No episódio anterior, abordámos a importância da literacia financeira no quotidiano das populações.
Uma das vertentes da literacia financeira é a compreensão de como funciona a economia familiar. Iniciaremos hoje a viagem rumo ao planeamento financeiro das famílias, libertando sugestões de melhoria na gestão dos orçamentos familiares. O objetivo é contribuir para incrementar o esclarecimento das famílias em matéria de finanças, criando uma figura inovadora: O HCFO.
Seja um HCFO de sucesso
Antes de ser um CFO (Chief Financial Officer = Diretor Financeiro) de um importante grupo económico, empresa ou qualquer instituição publica, comece por ser o HCFO (Home Chief Financial Officer = Diretor financeiro lá de casa).
Na nossa abordagem, o HCFO é o elemento que tem a seu cargo a gestão do orçamento da família, podendo o HCFO ser uma única pessoa ou o conjunto dos que contribuem para o incremento das receitas da família.
Como chegar ao sucesso?
Tal como as empresas, as famílias movem-se na esfera económica como agentes dinâmicos com forte impacto no mecanismo concorrencial e evolutivo dos mercados.
A gestão de uma empresa passa pelo planeamento da atividade gerindo recursos escassos com vista à criação de riqueza e sustentabilidade. O conhecimento / know how não são suficientes para garantir o sucesso da empresa. Uma multidisciplinaridade de fatores, por vezes complexos, podem determinar o fracasso do projeto caso o CEO (Empreendedor) não esteja habilitado a contornar os diversos obstáculos que os ciclos produtivo, económico e financeiro, produzem.
Ao CFO cabe a responsabilidade de gerir a parte financeira da empresa, elaborando o seu plano orçamental, planeando as necessidades de fluxos de dinheiro para fazer face às exigências, aos compromissos e à necessidade de criação de um fundo de emergência para resposta a situações imprevistas.
O papel do HCFO equipara-se ao papel do CFO à dimensão das famílias, aqui consideradas como microunidades de negócio com o objetivo de gerar riqueza, porque esse é afinal o objetivo fundamental de qualquer “Chefe de família”: a criação de riqueza, património, poupança, etc.
Quais são as tarefas do HCFO?
Construir o orçamento familiar mensal
Para que o HCFO consiga promover a gestão eficiente dos recursos tem primeiramente de conhecer muito bem as suas fontes de rendimento e consumos/gastos. A melhor forma de o fazer é recorrer à ferramenta Excel (ou à folha de papel) e elaborar detalhadamente o orçamento familiar mensal.
Os orçamentos não se apresentam todos iguais. Dependendo da fase da vida em que se encontram, da dimensão e estrutura etária do agregado familiar, bem como do seu nível de consumo, o orçamento de cada família espelha a sua situação especifica.
O exemplo que apresento prevê um agregado familiar jovem composto pelo casal e um descendente menor.
Na coluna da esquerda, o HCFO regista as receitas líquidas que entram na carteira familiar. Na coluna da direita, registará exaustivamente todas as despesas mensais.
Fases para a construção do orçamento familiar:
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- Identificar as fontes de rendimento líquido mensal e inscrevê-los na coluna dos recebimentos;
- Identificar os Gastos mensais, inscrevendo-os exaustivamente na coluna de Pagamentos:
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- de caráter fixo e inadiável (Alimentação, educação, energia, transporte, casa, etc),
- os gastos variáveis (Manutenção automóvel, vestuário, etc),
- os gastos supérfluos que assumem um caráter emocional (desejos, luxos, férias, viagens, etc).
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Esta tarefa deverá permitir o emagrecimento da coluna dos gastos e a perfeita identificação daquilo que é importante, priorizando as despesas inadiáveis e catalogando as restantes como investimentos cujo orçamento estará contemplado no fundo de reserva.
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- Reservar uma percentagem do rendimento líquido do agregado para o fundo de reserva.
A fase mais exigente da elaboração do orçamento familiar é determinar o objetivo da família a médio ou longo prazo. Este objetivo pode ser qualquer um, desde a criação de uma bolsa para despesas imprevistas, para obras na habitação, férias, poupança para futuro, etc.
No nosso orçamento mensal surge destacado a componente poupança que traduz exatamente a decisão da família em retirar 10% do seu rendimento líquido para afetar à poupança ou fundo de reserva (conceitos a desenvolver em futuros episódios).
Este valor deverá ser ajustado ao objetivo e à sua maturidade, isto é, deverá corresponder ao tempo necessário para atingir a disponibilidade necessária para cumprir o objetivo. Por exemplo, se quisermos remodelar a cozinha daqui a dois anos, sabendo que iremos ter o encargo de 2.500€, então a poupança mensal para este fim deverá ser no mínimo 105€.
Existe literatura diversa que é mais exigente quanto ao montante a reservar mensalmente. Considero ser justificado o valor apresentado considerando o nível do custo de vida em Portugal e do baixo nível salarial médio.
De acordo com Eurostat, o custo do cabaz de produtos essenciais em Portugal encontra-se dentro da média comunitária, o que não acontece com os ordenados – veja-se quadro relativo à comparação dos SMN(Salário mínimo nacional).
Este desfasamento justifica muitos dos constrangimentos que a população em Portugal encara. Ainda assim, a decisão da percentagem a reservar é sempre uma decisão da família tendo por base as suas expetativas e/ou receios futuros.
O importante é criar uma rotina de reservar parte do rendimento. Com esta premissa vertida no orçamento, passamos às restantes funções do HCFO:
- – Controlar a execução do orçamento;
- – Promover ajustamentos entre rubricas, sem sacrificar a poupança;
- – Controlar a utilização dos fundos de reserva em função dos objetivos estipulados.
No próximo episódio iremos abordar a poupança em Portugal.