Para as mulheres da minha geração, a Britney Spears foi um ídolo. Cantámos com ela, dançámos com ela, crescemos com ela e queríamos ser como ela. A princesa da Pop era uma amiga que cantava os nossos amores e desamores. O seu bonito e selvagem cabelo loiro era um símbolo para as meninas, que juntamente com ela, se queriam tornar mulheres.
A sua ascensão ao estrelato mundial foi de tal forma meteórica que a sua estrondosa queda fez correr tinta em todo o mundo. Muito se falou, especulou e inventou.
Em Outubro de 2023, foi lançado em Portugal, um livro escrito pela própria Britney Spears onde a cantora conta sem pudor a sua verdade. Longe de ser uma obra literária marcante, o livro “A mulher que há em mim” deixa a descoberto a exploração desumana a que Britney foi sujeita, não só pela indústria musical como pela própria família.
Britney Spears nasceu em 1981 no estado do Mississípi, no seio de uma família de classe média. Ginasta exímia e excelente jogadora de basquete, desde cedo que Britney se destacou pela sua criatividade e liberdade intelectual. O seu pai, sendo um empresário pouco credível e com um problema com o álcool, logo se apercebeu que a sua filha do meio seria uma boa fonte de rendimento para a família. Britney Spears deu os primeiros passos no mundo do espetáculo no Clube Disney e desde essa altura nunca mais parou. A sua carreira acumulava sucessos e dinheiro, o que muito regozijava a sua família.
Apesar de todo o êxito, a família de Britney nunca lhe proporcionou uma estrutura pessoal que permitisse à artista desenvolver uma carreira estável e firme, deixando-a à mercê de uma indústria que maliciosamente se aproveitou da ingenuidade de uma “rapariga da província”. Britney procurou junto de relações amorosas a estabilidade e no ano de 2004 conheceu Kevin Federline que se tornou pai dos seus 2 filhos e marcou o início da queda de Britney Spears. Sexualizada pela comunicação social, perseguida até à exaustão pelos paparazzi e desamparada pela família, Britney entrou numa espiral depressiva que a levou a um internamento psiquiátrico. Perante uma suposta falta de capacidade de tratar de si própria, o seu pai assumiu a tutela da vida pessoal e financeira da filha.
Durante anos, Britney Spears foi forçada a trabalhar medicada sem poder opinar sobre os seus próprios espetáculos. A sua vida romântica era controlada, sendo os seus “namorados” obrigados a assinar um contrato de confidencialidade antes de poder sair com a artista. O convívio com os seus filhos eram apenas permitidos caso Britney cumprisse com todas as suas obrigações profissionais. Tinha uma equipa médica que a acompanhava 24 horas por dia, fazendo medições horárias da sua tensão arterial e caso esta se alterasse, a medicação era aumentada, deixando muitas vezes a cantora num estado total de apatia. No final de cada espetáculo em Las Vegas, a sua família gastava a sua fortuna no casino, enquanto Britney Spears era vigiada por um segurança que não a deixava sair do seu quarto.
Foi no ano de 2017, que com a ajuda das redes sociais, o movimento #freebritney se viralizou e ganhou dimensões globais, com milhares de fãs em todo o mundo a exigir o fim da tutela do pai de Britney sobre a artista. Em 2021, Britney Spears foi finalmente ouvida em tribunal e a sua triste história sensibilizou a justiça norte-americana pondo fim a 15 de anos de “prisão”.
Hoje, Britney Spears é uma mulher livre e desconcertante. Está longe da menina que fazia mortais, mas o carinho do seu público mantém-se. Usa as redes sociais de forma livre e tonta, mas afirma que ao ter estado limitada tantos anos, agora só quer fazer o que lhe passa pela cabeça sem medo de julgamentos.
O livro “A mulher que há em mim” conta-nos isto e muito mais. Impossível terminar o livro sem um aperto no coração e sem a certeza que Britney Spears é, foi, e será sempre uma estrela.