O Silêncio dos Inocentes – Segunda Parte

Venho de uma Guerra. Volto da Guerra de te esquecer. Regresso. Sem sucesso. Da Guerra de te tentar tirar de dentro de mim. Da Guerra de parar este tanto teu amar meu. Não consigo. Ultrapassa-me… lembro-me sempre de ti. E da Guerra dos Homens desta Terra.

Nasceu comigo essa dor de Guerra que todos os dias combati.

A nossa realidade do aqui e agora é-me muito próxima de uma realidade como a do Irão, porque todos estamos a um passo de levar com uma bomba, no caminho, a ir para a escola.

Todos podemos cair basta estar de pé. Todos podemos morrer, basta estar vivo.

Uma jornalista intrépida de um canal no Oriente afirmava que é uma Guerra de gerações, de pessoas que não aceitam a religião do outro. Ela afirmava que nunca se tinha visto um judeu pôr uma bomba na Alemanha, que assim este povo tinha provado a sua superioridade ao mundo.

A Guerra entre os Homens é a mentira, porque toda a Guerra se baseia na grande mentira de que o poder será nosso. Mas, quando é que o poder foi nosso? Realmente nosso? Nosso, do povo. Prometer aos Homens que aquela terra será sua, quando aquando da sua morte, outros homens virão e a tomarão de sua, por certo, e com razão. A Guerra da mentira perdura há milhares de anos e cá continuamos, nós Humanidade, a sofrer por ela, a morrer por ela. Nós que ajudamos o velhinho a atravessar a rua, mas que nos estamos bem a lixar para o velhinho do outro lado do mundo a morrer por dentro, a derreter-lhe o coração em um nada de sangue, com seu neto morto nos braços. Nós, humanos, cuja realidade é curta, no espaço e no tempo, continuamos a acreditar que pela Guerra conseguimos os impossíveis, continuamos a acreditar que pela Guerra nos safamos de outros deuses menores e nos iluminaremos no Deus único e bom.

Nós humanos, que educamos crianças e não falamos de quanta maldade se pode gerar numa Guerra. A escola não os prepara para um futuro pior, mas sempre para um futuro melhor. Se calhar, se do mal se falasse nas escolas, como do bem, muito provavelmente as nossas crianças saberiam melhor gerir os seus rancores, as suas mágoas, a sua raiva e o seu ódio, o seu desapontamento perante um mundo cada vez mais injusto. Todos, os que queremos um mundo melhor, temos a obrigação de preparar desde a meninez para o amor, sabendo que o mal existe. Há meninos que o sabem e o têm marcado ferozmente na pele. Existe a Guerra neste momento no mundo. Todavia, temos que ser surdos, porquanto em Portugal não podemos falar da Guerra nas escolas, porque depois, coitadinhos, os meninos vão ter pesadelos. E o menino no outro lado do mundo que não dorme, porque está permanentemente ao som de rockets, bombas e afins? Não existe? Não morará na Palestina e a Palestina é assim tão longe? Não terá pesadelos? Tem e terá por toda a sua vida.

Nada justifica a Guerra, nem a terra, nem o petróleo, nem a água, porque o valor de todos estes é incalculável, tal qual o valor de cada vida humana. Nada justifica a Guerra, nem a tirania, nem a crise, nem a bomba nuclear, nada poderá repor o que perderemos no caso de uma Guerra. Nenhuma criança merece a Guerra, nenhum olhar triste deveríamos provocar-lhes, nunca deveriam na sua infância encarar os olhos de um pai ou, de uma mãe mortos.

Vi fotos da Guerra, são extremamente vívidas, algumas espetaram-me uma faca em fuso no coração. Nenhum ser humano a merece e nada poderá justificar a Guerra. Quando esta máxima ecoar em todas as mentes da Humanidade, então poderemos livres, começar a trabalhar deveras em conexão, para um planeta melhor, até lá, só nos espera a desgraça a cada esquina, afinal há um banco ou, uma farmácia a cada esquina. Há um político, que é uma mentira com duas pernas, a cada esquina, que nos vende aos bancos e às farmácias e ao BCE e sei lá a quem mais. Assim, não seremos salvos do mal maior. Pior, há no mundo, uma Guerra a cada esquina à espera.

O silêncio é um meio poderoso de inquinação da alma.

As lições que não se ensinam na escola… Saber que devo aceitar o perdão do outro, se verdadeiramente arrependido, deveria ser mais trabalhado, recalcado, recalcificado – o perdão e a amizade acima de tudo. É fundamental saber que posso perder. Saber que posso errar e corrigir-me. Saber que posso pisar o pé e pedir desculpa. Saber viver com os próprios erros e as desilusões da vida é meio caminho andado para se poder construir a felicidade. Saber que posso ter o meu deus, muitos deuses ou, deus nenhum, seria luz para a Humanidade, o saber viver em paz. No fim de tudo esmiuçado, vejo claramente bem… A Guerra é Dor. A Paz é Amor.

Tenho esperança que no meio de um mundo de raiva e ódio haja sempre mulheres que dêem amor, um colo, um carinho e que nunca fechem o coração entre as paredes.

Lembra-me disto quando me esquecer de quem sou. Talvez, nesse momento, me tenha esquecido de mim, mas nunca do que não esquecerei, a dor dos Homens na Terra.

A guerra9

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