Enchia o écran. Figura muito simpática, soube sempre estar. De sorriso aberto e radical, entrava nas nossas casas com o seu peculiar jeito de falar. Simples. Comunicadora nata e frontal, para não ter uma vida oca, conforme as suas palavras, seguia os seus instintos e gostos. Tudo parecia correr bem até ao dia em que encetou uma luta contra um inimigo equipado de inúmeras artimanhas e armadilhas.
Nascida em 1974, na Guiné-Bissau, em tempo de guerra e de incertezas, veio para Portugal com apenas cinco anos. A ideia final seria ir estudar para Paris, o que não se concretizou. Queria estudar moda e Paris, a cidade onde tudo acontece, seria a escolha perfeita. Entre o querer e o fazer vai um caminho longo que pode ser preenchido com novas paixões.
Conhece, desde cedo, o medo e os horrores que a guerra pode gerar, pois na terra onde abriu os olhos, a luta armada era corrente. Contudo isso não a impediu de exibir, com despudor, o seu belo sorriso gigante. Elegante e acutilante, nunca vacilou nas suas escolhas, que resultaram em sucessos garantidos. Quem não a conhece?
Fez um pouco de tudo. Vendeu sandes, numa casa especializada, trabalhou num cabeleireiro, vendeu roupa e foi porteira em casas que já não existem. A boémia ainda tem espaço, mas a sociedade, nem sempre de acordo com essa postura, vai encerrando alguns espaços míticos. A sua presença não passava despercebida.
Chega à televisão por mérito e valor. Foi subindo a pulso sem se esquecer das suas raízes e dos seus valores. O programa Tesouras e Tesouros, deu-lhe uma enorme visibilidade. Passadeira Vermelha foi uma alegre companhia das noites. Antes destes, tinha estado ligada a agulhas e dedais, lidando com estilistas e modistas, um prazer acrescido. A moda era a sua paixão.
José Maria é o seu rebento, um menino ainda, que fica sem a sua tão poderosa mãe. Um menino que foi resguardado dos holofotes, para que tivesse uma vida normal e que se espera continue a ter. A dor da sua ausência será, com toda a certeza, uma constante, mas terá quem lhe dê a mão, além do pai.
Há muito que queria escrever sobre esta mulher furacão, a lufada de ar fresco que me fazia rir com muita naturalidade. Não por este tão triste motivo, a sua inesperada e precoce morte, mas sim pela pujança e vivacidade que sabia transmitir com muita classe. De palavra certa e ajustada, fez escola que terá, com toda a certeza, continuidade.
O cancro é uma doença muito democrática. Não faz qualquer tipo de distinção. Escolhe quem lhe apetece e leva, para sempre, quem se ama deixando, em seu lugar, um vazio que nunca será preenchido. Confesso que a tive sempre em grande estima. Tem agora umas asas leves e fofas que a conduzem a outras paragens.
Lutadora feroz e determinada, nunca vacilou e mostrou de que garra era feita. Desistir não constava do seu vocabulário. Deu luta, mas nem sempre as guerras conseguem ser ganhas de forma justa. A sua marca é indelével. Espero que a sua família saiba encontrar o conforto que precisa.
Para a Mariama que era luz intensa e dotada de um sentido de humor extraordinário, vai a melhor das classificações que atribuía aos seus visados: Paw! Paw! Paw!
Pois é… Não conheci pessoalmente e, como infelizmente não tenho todo o tempo que gostaria para seguir a actualidade mediática também não conhecia “impessoalmente” ou seja, daquela forma que conhecemos pessoas mediáticas, a Mariama.,,, Todavia, passei do pretérito perfeito para o pretérito imperfeito na mesma frase porque foi o que este elogio me causou… uma imperfeição no meu desconhecimento da Mariama. Parece-me que agora a conheço um pouco mais.. porque sinto.. E é o que o texto do Renato me causou: sentimento. Os meus sentimentos; Por alguém que me foi desconhecida mas, pela empatia de também eu ter vivido em África e conhecer de perto as lutas do emigrante, e as palavras do autor que a conheceu, passou também o sentimento e a amizade a ser parte do meu eu.
Ui! Estou a chorar! Tão boa, Mariama!