Um herói é definido como uma pessoa de grande coragem, ou autora de grandes feitos. É para pessoas assim que o Panteão Nacional de Lisboa foi criado. Foi por iniciativa de Passos Manuel que, por decreto de 26 de Setembro de 1836, é criado o Panteão Nacional. Em 1916, é definido que se situaria na incompleta Igreja de Santa Engrácia, obra que demorou 284 anos a ser edificada.
Inicialmente, a intenção de Passos Manuel era a de homenagear os heróis do 24 de Agosto de
1820 e só em 1966 é que os restos mortais de Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, João de Deus, Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga são trasladados para o monumento que havia sido classificado como Património Nacional. Desde então, os restos mortais de Humberto Delgado, Amália Rodrigues, Manuel de Arriaga, Aquilino Ribeiro e Sophia de Mello Breyner juntaram-se aos primeiros, de forma a imortalizar os seus nomes junto de figuras históricas, como é o caso de Nuno Álvares Pereira, Pedro Álvares Cabral, Infante D. Henrique e Afonso de Albuquerque.
No início de 2014, o monumento voltou a andar nas bocas do mundo, isto porque, após o falecimento de Eusébio da Silva Ferreira, a 5 de Janeiro, muitos foram os que defenderam que os restos mortais do Pantera Negra deveriam ser trasladados para o panteão. Nesta vasta lista de personalidades das mais diversas áreas da vida portuguesa, estão vários deputados da Assembleia da República, da esquerda à direita há consenso, fazendo com que, pela primeira vez em muito tempo, assistíssemos ao milagre do universalismo no Parlamento português. O deputado social-democrata Duarte Marques foi o primeiro a avançar com a ideia de trasladar os restos mortais de Eusébio para o Panteão Nacional. “Eu tive uma iniciativa pessoal ontem, nas redes sociais, como outras pessoas que se manifestaram favoráveis a essa ideia. Agora, o que terei de fazer junto do meu partido e do resto dos partidos é tentar conciliar vontades para que isso possa ser uma realidade”, afirmou, na altura, à Renascença. Acrescentou, no entanto, que “isto é uma ideia que não pode ser de um partido, ou de uma pessoa, terá de ser de vários e de todos, penso que é o faz mais sentido.”Este é um pormenor importante neste capítulo, pois compete exclusivamente à Assembleia da República a decisão de atribuir as honras do Panteão Nacional e que só pode ser concedida um ano depois da morte do distinguido.
O fervoroso consenso foi abrandado, quando a “temerária” presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, propôs “uma espécie de mecenato”, derivado aos elevados custos desta operação. Questionada, aquando no início do ano, pelos jornalistas na Assembleia da República, Assunção Esteves sublinhou que “a questão do Panteão depende de uma decisão do parlamento, não depende de uma iniciativa da presidente, nem do poder da presidente, depende do poder dos grupos parlamentares.” A colocação no Panteão Nacional do corpo do antigo futebolista, que morreu aos 71 anos, “é uma questão de capacidade e de iniciativa interna ao parlamento”, destacou, lembrando que, normalmente, são os grupos parlamentares que apresentam uma proposta nesse sentido. Contudo, sublinhando falar em nome pessoal, Assunção Esteves acrescentou: “Essa possibilidade poderá realizar-se, eventualmente, num médio prazo, ou num curto prazo. Não excluo que haja essa iniciativa pelas razões evidentes, que todos nós conhecemos, que é a singularidade de Eusébio.” A presidente da Assembleia da República sublinhou ainda que esta operação envolve “custos mesmo muito elevados, na ordem de centenas de milhares de euros”», a suportar pelo orçamento do parlamento. Motivo este que, em 2011, levou a que o processo de transladação de Passos Manuel não tivesse acontecido.
Assim como o consenso nas bancadas da Assembleia, também a polémica se instalou no país, isto porque a lei que atribui a competência ao órgão de soberania define que tal honra deve destinarse “a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”. De acordo com esta definição, onde se enquadra o King? É aqui que se encontra o essencial de toda a questão. Todos reconhecem a grandiosidade de Eusébio, a sua importância na história do futebol, tanto no panorama nacional, como internacional. Graças a ele, durante anos, Portugal esteve nas bocas do mundo. Ele foi e continua a ser uma referência nacional no estrangeiro. No entanto, será isto suficiente para que ele integre a restrita lista de personalidades do Panteão Nacional?