Uma das premissas da humanidade é a sua faculdade em ser subjectiva. Essa subjetividade inerente ao Eu é a qualidade que proporciona a dúvida, a incerteza e a constante busca pelo sentido da vida.
Se olharmos pelo prisma do reino animal, através das suas mentes objectivas, características desse segmento da Vida e do Ser (os animais têm Vida e Ser), que não lhes permite, pelo menos de uma forma humanizada, subjectivar acerca do sentido da vida, veremos que animais e humanos, partilham do mesmo sentido da vida, pelo menos em termos absolutos, a sobrevivência.
No reino animal, a sobrevivência é o sentido da vida e não se cinge somente ao prolongar de uma vida, mas, sim, ao perpetuar da espécie. No reino animal a ordem existe, sob a ordem natural das coisas é um estado específico e exclusivo daquele segmento da natureza. Podemos naturalmente discordar, como humanos, claro, mas nunca o poderemos aferir na realidade, para isso necessitaríamos de estabelecer uma comunicação valida com o reino animal.
Darwin desenvolveu, através da observação e estudo do reino animal, “a teoria da evolução das espécies”. Nele podemos aferir a ordem a que se sujeitam as espécies e qual o sentido da vida que essa mesma ordem emana, a sobrevivência do Ser e não do Eu.
A questão que se prende com a definição do Ser possuí várias interpretações. Não considero nenhuma certa, da mesma forma que nenhuma está errada. São os pontos de vista inerentes à subjectividade humana – diferente será provavelmente a definição de Ser no reino animal, objectivo e focado.
No plano geral, é a natureza que concebe todos os meios, recursos e fins da vida, e nada se encontra fora deste círculo de ordem. O Taoísmo representa essa grandeza de forma sóbria, o símbolo Taoísta, as duas serpentes dentro de um círculo, representam a dualidade da natureza, o bem e o mal, ou as duas forças necessárias ao equilíbrio. As duas serpentes, perfeitamente simétricas, representam a luz (ordem) e a escuridão (caos), o círculo representa a finitude do tempo e do espaço, ou as limitações exteriores do Ying e Yang.
Esta representação Taoísta, representa a sua filosofia, o Taoísmo não é uma religião, mas, sim, um sentido de vida individual, o equilíbrio entre a Ordem (a vida em sintonia com a natureza) e o Caos (a descoberta do desconhecido), esse equilíbrio reside na ténue fronteira situado no centro do círculo, exactamente onde se intersectam as duas serpentes lá contidas, a esse equilíbrio, chamo Consciência na vertente humana, Instinto na vertente animal.
A natureza não falha, porque não busca a perfeição
O que é a natureza, se não o todo? E o todo é Caos e Ordem.
Para não falhar, a natureza dotou se dos mecanismos necessários para atingir um estado de imperfeição perfeita, o reino animal é a perfeita imperfeição do sentido da vida, nela vemos a perfeita estratégia, a objectividade e o fim delineado, a continuidade do Ser, por outro lado, o reino do Homem é a imperfeita perfeição do mesmo sentido, no reino do Homem, a estratégia (o planeamento de longo prazo) dá lugar á táctica (o curto prazo), á subjectividade (o dogma da existência pelo prisma individual) e á continuidade do Eu sob a do Ser como fim a atingir.
As forças definem se pelos princípios que nelas se inserem, a Ordem é definida pela estratégia (o grande plano da vida) e pela objectividade (o fim a que se destina), todavia o Caos, define-se pela táctica (o individuo) e pela subjectividade (o EU), em qualquer reino na natureza, essas duas forças naturais estão presentes, e desempenham um papel crucial, a delimitação do tempo e do espaço disponível.
A mesma natureza que detém em exclusivo os meios, os métodos e o objectivo de proporcionar a vida, constitui-se de igual forma detentora dos meios e dos métodos que objectivamente impossibilitam, ou retiram a mesma.
A natureza constitui-se na perfeita harmonia de imperfeições, a simplicidade da ordem natural das coisas é isso mesmo, simples, mas difícil de compreender.
Torna-se especialmente difícil de compreender, quando ao jogo da natureza, se substitui o instinto pela consciência. Aqui, a ordem natural das coisas, sendo ela a lei natural, torna-se, não em um equilíbrio instintivo, mas sim em um desequilíbrio consciente. A subjectividade da mente humana, proporciona ao Ser as escolhas do Eu, o livre-arbítrio comum e específico da humanidade. O reino animal age por instinto (ancestralidade do Ser), o reino do homem age por consciência (o livre-arbítrio do Eu).
Seja qual for a força assumida, ambas designam a mesma fronteira inultrapassável, o círculo que circunda as serpentes, se nasce também morre, e esta realidade, esta imposição unilateral que a natureza nos impõe, é universal.
De qualquer maneira, não passamos de peões no grande tabuleiro da natureza, simples, porém extremamente complexo. Se notarmos, os gatos domésticos, mesmo vivendo isolados de predadores, em ambientes humanizados, utilizam a caixa de areia para fazerem as suas necessidades básicas, não que o façam para agradar ao dono, mas porque o seu instinto assim o obriga. No reino animal o complexo é simples, já no reino do Homem o simples é complexo.
O Homem não procura o sentido da vida do Ser, como espécie, mas percorre o caminho do Caos, em busca do sentido da vida do Eu, enquanto individuo, sendo o Caos o desconhecido, e o desconhecido realça o medo, e o medo do desconhecido é a ignorância, porque se constitui em falta de conhecimento, o Homem, ao contrário dos animais que dominam o equilíbrio pelo Instinto, vive em desequilíbrio porque não dominam a Consciência.
Sendo a consciência a “via verde” para a escolha individual, e o instinto a estrada pré destinada, o complexo é simples no reino animal, a imposição instintiva, e o simples é complexo ao Homem, a consciência e a liberdade de escolha. O Ser é a simplicidade, o Eu é a complexidade.
O Caos é a força dominante do Homem, e quase sempre o foi, optamos foi por nos definir como a Ordem por auto-imposição.
No entanto, a expressão correcta em tempos pronunciada pelo também polímata Galileu Galilei, parece que foi “Eppur si muove” e não, Eppur si mouve, como refere o autor do artigo.
Já concluía Charles Darwin que: Indivíduos menos adequados ao ambiente têm menos probabilidade de sobreviver e de se reproduzir; indivíduos mais adequados ao ambiente têm mais probabilidade de sobreviver e mais probabilidade de se reproduzir e deixar seus traços herdáveis para as gerações futuras, o que produz o processo de seleção natural (fato).
Curiosamente alguns gatos resistem à caixa de areia, contrariando o seu instinto natural ( e não para chatear os donos), apenas por desconfiarem da “integridade” da mesma. É um ser vivo irracional que no entanto parece ser dotado de uma racionalidade de origem misteriosa.
Vamos fazer amigos entre os animais, que amigos destes não são demais na vida….