O Novo Senhor do Adeus

Muitos são os que se lembram do Senhor do Adeus – de seu nome João Serra – e que se encontrava na zona do Saldanha, em Lisboa, acenando aos automóveis que passavam.

Talvez seja uma personagem desconhecida para muitos portugueses, mas para os lisboetas ou para os que circulavam naquela zona, nomeadamente à noite, é uma personagem emblemática que nos deixou aos 80 anos, decorria o ano de 2010.

Um destes dias, passava eu pela zona da Ericeira quando encontrei um senhor, sentado numa cadeira à beira da estrada, alegadamente à porta de sua casa, de óculos e bengala, dizendo adeus a todos quantos passavam.

Achei curioso, mas pensei que se tratava de algo que tivesse ocorrido apenas naquele dia.

No entanto, passados alguns dias voltei àquele mesmo local e o senhor lá estava. Reparei, também, que os automobilistas e os restantes passageiros já vinham atentos e preparados para cumprimentar este Novo Senhor do Adeus.

Não parei. Não sei o seu nome nem o que o move.

Sei que o Senhor do Adeus, o de Lisboa, marcou muitas pessoas e ainda hoje é recordado! Infelizmente nunca tive o prazer de conhecê-lo.

Este Novo Senhor do Adeus, à semelhança do de Lisboa, não discrimina ninguém, nem pela cor, nem pela idade, nem pelo género, nem pela sua sexualidade, nem sequer pela marca da viatura.

Faz questão de cumprimentar todos, sem excepção.

Este Senhor está, provavelmente, na recta final daquilo que foi a sua vida. No entanto, mostra-nos como podemos, através das acções, perpetuar a nossa existência.

Pode não se tornar imortal como Camões, mas prova-nos, uma vez mais, que não precisamos de ser importantes na música, na literatura, no desporto, na política ou em muitas outras áreas para que sejamos reconhecidos e lembrados.

São os pequenos gestos que fazem de nós grandes, são esses mesmos gestos que podem fazem com que sejamos recordados por várias décadas.

Tenho a certeza de que os miúdos de hoje, serão os idosos de amanhã e muitos deles, portugueses e estrangeiros, lembrar-se-ão do simpático Senhor sentado na beira da estrada, levantando a mão e dizendo Adeus a troco de Nada.

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