Há dias, tive conhecimento que o único jornal de Arcos de Valdevez corre o risco de fechar. Trata-se do histórico Jornal de Notícias dos Arcos. Mais um, entre tantos outros pequenos jornais que por este país fora vivem com a corda na garganta. O que os move não é o bem económico, é o bem social. É a paixão pelas suas terras e pelas suas gentes. Afinal, não são os gigantes que maioritariamente os escutam, são estes pequenos órgãos de comunicação.
Não é uma crise de agora. A morte do jornalismo regional há muito que é anunciada. A queda das vendas, da publicidade e a falta de apoios do Estado, nomeadamente, no que diz respeito ao porte pago, têm empurrado lentamente os pequenos jornais para o abismo. Os dados da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) apontam que, em 2009, existissem 728 publicações periódicas de âmbito local e regional, nos 18 distritos de Portugal, mas, em 2013, eram somente 579.
O que está em jogo vai muito além dos números. É a democracia. Uma boa parte das populações rurais não lêem outro jornal, se não o da sua terra. Querem ver as fotos da festa do Concelho, a entrevista feita ao Presidente da Câmara Municipal, ou o resultado do último jogo do Clube da terra. É o elo de ligação dos emigrantes à terra natal, em países tão distantes como a Venezuela, a Austrália e a África do Sul. Não é exagero dizer que há uma ligação emocional.
De pés e mãos atadas, muitos dos jornais regionais têm vindo a diminuir o seu número de páginas e de publicações para apenas uma, ou duas vezes por mês, e a aumentar os preços. Na maioria dos casos, ficaram dependentes das autarquias locais e dos grandes grupos empresariais, reflectindo-se logicamente tanto no seu conteúdo editorial, como no noticioso. Os cortes também se fizeram sentir no número de empregados. Na realidade, hoje em dia, são mais os jornais com uma única pessoa, de que com dois, ou três funcionários. Isto claro que tem as suas consequências e graves. As publicações passaram a ser conjuntos de press-releases das Câmaras e das Associações. Perdeu-se a investigação, a procura por histórias e pior: a imparcialidade. Se não há dinheiro, não há deslocações. Vivem-se tempos do chamado jornalismo da cadeira.
A solução não é fácil, se fosse, não estariam tantos órgãos de comunicação na corda bamba. Contudo, sou da opinião que chegou o momento de renovar na totalidade o jornalismo regional. Existem muitos jornais com conteúdos ultrapassados, pouco, ou mesmo nada, voltados para os mais jovens. Não são só as festinhas da terra que vendem, são também os projectos inovadores dos mais novos e os seus pareceres. A coluna de opinião não deve ser preenchida por aquela figura importante da zona, que não escreve nada de relevante, que ninguém lê, mas que ninguém tem coragem de o dizer. Deveria, sim, ser escrita por pessoas com ideias concretas sobre as mais diversas temáticas: Política, Cultura, Ciências, Economia e Lazer. Os jovens devem ser chamados a colaborar. A mudança deve começar logo pela imagem. Vamos lá ser sinceros – muitos dos logótipos são do tempo dos nossos avôs, nada atraentes.
Acredito que, com estas pequenas, mas revolucionárias mudanças, os jornais da terra teriam mais rentabilidade. Claro que isso exige uma certa flexibilidade por parte dos seus proprietários, muitos deles ainda presos ao passado… A única certeza é que o caminho adoptado nos últimos anos não tem sido bem-sucedido, daí os constantes apelos nas páginas a pedir ajuda aos leitores. Ouçam mais os jovens e as suas ideias. Afinal, nós somos o futuro. Renovar, é por aí que devem começar.
Parabéns Diana por teres conseguido passar para o papel a realidade nua e crua do jornalismo regional, concordo contigo, plenamente! Mais Jornais cairão por estes motivos tão certos que apontas. Parabéns!