Tal paixão floreada de emoções fortes, tudo começou em jeito de deliciosas quadras, borboletas no estômago cada vez que nos víamos, desejo incontrolável e insaciável de te ter uma e outra vez, prazer que me fazia desejar-te e querer-te num espaço temporal só nosso. O tempo parava somente para contemplar a perfeição do teu corpo!
Chegavas sempre perfumada, de um tal aroma que me fazia querer-te ali, despida de roupa e de vergonha, de culpa e de remorso. O amor, na sua essência de romance e pureza, condenava aquilo que fazíamos, já o desejo no seu culminar de orgasmos doces e quentes, desculpava o que poderia estar errado! E estava e nós sabíamo-lo.
Sussurravas-me ao ouvido todas as fantasias escondidas no teu íntimo, e o toque dos teus lábios na minha pele bastava para te agarrar contra a cama, contra a parede ou contra o chão e perder-me em ti.
Aquele prazer de pele. Aquele prazer que arrepia da ponta do pé à ponta do cabelo. Aquela vontade visceral que, por momentos, nos faz esquecer que existe mundo para além de nós dois.
Chegada a hora da partida, o ritual mantinha-se: o duche era imprescindível, secar o cabelo também, voltar a colocar o perfume, passar o batom, a máscara e o blush e estavas pronta para partir. Despedias-te com um beijo na face e prometias estar de volta na próxima quarta-feira, à mesma hora.
Por agora, sabia que irias voltar para casa, para o marido e para as responsabilidades de esposa. Para a rotina que detestavas, mas que não conseguias largar.
Voltar ao sexo sem vontade e sem prazer e aos orgasmos forçados com o pensamento em nós para que se tornassem mais reais.
A quarta-feira chegou, a hora marcada também, mas tu não.
Teríamos sido descobertos? Parte de mim desejava, ferozmente, que isso acontecesse, que dessa forma te libertasses de uma vida infeliz condenada pela rotina, pelo medo do desconhecido, pelo comodismo. Por outro lado, sabia bem que a esperança de finalmente te ter inteira, só para mim, não passava de um devaneio que nunca se iria concretizar.
No fundo, sabia bem que havias sucumbido à culpa que te consumia, aos olhares que te perseguiam quando saías do prédio todos as quartas-feiras à mesma hora e te faziam sentir suja, desleal, promíscua, indecente, imoral, tudo, menos aquilo que realmente eras: infeliz.
E eu que queria tanto que fosses nada, nada mais que feliz… comigo.