No início de cada ano, defino sempre objetivos e um dos meus objetivos para 2021 foi ler mais. Um enorme cliché, eu sei, mas acontece que no final de 2020, durante o habitual balanço de fim de ano, constatei que, mesmo com uma pandemia pelo meio e dias a fio em casa, o que li ficou francamente aquém do aceitável, tanto em quantidade como em qualidade.
Sempre fui uma verdadeira devoradora de livros, mas a verdade é que nos últimos anos, pelos mais variados motivos, acabei por abdicar desse prazer por umas horas vazias de scroll no feed do Instagram ou a correr séries na Netflix.
Por falta de tempo ou simples preguiça, deixei os livros um pouco de parte. Os livros que sempre foram para mim como uma espécie de portal mágico para outras épocas, outras realidades, um acesso privilegiado a mentes especiais e a novas formas de viver e pensar o mundo. Lembro-me do primeiro livro que recebi e da desilusão de pensar: “Como assim um livro?!” Que errada que estava e que mundos se abriram!
Voltando a 2021.
Decidi aventurar-me nuns três a quatro livros por mês! A loucura. Uma meta verdadeiramente ambiciosa, estou ciente, mas, mais que a quantidade, decidi também ser mais critica e exigente a nível de qualidade. Decidi ir pelos técnicos, pelos históricos, pela ficção e, talvez, por algumas biografias. Contudo, durante estas primeiras escolhas, surgiu-me uma simples questão (ou nem por isso): existem livros bons e livros maus?
Parei por momentos na questão. E a verdade é que acredito que a resposta esteja no… sim, mas depende. Claro que existem livros muitíssimo bem escritos, com reviravoltas impossíveis de prever e de escritores fenomenais, mas a nossa perceção geral do livro acredito que dependa. E depende primeiro que tudo do gosto pessoal e do quão exigente és com tudo aquilo que consomes. Depende também do estado de espírito, do momento, do tema e, talvez, da expectativa em torno do livro.
Já li grandes obras-primas da literatura que foram um verdadeiro sacrifício de leitura, como já li outras obras, sem grandes expectativas, e que foram verdadeiros life-changing.
Acredito que deva essencialmente depender daquilo que retemos do livro. Das gavetas que abre em nós, das novas perspetivas e dos caminhos que nos mostra, dos assuntos que de outra forma, nos seriam totalmente desconhecidos.
Se conseguirmos reter uma ideia, compreender uma realidade sob outro olhar ou coçar a cabeça e pensar: “Olha. Interessante”, já valeu a pena. E vale quase sempre a pena!
Os livros são ferramentas poderosas. Basta analisarmos a história e percebermos quantos foram perseguidos e proibidos (ou ainda o são). Foram as armas de importantes combates, são os veículos da memória. Para mim, há livros que me fazem sonhar e há outros que me ajudam a construir o sonho. Qualquer um deles, é um excelente livro!