O circo

A origem do circo perde-se no tempo. Sabe-se que os antigos Chineses, Egípcios e Indianos já conheciam a arte e que a praticavam. Só com os Romanos, no século VI a.c., é criado o Circo Maximus para a sua prática. Tinha capacidade para cerca de 150 mil pessoas e nunca estava vazio A expressão “o povo quer é pão e circo” remonta a esta época.

O que é, então, o espectáculo que se desenrola no circo? Essencialmente era constituído por corridas de carruagens e lutas de gladiadores. A força bruta, de igual modo, a ser testada. Mais tarde aparecem aqueles que praticavam habilidades incomuns, como os engolidores de fogo.

O Circo Maximus sofreu um enorme incêndio e ficou totalmente destruído. O Coliseu de Roma foi construído em 40 a.c e é o edifício que conhecemos e identifica a cidade de Roma. Foi nesse mesmo local que as actividades circenses se tornaram mais diversificadas. Os artistas de rua eram convidados a participarem e viviam muito do improviso. Depois eram os saltimbancos que ganhavam destaque e desenvolveram as artes do malabarismo, da dança e do teatro, que tinha um público muito fiel.

O circo moderno nasce no século XVIII, em Inglaterra, num picadeiro circular, onde eram feitas as exibições equestres. Mais tarde surgem os palhaços e finalmente os acrobatas. Depois do picadeiro, a ideia circular manteve-se e os circos passaram a ser montados e desmontados. Aparece o Chapitô, a tenda vermelha que o identifica e chama a atenção.

Vulgarizou-se, esta arte, como actividade lúdica, que proporciona momentos de alegria e de descontracção, fazendo esquecer os momentos menos bons da vida e as desgraças que estes acarretam. Durante aquele tempo a cabeça areja, os olhos fixam-se nos artistas e tudo parece ter parado no tempo. O circo é mágico e permite sonhar, suster a respiração, roer as unhas e, no fim, quando tudo acaba bem, baixar os ombros.

Quando o trapezista está no alto, no arame e anda, delicada e lentamente, avança até ao outro lado, a respiração fica suspensa, os olhos estão todos focados e nada mais existe. É o oh! libertado quando completa o percurso. Depois o salto com outro, ou a sós, faz novamente tremer o corpo de quem vê. O coração bate descompassadamente e só respira quando se assegura que tudo correu bem. Então é o respirar profundo, o alívio e o fechar do medo.

E que dizer dos ilusionistas? Com simples objectos conseguem maravilhas tão grandes que deixam todos de boca aberta. Soltam as pombas, os coelhos, reviram as cabeças a todos  deixam o público atónico com as suas proezas. Como fazem eles aquilo? E os ventríloquos? Onde escondem a voz? Como é possível? Mais admiração.

Os palhaços tentam aliviar toda a carga pesada que possa existir, fazendo rir. Os que sabiam divertir eram os chamados palhaços pobres, que vestiam fatiotas coloridas e desproporcionadas, completamente exageradas, mas que lhes assentavam que nem uma luva. Tocavam instrumentos rudimentares, mas animavam. Algumas vezes a música era feita de modos inusitados e inovadores. Copos cheios com água, a várias alturas, o que resultava em sons curiosos e entusiasmantes. Cada copo tinha um som diferente e a melodia era sempre deliciosa.

Soltam-se as gargalhadas, as crianças divertem-se, os adultos assistem e a tenda vibra com tudo o que acontece no seu interior. Não deixam de ser saltimbancos, pessoas, famílias que andam de terra em terra, como acontecia durante a Idade Média. Contudo estes estão estruturados de modo mais elaborado. Na idade de ouro do circo, as companhias tinham professores que acompanhavam as crianças para não perderem os conhecimentos académicos.

Jacques Tati, mais conhecido como actor e realizador, mostra-nos no seu filme Parade, de 1974, como se podem as artes reunir para que o espectáculo funcione em pleno. Criando situações do dia a dia, como colocar em funcionamento o circo, os bastidores, os carpinteiros, os electricistas e toda a panóplia de trabalhadores, retrata com humor como tudo se processa.

São os próprios artistas que desenvolvem os trabalhos em tom engraçado, simples e despreocupado. Quem assiste acaba por participar activamente pois os intervenientes estão sentados ao lado de qualquer pessoa. São multifacetados e, parecendo desajeitados, conseguem arrancar gargalhadas fortes e sentidas.

Os números incluem tudo o que se pode esperar de um circo que tem como função divertir sem magoar. Existem números de mimos que prendem todos e que terminam com a explosão de risos intensos. Nada é descurado e o tempo voa, tal como quem se arrisca nas alturas para atravessar a nave. Aqui simplesmente é simulado.

O resultado final é hilariante e magnífico. Os rostos mostram que foram momentos muito agradáveis e que fica a vontade de mais e de voltar a um local onde a diversão é assegurada e certa. O importante é a imaginação e a capacidade de encontrar a beleza nos pequenos detalhes, no dia a dia, naquilo que nos passa despercebido. Olho clínico e certeiro.

Recordo uma lengalenga de infância: “O circo desceu à cidade num dia de grande calor, para mostrar ao público o rapaz do trapézio voador…” E a magia funcionava.

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