Muse. Mais do que uma banda, uma Teoria.

There´s nowhere left to hide. Our wrongs remain enrectified and our souls won´t be exhumed.

A ruptura. O tempo a escassear rapidamente. A escuridão que pode levar ao Apocalipse. A necessidade de sermos absolvidos. Atrevo-me a emergir num universo intenso e arrepiante, inspirador e extraordinário. Um universo que nada menos é do que aquele em que nos encontramos.

Não vou sozinha. Deixo-me levar pela procura incessante de respostas para questões assustadoramente actuais. Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard utilizam a música como forma de questionarem tudo aquilo que (n)os rodeia. Sobre o nosso lugar neste imenso universo, por vezes demasiado complexo e, por isso, pouco esmiuçado pela maioria.

Em Absolution, o 3º album lançado pelos Muse, toda a construção lírica e musical gira em torno de uma história de amor entre a humanidade e o planeta que culmina num pedido de perdão, enfatizando a ideia de que todos nós somos imperfeitamente iguais.

Reforçam que o tempo está a fugir, a acabar. E questionam: “How did it come to this?

No entanto recuemos um pouco. Recuemos até ao ano de 1999, altura em que os Muse lançaram o primeiro álbum, o Showbizz. Uma composição francamente ligada aos Radiohead uma vez que a produtora foi a mesma. Afirmo ainda que os Muse foram associados a vários grupos ao longo da carreira. Ícones como os Queen, os Pink Floyd e os Nirvana, mas também foi isso que os tornou e torna tão únicos como banda: por se atreverem, nos dias de hoje, a experimentar novas abordagens. Nunca tiveram um estilo que os definisse completamente. Actualmente são considerados “peça única”, conseguem complementar as melhores referências musicais e dão concertos que deixam qualquer um de queixo caído.

Origin of Symmetry chega um pouco mais tarde. Conceptualmente muito forte, assenta numa teoria que explica que todo e qualquer corpo espelhado deve aparecer na sua forma original, tal qual foi concebido. “New Born” começa de forma lenta e vai sendo pautada por um crescendo arrebatador: a bateria, a guitarra, o ritmo inacreditavelmente rico que vai evoluindo ao longo da extraordinária melodia

Nada em Muse é ao acaso. Tudo o que por eles é feito tem uma intenção, uma mensagem transversal a vários temas que é transmitida de variadíssimas formas. A Semiótica nasce em tudo o que fazem: nas capas dos álbuns, na construção lírica e musical, na produção de espectáculos e até nas roupas que vestem para os concertos.

A emersão continua e, em 2006, surge Black Holes and Revelations. O maior aficionado deste grupo que conheço garante que a capa deste álbum é uma das mais geniais. Como o próprio nome indica, são feitas revelações relativamente a questões geopolíticas. O estilo que aqui é adaptado pouco ou nada tem a ver com os anteriores. Em “City of Delusion” é clara uma certa influência espanhola.

A escuridão, o buraco negro em que a humanidade vive permanentemente e a necessidade de adoptar uma postura crítica face ao que vai acontecendo à nossa volta é, uma vez mais mas de uma outra forma, explorado pelos Muse ao longo de toda a composição musical deste álbum. A crítica, o medo, a realidade.

Envoltos ainda numa espécie de nuvem negra ainda que avistando uma luz pouco intensa ao fundo de um túnel, surge The Resistance. Este foi um álbum totalmente editado por eles num momento em que se descolaram da produtora dos Radiohead. Uma verdadeira ode ao romance 1984 de George Orwell, explora a opressão exercida pela igreja ao ser humano. É-nos aqui contada uma história, história essa para a qual o vitral de uma igreja serve de palco. No centro desse vitral está a terra e, no interior, uma ponte partida com um senhor extático. A opressão matou a terra. A ponte está a quebrar, assim comos os limites da humanidade.

A união dos Estado é celebrada em “United States of Eurasia+ Collateral Damage

Uma vez mais, nada é ao acaso. A união é posta em causa, contestada até ao momento em que entra uma orquestra de Chopin “Nocturn” que aparece como representação do(s) dano(s) colateral que advém dessa mesma união entre os Estados. É claro aqui que os Muse acompanham e fazem-no bem. O dano colateral a que se referiram está a verificar-se neste momento. Começa a ouvir-se um soundbite de caças a voar e crianças a chorar. O refrão não é cantado. A construção musical sugere, através da bateria, o poder militar europeu (mais concretamente da Alemanha), de forma muito ritmada. Acompanhada por todo o lirismo interpretado pelo violino, alusivo ao Médio Oriente.

The Resistance é um álbum denso, um álbum de culto e, citando uma pessoa que acompanha fervorosamente o percurso deles, “uma verdadeira masterpiece”. Acaba com uma sinfonia que levou doze anos a ser construída por Matt Bellamy.

Our lips must always be sealed. We must run! Take us away from here. Protect us from further harm. Love is our Resistance.

Começa a ser bem mais clara a luz outrora pouco intensa. Vem iluminar a escuridão em que nos encontramos. É o 2nd Law, que encara a ciência como uma forma de responder aos limites da humanidade, a (nossa) salvação possível. “I have finally seen the light” em “Madness”, uma construção que tendo alguns apontamentos de estúdio, tem como base a interpretação orgânica da banda (guitarra, bateria, baixo e orquestra). Destacam a entropia, ideia de que o crescimento infinito é impossível.

Ora em Muse, tem-se verificado um crescimento que não sendo infinito, é incrivelmente inspirador. São apenas 3, considerados Best Live Act de Rock e contam com aquele que é considerado o melhor guitarrista dos  anos 2000 e o vocalista com maior alcance vocal, Matt Bellamy. O melhor solo baixista é também deste grupo na música “Hysteria”, tocado por Christopher Wolstenholme.

A montanha-russa que vai deambulando entre a Escuridão e a Luz, o Apocalipse e a Salvação, a Paz e a Guerra culmina com Drones. Composto por verdadeiros hinos de intervenção, a “Psycho” é um verdadeiro exemplo disso mesmo. Assombrosamente reveladora, é uma canção que reforça a ideia de que o que vai acontecendo no mundo em que vivemos é cada vez mais assustador.

Come to me now. I could use someone like you. Ask no questions. I gotta make you a fucking Pscycho!

Vamos ouvir. Ouvir e reflectir. Cada música dos Muse quer transmitir-nos uma mensagem. Estejamos atentos. Uma coisa é certa, não vou sozinha nesta viagem e estou longe de a terminar.

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