Assim que os licenciados caem de para-quedas no mercado de trabalho, correm maciçamente atrás do esperançoso estágio. A proclamada porta para o emprego. Encontrar um até não é o mais difícil, nesta autêntica odisseia. Afinal o que não faltam são ofertas para estágios profissionais e curriculares. O pior vem depois, quando já se esgotou esta opção. As empresas o que querem neste momento é estagiários e não trabalhadores. Para quem não acredita basta dar uma vista de olhos pelos sites de “emprego” (- dizem).
Entra um, sai, depois vem outro e mais outro. Um círculo vicioso. Em cada um deles, o sonho, a esperança de lá ficarem. No final, o abanão para a realidade. Apenas mais um usado, mais um descartado. Depois segue-se a procura pelo “real” emprego. Muitos nãos, muitos talvez, “vamos esperar”, “depois falamos” e no fim NADA! Ainda aparecem aqueles momentos em que tudo parece estar a correr bem, finalmente, a teu favor, “vais ficar” e depois és atingido por um murro no estômago – “ se ainda não tivesses feito estágio…”. Se tiveres vontade de dar uma cabeçada na parede, é perfeitamente normal.
Nesta história de vilões, não condeno totalmente as empresas. Simplesmente se desenrascam. Muitas delas sofrem compulsivamente com os altos impostos, com a incerteza de um mercado pouco risonho. Se têm a possibilidade de terem trabalhadores sobre as suas alçadas a um baixo custo, porque não haveriam de aproveitar? Pode até ser na sua génese pouco moral, mas, como diz a sabedoria popular, “dos fracos não reza a História”. Cada um faz o que pode para sobreviver. O problema está no sistema, num sistema que permite que estas situações se passem e ainda incentiva.
Vive-se num país pouco, ou nada sensível, com os jovens. São meros números para um Governo que prefere em não ver a vidas que estão por de trás desses números, pessoas com sonhos, com ideias, que apenas procuram por uma oportunidade. Oportunidade essa que teima em manter-se encurralada entre uma epidemia de estágios e um Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) inexistente.
Saturados deste pandemónio há quem prefira agarrar nas malas e partir, jurando não voltar tão cedo a um país que dizem não tratar bem os seus cidadãos. Os que ficam por cá são uns heróis. Fazem maratonas todos os dias atrás de um sonho, quiçá de uma utopia. Não desistem. Lançam-se em projectos, agarram tudo o que aparece, continuam a investir na formação e até fazem voluntariado. Não é a geração à rasca (como dizem) é a geração que se desenrasca. Estes jovens têm uma única certeza – precisamos de mudar de rumo. Chega de estágios, queremos empregos. Será assim tão difícil de entender?