
Lembro-me como se fosse ontem. O dia em que entrei na escola e, num tom eloquente, a professora afirmou que quem não soubesse verbos não sabia viver.
Custou-me a engolir, mas hoje é disso mesmo que vou aqui expor como se de uma grande e listada folha com o pretérito em cima escrito, com uma caneta de cor diferente, se tratasse.
Dificilmente ainda hoje consigo entender a razão de ter conjugado verbos de forma absurda.
“Eu comi”, “eu fiz” e o mais difícil de todos e que demorou anos a aprender… “Eu sou e serei”, sem nunca ter levantado a caneta do papel. Hoje sinto que sei viver, à minha maneira, pois claro, mas sei. Também o que custa é saber que viver não é propriamente arrastar o esqueleto e dizer que vivemos.
Depois de perceber que era gente, ensinaram-me que existe aquela expressão chata e irritante: “timing das coisas”. Já viram que ninguém sabe ao certo dizer qual é o instante que se realizam as ações que são feitas no timing. “Tens de pôr a mudança naquele timing.”
Mais tarde, comecei a perceber que nunca iria saber ao certo o timing e que, em muitas ocasiões da minha vida, bastava-me ter o meu modo.
Está aqui esta receita, faz e no final “bom apetite”. O timing em que metes as especiarias, o modo como misturas e os ingredientes e lhe tornas única deriva unicamente de ti. A vida é mais ou menos assim e, se não soubesses como a conjugar, não sabias viver.
No final das contas, se cada um fosse um verbo, existiria uma infinidade de modos e tempos. Contudo, aí também existiriam várias formas de viver.
E pensam já vocês indignados e com vontade de abandonar este texto que esta que é mais uma das minhas conjugações: e não há várias formas de viver?
Haver há, mas se for para viver, então, que seja intensamente. Com cada coisa a seu tempo, cada macaco no seu galho e, com modos, se faz favor que eu não ande contigo na escola.
Mesmo eu já não andando na escola.