A história recente da África do Sul e o legado de Nelson Mandela não podem ser dissociados. Legado esse que começa com a sua captura em 1962 e só termina em 2013 com a sua morte, passando pelo seu mandato como Presidente da República, pelo fim do Apartheid e pela introdução de eleições universais na África do Sul. Porém, continuará a existir a África do Sul de Mandela? E o seu legado subsiste?
Mandela era um idealista, uma pessoa que acreditava no (e vivia de acordo com) o seu credo. Apesar de ter feito parte do Comité Central do Partido Comunista Sul-Africano, foi pelo Congresso Nacional Africano que ganhou notoriedade politica. Em Julho de 1962, Mandela e outros membros das forças de esquerda da África do Sul são capturados. Em Outubro de 1963, começa o julgamento, onde Mandela e 10 outros membros do ANC são acusados de sabotagem, tentativa de guerrilha contra o Governo, fomentar a disseminação do Comunismo, entre outras acusações. Como consequência de ser considerado culpado, Mandela é enviado para Robben Island, onde passará os 18 anos seguintes, depois para Pollsmore Prison e, finalmente, para Victor Vester Prison. Num total de 27 anos preso, muitos desses em solitária.
Quando é libertado, em Fevereiro de 1990, faz um tour global, encontrando-se com políticos e apoiantes e encorajando sanções contra o regime sul-africano e, quando retorna ao seu país natal, enceta as negociações finais para o fim do apartheid. Essas negociações culminaram nas primeiras eleições livres da África do Sul, com Mandela a ser eleito Presidente. A presidência de Mandela foi acima de tudo uma tentativa de reconciliar o passado com o presente, de unir o que havia sido separado e de acalmar os ânimos numa tentativa de estabilizar o país. Prova disso é a vitória da selecção sul-africana de rugby no Mundial de 1995. A África do Sul uniu-se por de trás da selecção e o país parava para ver os jogos, esquecendo o apartheid e a discriminação. Prova disso é também a nomeação de F.W. de Klerk e Thabo Mbeki como Vice-Presidentes, uma das inúmeras tentativas de Mandela de acalmar os ânimos numa ainda instável África do Sul. E em grande parte conseguiu. Mais do que democracia, o legado de Mandela é a estabilidade da África do Sul.
No entanto, este mesmo legado de está ameaçado. Os seus sucessores na presidência foram incapazes de continuar com o processo de estabilização da Africa do Sul e os movimentos separatistas continuam com muita força em certas regiões do país. Apesar de esporádicos, há confrontos com as autoridades em manifestações pró-separatistas. Porém, a maior ameaça ao legado de Mandela é o actual presidente, Jacob Zuma. Nos últimos tempos, foi acusado de desvio de dinheiros públicos, aquando das obras na sua casa privada na província de KwaZulu-Natal, e obrigado pelo Supremo Tribunal a repor o dinheiro que tinha sido desviado. Da mesma maneira, foi implicado e acusado em vários casos de corrupção e de um caso de violação, sem, no entanto, ter sido julgado. Apenas para não referir a proximidade e intimidade com a família Gupta, uma das mais ricas e corruptas da África do Sul.
Como disse, o legado de Nelson Mandela, mais do que a democracia, é a estabilização da África do Sul. No entanto, devido à pouca credibilidade dos últimos presidentes e aos movimentos separatistas, corre o sério risco de ser completamente eliminado.