Love Actually (2003) – Crítica

It’s my favorite time of day, driving you. – Jamie

É a parte mais triste do meu dia, deixar-te – Aurora

Oito casais e a forma como cada um passa o Natal, descobrindo o verdadeiro significado do amor, é a premissa deste filme de 2003. Love Actually é um grande clássico tanto no género “comédia romântica”, como no género “filme de Natal” e, em grande parte, isso deve-se ao enorme elenco de estrelas que compõe cada história.

Apesar de não ser uma das minhas comédias românticas favoritas, nem um dos meus filmes de Natal favoritos, consigo apreciar este filme de forma positiva, porque é competente em várias áreas e consegue de uma forma muito natural juntar cada história, através de relações familiares, de amizade ou simplesmente de trabalho. No entanto, sinto que a história se perde com o excesso de premissas que tenta criar, quando, na verdade, são poucas as histórias que efetivamente têm um percurso normal e um desfecho.

* CUIDADO COM SPOILERS *

Ou seja, as únicas histórias com um principio, meio e fim coesos são a do primeiro ministro David (Hugh Grant) com a secretária Natalie (Martine McCutcheon) e a do escritor Jamie (Colin Firth) com a ajudante Aurélia (Lúcia Moniz). Também a história do pequeno Sam (Thomas Sangster) ter uma paixoneta e necessitar da ajuda do pai Daniel (Liam Neeson) e a de Billy (Bill Nighy), o cantor que quer ter o single número 1 de Natal, foram bem construídas. As restantes, infelizmente, não conseguiram contar uma narrativa com uma conclusão.

Entre as piores temos o núcleo de Sarah (Laura Linney) e Karl (Rodrigo Santoro). Neste núcleo do filme, a história anda em torno do facto de serem colegas de escritório e ela ter sempre gostado dele, mas nunca lhe ter dito nada. Após ele confessar que gosta dela, acabam por ter uma noite juntos, mas são interrompidos a meio e nunca mais ouvimos falar deles, durante o resto do filme. A história é completamente abandonada sem qualquer sensação de conclusão.

Outra história desperdiçada é a de Mark (Andrew Lincoln) que está apaixonado por Julia (Keira Knightley), que se casou com o seu melhor amigo. Aqui a premissa é interessante, porque cria a dúvida de como tudo irá acabar, mas, infelizmente, não é dada qualquer resolução. Aliás, até ficou a parecer de certa forma que aquilo se tornaria numa relação extraconjugal permanente e paralela ao casamento de Julia.

A história de John (Martin Freeman) e Judy (Joanna Page), que se conhecem como duplos de cenas eróticas num filme foi engraçada, mas acabou por não ter muito conteúdo e, mais uma vez, não teve um “final”. A de Colin (Kris Marshall), que decide ir para a América para engatar raparigas, também foi muito desaproveitada e abandonada ainda antes do final.

Por fim, a história de  Harry (Alan Rickman), que é casado com Karen (Emma Thompson) e sente uma grande atração pela sua secretária Mia (Heike Makatsch), proporcionou cenas engraçadas, mas, no seu todo, pareceu vazia e teve uma resolução sem qualquer impacto. Para além disso, não se soube aproveitar o talento de Alan Rickman e de Emma Thompson. Seria de se esperar que houvesse um pouco mais de cuidado no material que lhes foi dado, até porque Karen acaba por ser apenas uma “ligação” para as histórias do primeiro ministro (seu irmão) e do pai de Sam (seu amigo).

Acredito que, se tivessem ficado apenas as quatro histórias que mencionei acima, o filme poderia ter tido mais foco e mais espaço para respirar. Assim, o filme parece que está sempre a saltar de história em história, deixando umas por acabar e outras sem uma conclusão clara. Isto é o resultado de tentar colocar demasiadas histórias num filme que tem pouco mais de duas horas e esperando que, no final, uma cena no aeroporto com todos e com uma música de esperança embrulhe tudo. O que, para mim, não resultou muito bem, apesar de, ainda assim, ser um bom esforço.

Nota: este artigo está escrito com o atual Acordo Ortográfico
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