Ela aprendeu a chorar com a vida. Aprendeu a soltar as suas lágrimas quando o coração se sentia oprimido. Quando lhe faltava algo, ou então quando lhe sobrava sofrimento. Foi desta forma que a vida a obrigou a crescer. Foram as lágrimas que lhe ensinaram o que era viver.
Ela chorou pela primeira vez, quando sentiu medo. Naquele dia, em que lhe faltou o colo durante todas as horas do dia. No dia em que a vida lhe disse para dar os primeiros passos, sozinha. Quando lhe mostrou que a vida é um trapézio sem rede, em que ela tinha que se arriscar a caminhar. Era preciso ter ousadia e não medo de cair. Não podia estar à espera de ter sempre dois braços, que lhe amparassem as quedas. Que lhe curassem as feridas ainda antes delas existirem de verdade.
Ela chorou a primeira vez, ainda antes de ter conhecido a dor. Chorou com o sabor do medo, porque percebeu que a vida não era só sonhos. Que os dias não eram eternos e que as noites também existiam. Afinal, o sol também tinha que dormir e a lua aproveitava essas horas para brilhar. E, por vezes, a lua até espreitava, sem ser notada, oculta na sombra do sol. Naqueles dias, em que nem sequer a vemos e, depois, à noite apenas existem as estrelas. Tudo isso era viver. Na sua vida aos dias sempre se sucederiam às noites, e as noites sempre precederiam os dias.
Ela provou o sabor das lágrimas e acabou por se habituar. Ela habitou-se a viver refugiada entre os sonhos, que lhe criavam a ilusão e a realidade, que por vezes se tornava num mar de lágrimas. Vestiu-se de sofrimentos. Alimentou-se com choro que a embalava em tantas noites, que ela pedia para não existirem.
Ela provou o sabor das lágrimas e julgou que aquele era o caminho certo para seguir o seu destino. Esqueceu que existiam sonhos coloridos. Deixou de escutar a voz da esperança. Desligou o som do amor. Cruzou os braços perante a imaginação. Virou as costas ao futuro e o coração continuou no passado. Deixou que lhe desenhassem feridas na alma. Ergeu uma muralha à volta do seu coração. Prometeu que não voltaria a sentir amor. Deixou de existir. Tornou-se num fantasma vivo. Alguém que ninguém via. Alguém que apenas sofria.
E, num desses dias, a vida que lhe tinha ensinado a chorar disse-lhe que era tempo de ela parar. A vida disse-lhe que estava farta de a ver a chorar. Tinha saudades do seu sorriso. Estava sufocada com aquele muralha que existia entre elas.
A vida ordenou-lhe que tinha que viver. Era chegada a hora de ela soltar o amor que vivia dentro dela. O amor que já não lhe cabia no coração. O amor que pedia para ser dividido com alguém.
A vida disse-lhe seca essas lágrimas. Arregaça as mangas e faz-te à vida. Despe-te desse sofrimento. Fica nua. Saí dessa rua e vai para a estrada principal. Leva o teu sorriso, que eu guardei durante todo este tempo.
Agora, sorri e vive! Essa é a próxima etapa da tua vida.
O choro é coisa do passado. Deixa-o ficar guardado naquela gaveta, onde guardas tudo o que já passou e te fez ser quem és. Ele já não te pertence, tal como não te pertence esse passado que não podes mudar, mas que te moldou.
Vive! E não te esqueças: usa e abusa do teu sorriso. Esse sorriso que, por sinal, é tão bonito e te fica tão bem.