O amor é um sentimento imperfeito num tempo que se quer perfeito

Falar de amor suscita-nos imediatamente a ideia de que os sentimentos deveriam ser perfeitos e que nós procuramos o ideal da perfeição no sentimento, ou melhor, nas pessoas e nas relações que julgamos encontrar e das quais fazemos os maiores devaneios e até autênticos filmes.

O amor sendo o maior fio condutor para a felicidade, para o bem-estar do ser humano, perfeito ou imperfeito, é considerado o sentimento de maior explosão emocional e que deve ser doseado para aqueles que padecem dos males maiores cardíacos.

Ora, se vivemos intensamente de paixões, de amores persistentes e alguns fugazes, sabemos, desde já, que nada é perfeito à primeira vista e que este sentimento que tanto comanda o nosso cérebro, com estímulos sob a forma de hormonas: a Ocitocina e a Endorfina, orientando as nossas ações para sensações de prazer e de bem-estar, também é explosivo quando somos incitados a comportamentos frenéticos, de desnorte e até de alguma agressividade.

O amor é imperfeito, mas nós sonhamos com a sua perfeição que dá jeito, seja em que momento da nossa vida se aplicar.

É nesta abordagem que venho falar do livro e romance histórico O Tempo dos Amores Perfeitos do escritor e jornalista Tiago Rebelo, uma obra que considero intemporal, não só por retratar uma época histórica do século XIX, um tempo de guerras heroicas no interior das colónias africanas, precisamente em Angola, onde os Portugueses foram grandes protagonistas, mas também porque aborda amores e paixões de grande intensidade, com intrigas quase palacianas e ainda, a luta e persistência do personagem principal, o jovem oficial Tenente Carlos Montanha em levar avante os seus objetivos de forma hercúlea, não esquecendo a sua natureza “naïve” de homem que vive e sofre de uma paixão intensa por uma mulher, Leonor, a filha do governador de Luanda.

Esta história apresenta-se como uma narrativa bem construída, com consistência histórica de descrição da época, articulando a veracidade histórica com a ficção no ano de 1894, uma trama que tem o seu ponto crucial “pathos” quando o personagem principal, o jovem Tenente Carlos Montanha é destacado para uma missão militar complexa em Angola e, embarca numa aventura que se vai cristalizar numa viagem inesquecível de barco, entre Lisboa e Luanda.

Nesta viagem, Carlos conhece a bela Leonor, filha do governador de Luanda que tinha delineado um destino e planos diferentes para o seu futuro.

Durante a viagem, Carlos é, subitamente, acometido por uma paixão avassaladora por Leonor, que também não esconde a mesma cumplicidade e correspondência de sentimentos.

É nesta base de um acaso do destino que, ambos vão desenvolver uma paixão e amor sem precedentes numa época conturbada de guerras, sem noção dos conflitos de interesses que vão ter que lutar contra para conseguirem viver este amor que não é perfeito, mas que lutará para ser de um tempo perfeito.

Esta história, embora seja uma experiência e vivência da época do século XIX, é muito atual e de contornos muito idênticos às histórias de amor do tempo presente e, por isso, o amor é um sentimento intemporal, imperfeito, para seres humanos imperfeitos e num tempo que julgamos ser perfeito.

Tiago Rebelo é um dos escritores mais proeminentes do seu tempo, com uma vasta obra literária sobejamente reconhecida. É, sem dúvida, exímio neste romance quando nos propõe esta viagem do destino, apresentando uma história ficcional empolgante desde o primeiro momento, com uma construção de personagens que nos fazem refletir entre o paradigma da vivência de um amor belo e inocente que pretende ser vitorioso e os obstáculos e conflitos de interesses que se cruzam trágica e inevitavelmente nesta trama.

Convido, assim, à leitura desta obra e a descobrirem o final desta história.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
Share this article
Shareable URL
Prev Post

O desolamento social

Next Post

Ataque ao mercado digital

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

Alice Merton

Os novos nómadas do mundo moderno são muitas vezes personificados pelos artistas, é um rótulo que lhes cai bem!…

Taxi Driver

A noite, uma noite profunda e imbuída de significados, sempre a escuridão que encobre as tristezas e as…