“O que se passou em Dublin, fica em Dublin”, diríamos mais tarde ao recordar a viagem onde finalmente “conheci” os trainees do meu ano de entrada na empresa.
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Ao fim de quatro anos, combinámos ir ter com o David – expatriado – a Dublin. Eu mal os conhecia e nos quatro ou cinco meses que se intrometeram entre o momento em que decidimos ir e a viagem, encontramo-nos três ou quatro vezes. Foi no 1º de Dezembro de 2011, ampliado pelo fim-de-semana, que acampámos os sete no T1 do David. O soalho de madeira do chão da sala que me serviu de colchão no primeiro sono (ou na falta dele) levou-me, nas noites seguintes, a dormir com o Alexandre no sofá-cama, bem fofinho por sinal (o sofá; não o Alexandre…), passando simpaticamente o David para o tapete de madeira. As meninas… essas dormiram que nem umas princesas: até tinham colchão!
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A Margarida agradeceu a hospitalidade do nosso anfitrião qualificando-o de “calão”: o rapaz havia cometido o crime de comer uma banana e como todos sabemos, uma banana não dá trabalho nenhum a descascar. É mesmo “à homem”, completou ela. David, para a próxima já sabes: descascar à mão, só ananás… à “homem”!
Dublin pareceu-me uma cidade mais apropriada para viver do que para visitar: estilo de vida britânico; a simpatia das pessoas a passear pelas ruas, mesmo com tempo cinzento; um respeito pela tradição que me traz sempre um sentimento ambivalente e a loucura dos pubs: recordo Temple Bar ou o Cafe en Seine como o palco de saída nocturna que me apraz (a noite em Dublin começa às 22:00 e termina pela 1:00 ou 2:00!… neste aspecto, vivo no país errado.)
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Pela importância histórica e (sobretudo, embora não o devesse confessar) por ter sido o cenário de Em Nome do Pai, a prisão de Kilmainham Gaol era aquela visita que eu não queria perder. E como valeu a pena! O Guinness Storehouse (onde fomos) e a destilaria da Jameson (onde não fomos) eram para mim lugares dispensáveis ou não detestasse eu cerveja e whisky. A Calçada de Gigantes, na Irlanda do Norte, lugar fantástico onde o David mandou um tralho para a História, foi uma odisseia e tanto, a começar pelo aluguer do carro, com a desfaçatez com que fomos roubados logo ao balcão, qual instituição bancária: extra para o seguro, extra para segundo condutor, extra por passar a fronteira! Num carro de sete lugares; ficou quase pelo dobro do valor que eu tinha reservado na net! Por sugestão da Maria João, fomos à destilaria de Bushmills que, estando fechada devido à “quase neve” que atrapalhava mais do que caía, não nos foi permitido visitar, tendo-nos sido oferecido um copo de whisky XX anos vintage-old-gold-blended super premium: uma merda.
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A partir daí passeamo-nos por Dublin “à mitra”:
– Catedral? Paga-se? Então espreitamos da entrada e está visto!;
– Numa cafetaria à hora do fecho: a empregada dá-nos a escolher os últimos bolos à borla… e às escondidas! Durante a nossa indecisão perante a fartura, chega o chefe… toca de lançar a mão a tantos bolos quantos conseguíssemos apanhar!
Diz a Rita a dada altura: ainda vamos regressar mais ricos do que quando chegámos.
O que retive de Dublin além destas peripécias?
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Uma cidade onde se sente Joyce, Wilde e Shaw, onde a O’Connell Bridge sobre o Liffey possui a particularidade de ser mais larga do que comprida, onde o Trinity College nos manda aquele bafio a Clube dos Poetas Mortos com cabeças de rainhas decapitadas pelo meio e onde as ruas, as pessoas e tudo o que ali se respira convidam mais a “experimentar viver” do que a fingir dar testemunho de uma espectacularidade que Dublin (para mim) não tem. Contudo, não será esta familiaridade qualquer coisa de fantástico numa cidade em pleno século XXI?