Anda a circular a teoria que o futuro pertence aos criativos. Sejam eles em formato digital ou analógico.
A criatividade é a mãe da inovação e a melhor amiga da imaginação. E andam sempre juntas. A criatividade é a capacidade de produzir ideias que servem para produzir coisas novas e valiosas, muitas vezes com o sentido de colmatar uma necessidade ou dificuldade.
Não sei porque só se chegou a esta conclusão em 2021. Talvez tenha sido alavancada com a pandemia, tal como o e-commerce. Sempre me disseram que o futuro era dos criativos, dos que pensam out of the box e dos que têm poder de iniciativa.
Tenho a oportunidade de estar em escolas, em colaboração com iniciativas de educação não formal, abordando temas que não estão explícitos nos manuais. Vejo livros em cima das carteiras (secretárias, mesas, o que quiserem chamar; eu cá acho carteira mais romântico), vejo os miúdos a desenhar enquanto o professor fala, vejo brilho nos olhos quando se fala em escrever.
Vi uma rapariga do 12.º ano com o livro A Biblioteca da Meia-Noite de Matt Haig. Eu devorei aquele livro, super-fácil de ler e com uma história mágica. Perguntei-lhe se estava a gostar. “Estou a adorar!”. Eu não estava ali para falar de livros, estava ali para falar sobre violência no namoro. E tive de me focar no tema. Mas confesso a minha vontade de falar com ela sobre o livro, sobre os livros que eu gosto e trocar sugestões.
Noutra sala, vi um desenho absolutamente genial de Pennywise em cima de uma carteira. Perguntei ao rapaz se fora ele a desenhar e a pintar. Sim, fez o desenho para a decoração de Halloween na escola.
Percebo o porquê de se falar tanto em criatividade agora. O mundo está em colapso, apanhamos todos um susto e fomos confrontados com outros estilos de vida (concordando ou não com eles).
Sempre achei que o futuro pertencia aos criativos: os que escrevem, os que desenham, os que conseguem colocar em prática uma ideia, os que fazem aplicações, os que fazem sites, os que sobem ao palco e até os que cantam ao domingo à tarde nas televisões em tendas e em autocarros.
Contudo, junto à criatividade outro conceito: responsabilidade social.
Se já é difícil explicar o que é a criatividade, então responsabilidade social ainda é um desafio maior.
Eu não sou bully de eremitas. Respeito e apoio. Contudo, ser eremita é a escolha de estar sozinho e não a anulação da ideia de viver em sociedade.
A responsabilidade social é o efeito borboleta: o bater de asas de uma borboleta em Portugal reflete-se numa mudança de vento na África do Sul.
Eu sei, eu sei: se tirarmos todas as palhinhas de plástico do mundo, os oceanos continuam com lixo. Eu sei. Vamos encontrar sempre um exemplo para contradizer outro.
Mas isto só sabemos em crescido, na adultice (adultes? adultez?). Os miúdos não sabem. Só sabem criar, pensar, inventar. É essa a função deles. Serem empreendedores e imaginativos.
Sei que se lhes falar da “A Loja Mágica” de James Doty não irão perceber a história na sua totalidade.
Mas sei que ficarão curiosos pela keyword ‘mágica’. E eu não compreendo um mundo em que os miúdos não tenham magia para criar.