Passas a correr pela sala e reparas que estou sentada no sofá. Paras, esboças um sorriso encantador e vejo um amor imenso nos teus olhos azuis.
– Mãe estás tão linda! Sabias que te amo?
– Sabia! E tu sabias que te amo?
Abraças-me com força e sinto que todos os problemas e angústias de um longo dia terminam com o teu abraço. É uma sensação indescritível sentir o teu coração bater junto ao meu. Não há poeta, cantor ou escritor que possa exprimir o que sinto, porque só mesmo sentindo.
No dia 5 de Julho de 2004, às 23h49, vejo o rosto do meu filho pela primeira vez. Começo a chorar num misto de alívio e alegria ao mesmo tempo… e a partir daqui tudo muda em mim. Passo a noite acordada a olhar para o bebé que dorme tranquilamente, abrindo os “olhinhos” de vez em quando como se apenas me quisesse dizer “gosto de ti”. Sinto que tudo muda e que a partir de agora tudo em mim sofre uma intensa metamorfose.
Os meses e os anos passaram e, tal como previ no dia em que o abracei pela primeira vez, tudo mudou.
Entrei em pânico com a primeira febre, passei noites em claro, mudei fraldas sem fim, chorei todas as vezes que me senti impotente para tranquilizar uma dor mais forte e desejei que a dor fosse minha e não dele.
Senti que tudo em mim era luz, quando o vi a dar o primeiro sorriso e a dizer “mamã” pela primeira vez. Dei por mim a dar um significado novo à praia, deixando-me de importar com a areia colada ao protector solar, e desisti de sacudir a toalha, porque sorrias cada vez que percebias que a podias voltar a sujar. Sussurrei palavrões sempre que caminhava a pé descalço pela sala e pisava um dos seus inúmeros brinquedos espalhados, para logo em seguida dar uma gargalhada ao visualizar o seu rosto travesso.
Passei a ser mais amorosa, sentimental e muito lamechas, como se por milagre as portas do meu coração se abrissem para o mundo.
Porém, a maior mudança foi perceber que só podia amar incondicionalmente o meu bebé, quando me começasse a amar da mesma forma.
“Não podes dar aos outros o que não dás a ti mesmo”, li algures por aí e concordo a 100%.
Oiço mães dizerem que os filhos estão em primeiro lugar, batendo no peito de forma orgulhosa. Oiço a verdade delas sem nenhum tipo de crítica, sem, no entanto, concordar.
Com a maternidade percebi que só posso fazer o meu filho feliz, se me fizer feliz em primeiro lugar, e toda a minha trajectória de vida tem sido nesse sentido. Quando oiço o meu filho ou filha dizer frases como “estamos aqui para ser felizes”, aí sim, sinto que estou a cumprir de forma gloriosa a missão que um dia decidi abraçar.
Ser mãe é a maior missão da minha vida e aprendo todos os dias algo novo sobre mim. Sempre que a minha mente é ocupada por um pensamento menos bom, logo em seguida lembro do abraço dos meus filhos e sinto que tudo passa ao sentir o bater dos seus corações.
Ser mãe é reinar em amor, ser amor.
Anderson Cavalcante