenha que fazer mais de dezoito quilómetros (de minha casa). Por isso aproveito as idas à Marinha Grande, para ir à Livros & Companhia. Nem que seja só de visita.