O Presidente que se segue

A ronda dos putativos candidatos às eleições presidenciais de 2026, em Portugal, gira em torno de personalidades previsíveis, mas também daquelas que nos surpreendem quando chegam à listagem dos boletins de voto. Temos, obviamente, à cabeça, nomes de políticos que já desempenharam cargos governativos e que, com frequência, trocam a ordem das cadeiras, sentando-se à grande mesa da política.

Em destaque surgem Gouveia e Melo, Mário Centeno, António José Seguro e Marques Mendes. Ainda que não sejam nomes oficiais, a estratégia da formiguinha está em marcha no labor de enfileirar carreiros quer à direita, quer à esquerda.  Sublinhe-se que à direita existe uma maior definição sobre a escolha do candidato, enquanto à esquerda vão ecoando algumas hipóteses. Depois, tais direções querem-se diluídas para que o eleito seja “O Presidente de todos os portugueses”.

É de lembrar que, no fim do mandato do atual Presidente, Portugal conhecerá um período de 20 anos consecutivos durante o qual o Partido Social Democrata (PSD) sentou candidatos na cadeira presidencial. Cavaco Silva ocupou o cargo entre 2006 e 2016, sendo sucedido por Marcelo Rebelo de Sousa.

Do Partido Socialista (PS), ventilam-se possibilidades como António José Seguro, António Vitorino, Augusto Santos Silva, Ana Gomes e o não militante Mário Centeno. Além destes, e fora da família rosa, há a possibilidade de os partidos à esquerda do PS apresentarem os seus próprios candidatos como tem sido habitual com o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP).

Bernardo Esteves, jornalista do Correio da Manhã (CM) adiantou, no artigo publicado hoje (21 de dezembro), que o sindicalista André Pestana tem a intenção de se candidatar às eleições presidenciais. Numa carta dirigida aos sócios do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), revelou que a decisão teve como mote o desafio lançado por “50 ativistas sociais de várias áreas”. Quanto a promessas, surge o cliché quase incontornável de representar “a voz dos sem voz” e expressa a preocupação relativamente aos passos de gigante da extrema-direita e dos movimentos “racistas, machistas, xenófobos”, no mundo, acentuados com a recente vitória de Donald Trump nos Estados Unidos da América.

O próximo presidente enfrentará não apenas os desafios institucionais inerentes ao cargo, mas também a responsabilidade de reaproximar os cidadãos da política e revitalizar a crença nas instituições. O desafio será transcender simpatias partidárias para optar por quem melhor possa representar os interesses de uma nação plural e democrática.

Está nas mãos dos portugueses a decisão. Está na consciência e conhecimento, optar por aquele que será a primeira figura do Estado, a qual tem sido esvaziada de sentido, pois, pela maioria da população, é vista quase como uma figura algo decorativa. Ainda há muita confusão quanto aos cargos políticos e as suas atribuições.

A descredibilização dos políticos e o divórcio iminente dos cidadãos e a política, promove a banalização de “são todos os mesmos” e a crescente possibilidade de outros imporem as suas forças por não sabermos expressar as nossas opções.

Termino com uma imagem que Vitorino Silva (Tino de Rãs) transmitiu na campanha das últimas eleições presidenciais:“são precisas pedras de várias cores para um mundo sem muros”. Naif ? É uma metáfora, aparentemente, simples, motivo para riso de alguns. É uma realidade a urgência de não contribuir para a construção de muros camuflados de muralhas protetoras propícias a reprimir o bem maior da  res publica: a Liberdade.

NOTA: Este artigo está escrito segundo o novo acordo ortográfico.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Frances McDormand

Next Post

Evolução ou Involução?

Comments 2
  1. Ana Paula, parabéns pelo artigo assaz interessante!
    Para uma pessoa como eu, ainda que percebendo minimamente de política, mas que a acha desinteressante (pelo menos atualmente), o conteúdo apresentado é exposto de forma organizada e elucidativa, para que entendamos.
    Espicaça o interesse ou a falta dele!
    A política de hoje, é no meu entender, banalizada por alguns meios de comunicação social e talvez, por isso, a sociedade sinta uma certa descredibilização nos atos políticos.
    No entanto, para não deixar que isso aconteça, precisamos, nós, de ” não contribuir para a construção desse muro camuflado”.
    Muito obrigada pela tua preciosa crónica.

  2. A dança das cadeiras tem de existir para que soprem outros ventos repletos de ideias inovadoras e libertadoras dos que se sentem vítimas de muralhas.
    Obrigada .

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

A ONU é isto

Quando António Guterres venceu a eleição para Secretário-geral das Nações Unidas (ONU) achei por bem não fazer…